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Fale Comigo

por Luciana Saddi

Perfil Luciana Saddi é psicanalista e escritora

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Privação e compulsão

Por Luciana Saddi
04/10/13 09:23

A mentalidade de dieta perturba os sinais vitais da alimentação – pessoas submetidas cronicamente a dietas costumam não saber se sentem fome e não reconhecem o sinal de saciedade. Alimentam-se rapidamente, procuram ingerir os alimentos “proibidos” em grandes porções, pois nunca saberão quando poderão usufruir desse prazer novamente. São como condenados a morte diante de sua última refeição. É que estão submetidos à privação de prazer e à privação calórica (real ou fantasiosa), o que os torna propensos ao distúrbio compulsivo de alimentação. Onde há privação, haverá compulsão.

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O DESENVOLVIMENTO HUMANO - FÓRUM INTERDISCIPLINAR

Por Luciana Saddi
04/10/13 09:11

O estudo do desenvolvimento humano constitui uma área de conhecimento da Psicologia que pretende compreender o homem em vários aspectos (infantil, psíquico, sexual, cognitivo, emocional, motor etc) e ao longo da vida, desde o nascimento até a morte.

Várias teorias surgiram, conforme observamos a linha evolutiva da Psicologia, teorias que procuraram reconstituir, a partir de diferentes metodologias, as condições de produção das representações de homem e de mundo, bem como suas vinculações com os momentos históricos da sociedade e da produção de conhecimento. A Psicanálise também participa dessa empreitada e tem contribuições fundamentais a respeito do desenvolvimento infantil. Vamos conversar com Vera Regina Fonseca*, organizadora do Fórum Interdisciplinar – O desenvolvimento humano.

Luciana: Como surgiu a ideia desse Fórum Interdisciplinar?

Vera: Quando lemos artigos ou vamos a reuniões científicas e congressos de áreas vizinhas da psicanálise, como a psicologia do desenvolvimento, etologia e neurobiologia, logo fica evidente a necessidade de nos sentarmos à mesma mesa para discutirmos e compararmos nossas ideias sobre temas básicos, como por exemplo, a natureza humana e o desenvolvimento. Foi desta constatação que nasceu o projeto do fórum.

Luciana: Quais os objetivos desse tipo de Encontro Científico?

Vera: O objetivo é oferecer aos interessados uma oportunidade de refletir sobre as várias formas de se abordar o desenvolvimento e a possibilidade de integração de tais perspectivas. Equivale a ver uma paisagem sob diferentes ângulos, cada qual salientando um aspecto particular.

Luciana: Quais as disciplinas que estarão presentes no Fórum e por quê?

Vera: Além da própria psicanálise, com algumas de suas linhas teóricas, teremos:

  • a etologia – o estudo do comportamento animal (incluindo o “animal humano”) sob o vértice de suas origens evolutivas e funções,
  • a psicologia social e cultural, que estuda a diversidade de linhas de desenvolvimento de acordo com o contexto cultural e
  • a neurobiologia, que destacará os aspectos do desenvolvimento das funções cerebrais superiores, e a mútua influência dos fatores genéticos e ambientais no seu desenvolvimento.

Poderíamos agregar várias outras perspectivas, mas começaremos com as que listei acima por apresentarem um potencial de articulação que, a meu ver, ainda não foi suficientemente aproveitado.

Luciana: No artigo, A biologia e o futuro, Kandel (neurocientista e prêmio Nobel) afirma que as neurociências confirmam as descobertas da psicanálise, mas lamenta que essa tenha perdido seu poder criativo, por não ter desenvolvido “métodos objetivos de experimentação das ideias brilhantes que formulou”, ainda nesse mesmo artigo ele afirma que a força heurística da psicanálise se concentra, nos dias de hoje, nas descobertas advindas da psicanálise de crianças, o que você pensa disso?

Vera: Talvez não seja pela criação de métodos objetivos que faremos a diferença, mas pela troca mútua de informações com os colegas de áreas vizinhas, troca esta que possibilitará a construção criativa de novas ideias. Mas, sem dúvida, o estudo do desenvolvimento infantil como é propiciado pela observação de bebês e pela análise de crianças, já é uma fonte de ricos insights sobre a gênese e funcionamento da mente humana.

Luciana: Como as pesquisas a respeito do desenvolvimento da criança podem iluminar a clínica e teoria psicanalíticas e serem, por sua vez, iluminadas por elas?

Vera: Não acho que irá ocorrer uma “iluminação” direta e imediata, mas sim um processo de ampliação de horizontes para as várias áreas envolvidas, caso se disponham a um diálogo regular e respeitoso. Na conferência de encerramento do Fórum, Judy Shuttleworth, da clínica Tavistock de Londres, irá falar exatamente sobre as mútuas contribuições interdisciplinares das últimas décadas.

Luciana: A quem se destina o Fórum?

A todos os profissionais que se interessarem pelo conhecimento ampliado do desenvolvimento psíquico da criança.

*VERA REGINA J.R.M.FONSECA é Psicanalista, Analista Didata e Diretora científica da SBPSP, Psiquiatra e Doutora e pós-doutora pelo Departamento de Psicologia Experimental do IPUSP.

 

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Homenagem à primavera, desviando de sua obviedade

Por Luciana Saddi
03/10/13 09:44

Essa homenagem à primavera – desviando de sua obviedade – é um presente de Ana Tanis (curadora de poesia do Fale Comigo) para nós.

 

INSCRIÇÃO

Esta primavera

não é flor que se cheire.

 

FLOR DA TARDE

Me dizia que em seus extremos se tocam

 

a desgraça e a felicidade

me beijava e nos matávamos

pela metade.

 

Francisco Alvim e Eudoro Augusto, In.: Dia sim dia não, 1978

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Psicanálise e Educação

Por Luciana Saddi
02/10/13 08:02

Diante das demandas de performance, das sofisticadas tecnologias de comunicação e da rapidez com que os estímulos se apresentam, como o indivíduo pode se apropriar de sua experiência? Como transformar o excesso de estímulos em vivências significativas e plenas de sentido?

A III Jornada de Psicanálise e Educação: O tempo e o sujeito da experiência na era dos excessos busca maior compreensão a respeito de como somos impactados pelo excesso em suas diversas manifestações e pretende refletir sobre as formas de lidar com os desafios do mundo contemporâneo.

Um vídeo do educador, Ken Robinson, acompanhado por comentários de Heloisa Gurgel Rosenfeld, Membro filiado do Instituto da SBPSP, abrem a III Jornada. Vamos conversar com a psicanalista, Heloisa Helena Sitrângulo Ditolvo, uma das organizadoras do evento.

Luciana: Como surgiu o tema da Jornada?

Heloisa: Surgiu no primeiro encontro do grupo que organiza a III Jornada Conversamos a respeito do livro do Tales Ab’Saber, “A música do tempo infinito”, onde fala de um tempo infinito que nunca se esgota. Ele se referia a uma danceteria na Alemanha onde a balada pulsava quase que diariamente, entorpecendo seu público. Ele diz “ É uma festa intensa, que deseja não terminar jamais”. A partir daí, numa rede associativa, foi surgindo a questão da aceleração do tempo, a dificuldade de elaboração num tempo tão acelerado e a questão do excesso. O excesso de estímulos, o excesso de demandas, o empobrecimento psíquico cada vez mais observado nos consultórios, as patologias do vazio, o sofrimento precoce de nossas crianças e jovens com o paradoxo entre o idealizado e as reais insuficiências.

Luciana: Qual a relação entre psicanálise e educação?

Heloisa: Quanto a relação da Psicanálise e Educação, antes de mais nada,  são duas profissões impossíveis. E, como bem coloca a filósofa Olgária Matos na entrevista para a Revista Brasileira de Psicanálise, tanto uma como outra são esperanças de transformações possíveis para o ser humano. Ela nos diz que ser professor não é uma profissão, é uma vocação.  Podemos dizer o mesmo dos profissionais da psique. Ambos estão em busca do desenvolvimento. O conhecimento demanda profundidade, apego, vínculo, desejo e livre pensar. A psicanálise e a educação são facilitadores na formação de um campo fértil, que aproxime o sujeito do ato criativo. Ambas estão comprometidas na construção de lugares produtores de sentido, de narrativas e em última análise, na construção do humano.

Luciana: Qual a contribuição da Psicanálise para o tratamento dos problemas de aprendizagem?

Heloisa: Muitos problemas de aprendizagem estão calcados em questões emocionais e a medida que o trabalho analítico avança, muitas vezes, a criança ou mesmo o adolescente – estando mais livre – torna-se mais criativo e até mais “inteligente”.

Naturalmente somos curiosos, temos um impulso pela busca de conhecimento, porém o não saber nos coloca no terreno do estranho, do desconhecido. É preciso tolerar o desconforto, certa angústia e sustentar-se num tempo particular necessário, para que haja uma experiência carregada de significado e de sentido. O que era desprazer se transforma em prazer. O conhecimento é muito prazeroso e nos lança novamente em direção ao desconhecido, em busca da próxima descoberta. O aprender desperta ainda mais a curiosidade.

Quando esse processo é truncado por qualquer fator psíquico ou ambiental, a criança e o jovem acabam criando mecanismos defensivos que não permitem o desenvolvimento natural de suas potencialidades. Evitam o confronto e, por vezes, se alienam de si mesmos.

O que era satisfação passa a ser traumático, no sentido da repetição de algo que está aquém do aparato psíquico da criança ou do jovem.

Luciana: Qual a diferença entre atender as demandas de performance, numa sociedade baseada na informação, e a apropriação da experiência?

Heloisa: Em nossas discussões sobre a apropriação da experiência  falamos a respeito do tempo como um fator que promove a incorporação; é quando a educação e a psicanálise de novo se imbricam, pois o tempo é fundamental para que as informações sejam “deglutidas”, elaboradas para se transformarem em experiência . Discutimos também como o excesso de informação  torna o conteúdo superficial e fragmentado.

Sofremos a demanda de produção cada vez mais acelerada, temos que atingir metas e superá-las o que nos condena à vivências de permanente impotência e insuficiência. E assim nos distanciamos cada vez mais das metáforas, do simbólico e das fantasias, ou seja, da nossa própria natureza.

O sujeito da experiência é aquele que está aberto à sua própria transformação, com nos fala Jorge Bondia. Mas não conseguimos nos apropriar da nossa vida, num fluxo contínuo, sem pausa.

Luciana: Como transformar o excesso de estímulos em vivências significativas e plenas de sentido? E qual destino dar a essas vivências?

Heloisa: A mente humana tem seus limites. Quando há um excesso de estímulos,  existe um quantum que não estava sendo esperado ou que, no caso da mente, ela não está preparada para receber. No desenvolvimento normal, a mente cria , como Freud diz, um “escudo protetor contra as excitações vindas de fora” , defendendo-a da angústia. Penso que a ideia de transformar o excesso de angústia liga-se a ideia de proteção, a psicanálise, nesse sentido pode ajudar a elaborar e construir possibilidades internas de lidar com o excesso de estímulos. Da experiência bruta, que não pode ser temporalizada, criar recursos mentais internos para a temporalidade, historicidade, onde, a experiência gera sentido, possa alimentar e não ser fonte de angústia.

Luciana: Por quê a escola parece estar cada vez mais distante do aluno?

Heloisa: Não será porque ainda oferece um modelo que, por vezes, não faz uso do potencial inovador que existe nas novas  gerações e como diz o educador britânico, Ken Robinson, massifica e tenta criar alunos em série, padronizados. Aqueles se agitam, são medicados cada vez mais e acalmados em suas tensões. Mas como pode haver criação sem tensão?

E como pode haver interesse numa estrutura antiga, que apesar de todos os avanços sociais, culturais, e tecnológicos, ainda não se aculturou e mantém as exatas formatações de classe e de séries. Com passividade, repetições, ausência de críticas e pouca criação de conteúdo.

As escolas poderiam ou deveriam  produzir um espaço democrático, ético e respeitoso. Como diz Rubem Alves, “A semente do pensamento é o sonho”.

Luciana: O que é vanguarda na área de ensino hoje?

Heloisa: Educação de vanguarda é o que o educador José Pacheco vai nos apresentar com sua experiência como idealizador da Escola da Ponte, uma referência mundial na área da Educação. Rubem Alves conta que quando foi a Portugal conhecer a Escola, uma aluna de 11 anos foi quem o acompanhou nesta visitação, fato que o deixou encantado e surpreso. Essa menina estava apta a falar de sua escola, era dela, havia um comprometimento e um vínculo profundo com aquele espaço acolhedor e de respeito. Ela conhecia a escola. Não será esse o prazer do conhecimento, do saber?

A relação profunda do professor e aluno numa vivência comum de descoberta, de confiança, de troca e de busca de sentido. Só podemos dizer que conhecemos algo,  quando somos tocados afetivamente.  Quando nos comprometemos e investimos. Quando podemos sonhar e criar os objetos.

Luciana: A quem se destina essa jornada?

Heloisa: Essa jornada se destina a psicanalistas, psicólogos, educadores, filósofos, profissionais da saúde, estudantes universitários dessas áreas e profissionais da rede pública de ensino. E também para quem se dispõem a participar de um diálogo sobre questões como: o excesso de estimulação; a relação das novas tecnologias com a formação da subjetividade, o tempo e o ritmo; o prazer e as insuficiências.

Pretendemos criar um espaço que nos aproxime, que comporte um debate informal, livre e criativo. Somos agentes e reféns dos tempos modernos, somos pais, somos cidadãos.   Quem não se surpreende com os anos que passam cada vez mais acelerados, nos dando a impressão de que não os percebemos e quando nos damos conta, passou?

Onde: Av. Dr. Cardoso de Melo, 1450 – 9º andar

Quando: dia 5 de outubro próximo

Horário: a partir das 8:30 horas.

Inscrição: (11)2125.3777

Taxa:

Profissionais – R$ 100,00 

Estudantes – R$ 65,00

Profissionais da Rede Pública de Ensino – R$ 55,00

Serão apresentadas três mesas:

A primeira cujo título é A construção do simbólico e o excesso de informação, está composta pelo psicólogo e educador, Lino de Macedo, que há anos desenvolve  um brilhante trabalho na área da Educação tendo participado das concepções do ENEM, do novo currículo escolar da Escola Fundamental II e do Ensino Médio do Estado de São Paulo. Macedo interroga Onde e com quem estão conhecimento e saber, hoje?

A psicanalista da SBPSP, Leda Maria Condeço Barone, Doutora em Psicologia Escolar nos fala sobre o Excesso, trauma e simbolização. Leda tem seu percurso pautado pela interlocução da psicanálise com a educação. É professora de Pós-Graduação em Psicologia Educacional do Centro Universitário FIEO.

A segunda mesa, Mudança de paradigma e a constituição da subjetividade, conta com o educador José Francisco de Almeida Pacheco, criador e diretor por muitos anos da Escola da Ponte em Portugal, referência mundial de um conceito vanguardista de educação. Vai nos apresentar, Educação integral em comunidades de aprendizagem.

E Gina Khafif Levinzon, psicanalista da SBPSP, traz como tema a Educação, maturidade emocional e tempos atuais. Gina é professora do Curso de Especialização em Psicoterapia Psicanalítica na USP e tem no exercício da clínica psicanalítica um vasto campo de experiência e conhecimento do universo infantil.

A terceira mesa, O tempo e a fragmentação da experiência tem a Filósofa Olgária Matos que nos apresenta o Malestar na temporalidade e aceleração. Olgária é Professora Titular Livre-Docente do Departamento de Filosofia da USP e uma estudiosa do iluminismo e da escola de Frankfurt.

E Maria Bernadete Amêndola Contart de Assis, psicanalista da SBPSP, finaliza o evento com Ameaças à constituição da subjetividade. Bernadete é Doutora em Psicologia escolar e tem em sua trajetória profissional uma permanente aproximação com a educação.

Comissão Organizadora: Heloisa Helena Sitrângulo Ditolvo, Heloisa Gurgel Rosenfeld, Marina Kon Bilenky e Silvia Martinelli Deroualle.

Este evento faz parte da  Diretoria de Atendimento à Comunidade, cuja diretora é Regina Elisabeth Lordello Coimbra.

 

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O sentimento de culpa inconsciente

Por Luciana Saddi
01/10/13 09:42

É sabido que quando percebemos em nós impulsos de ódio contra quem amamos nos sentimos preocupados e cheios de culpa, mas, tendemos a deixar esses sentimentos de lado, pois causam dor e angústia.

Mesmo assim, de escanteio, esses sentimentos dolorosos continuam a se manifestar, aparecem de forma disfarçada, perturbando as relações pessoais, e muitas vezes são projetados nos outros.

Por exemplo: muitos de nós sofrem quando não recebem o apreço que esperavam. Isso acontece porque não se sentem dignos da atenção alheia – impressão de inferioridade confirmada pela possível frieza dos outros.

Alguns estão constantemente insatisfeitos com eles mesmos, sem nenhum dado objetivo que justifique essa insatisfação, não se sentem à vontade com a própria aparência nem com a qualidade de seu trabalho ou com suas habilidades de maneira geral. Acreditam que sempre estão devendo alguma coisa.

Sensações dessa natureza estão associadas ao sentimento de culpa inconsciente. O motivo pelo qual algumas pessoas exigem elogios e aprovação incessante é a necessidade de obter provas de que são dignas de amor. Esse sentimento surge do medo de ser incapaz de amar verdadeiramente. E se agrava quando falha o autocontrole sobre os impulsos de ódio. Pessoas assim temem ser um perigo para quem amam.

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Férias

Por Luciana Saddi
23/09/13 10:10

Caros leitores,

estou de férias de hoje, 23 de setembro, até 30 de setembro!

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O significado de ser atencioso com alguém

Por Luciana Saddi
20/09/13 09:22

Quando somos realmente atenciosos com alguém, nos colocamos em seu lugar. Ou seja, nos identificamos com a outra pessoa. Dessa capacidade de identificação nasce a condição básica para que o amor forte e profundo se desenvolva.

Colocar temporariamente os interesses e emoções do outro em primeiro lugar e deixar, temporariamente de lado, até mesmo sacrificar, os próprios sentimentos e desejos, ocorre se pudermos nos identificar com a pessoa amada. O amor é assim, atendemos o outro, antes mesmo de nos atender. E gostamos disso.

A identificação nos faz compartilhar da ajuda e da satisfação que oferecemos.  Assim, retomamos aquilo que de bom grado demos. Somos quem dá e quem recebe.

Ao sermos amorosos, recriamos e aproveitamos a bondade que tanto desejávamos para nós. Como num túnel do tempo, estando no presente alteramos as frustrações e sofrimentos passados e projetamos para o futuro as condições de reparação e cuidado que tanto nos apaziguam.

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Masturbação infantil

Por Luciana Saddi
19/09/13 09:55

Internauta: Adotamos há alguns meses um lindo menino de 3 anos, que desde o primeiro dia em casa se masturba excessivamente. Não sabemos se isso já acontecia no abrigo, onde viveu por mais de 2 anos, mas acreditamos que sim. 

No inicio pensamos que fosse por causa da idade, depois receamos que ele já estivesse sendo “sexualizado” no abrigo. Tentamos muitas técnicas, sem sucesso, para que ele desviasse a atenção do próprio pênis. A psicopedagoga da escola nos orientou a deixar as coisas acontecerem normalmente. Mas quando a professora nos informou que ele também se manipulava na escola, passamos a exagerar nos castigos verbais e na vigilância. Assim, os períodos de manipulação diminuíram muito. Depois relaxamos e a masturbação voltou com a mesma intensidade.

Sabemos que esta fase faz parte do desenvolvimento da sexualidade, que só devemos nos preocupar quando a masturbação ocupar a maior parte do tempo da criança e que as preocupações exageradas dos pais refletem os próprios preconceitos. Mesmo assim: qual o momento de agir, como agir? E como identificar os casos que merecem atenção?

Luciana: A masturbação compulsiva ultrapassa o conhecimento do próprio corpo e está além da experimentação conhecida para essa idade. Privação de investimento amoroso, falta de cuidados, pouca continência para a experiência emocional e desatenção com a lida diária podem levar muitas crianças a se masturbarem excessivamente. A excitação sexual funciona como antídoto para angústias muito poderosas de despedaçamento e ou abandono.

A vivência de desamparo do menino está no centro da questão e deve ser coisa antiga. É possível que ele esteja perturbado, sofrendo com a mudança e com os novos pais. Mesmo assim, é tudo novo para todos vocês e, portanto, assustador. Punir e vigiar, apenas aplaca as angústias emergentes. É preciso investigar e nomear os medos e fantasias envolvidos na situação de adoção.

Penso que seria importante tentar conversar com ele sobre a grande mudança de vida que está em curso. Receber mais uma orientação, mesmo que de um especialista, pode não trazer o beneficio que vocês almejam. No entanto, falar com um psicanalista infantil (algumas consultas) pode fazer enorme diferença na vida de todos. Muitas vezes é a melhor coisa a se fazer quando se trata de questões que ultrapassam a psicologia individual e envolvem toda a família, configurando dinâmicas cristalizadas de relacionamento.

 

É quase impossível conciliar as exigências do instinto sexual com as da civilização.

Sigmund Freud

 

Dica: Sexualidade Começa Na Infância, Organizado por Maria Cecilia Pereira da Silva. O livro trata de Características da sexualidade infantil e do desenvolvimento da curiosidade e da aprendizagem nos tempos atuais. Inclui temas difíceis, como: masturbação infantil, violência sexual, homossexualidade e sexualidade em crianças portadoras de deficiências ou soropositivas. A segunda parte é dedicada aos educadores infantis.

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Já tomou uma xícara de chá hoje?

Por Luciana Saddi
18/09/13 09:18

A Ana Tanis, que foi curadora de poesia desse blog, volta a colaborar conosco. Irá apresentar poemas para nós e tecer pequenos comentários. Vamos aproveitar o bom gosto poético dela!

Ana Tanis: Volto ao Fale comigo como volta a chuva para a cidade de São Paulo. Cheia de poesia. Trago também dois amigos silenciosos para aproveitar uma tarde chuvosa: o Leminski e o chá.

 

arte do chá

 

   ainda ontem
convidei um amigo
   para ficar em silêncio
comigo

   ele veio
meio a esmo
   praticamente não disse  nada
e ficou por isso mesmo

 

                   Paulo Leminski

( Poema publicado em Distraídos venceremos, em 1987)

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Convívio entre gerações

Por Luciana Saddi
17/09/13 09:20

“Como convivem jovens e velhos, crianças e adultos, pais e filhos, avós e netos? Os valores éticos dificultam ou colaboram para o estabelecimento das boas relações intergeracionais? Qual o futuro de tais relações?”. Essas perguntas foram respondidas no livro, Conflito e cooperação entre gerações, Edições Sesc SP, resultado de ampla pesquisa feita por José Carlos Ferrigno*, com o objetivo de fortalecer a relação intergeracional e contribuir para o desenvolvimento da sociabilidade, fortalecendo o convívio entre as diferentes faixas etárias pela superação das diferenças. Vamos conversar com José Carlos.

Luciana: Como se interessou pelo estudo das relações entre jovens e idosos?

José Carlos: Há cerca de 12 anos o relacionamento entre os educadores do SESC e seus alunos idosos me chamou a atenção. Percebi que se tratava de um rico relacionamento intergeracional. Da minha pesquisa de mestrado na Psicologia de USP resultou o programa SESC Gerações do qual fui coordenador até me aposentar pelo SESC. Dessa mesma pesquisa resultou meu primeiro livro “Coeducação entre Gerações” que já está em sua segunda edição. O novo livro “Conflito e Cooperação entre Gerações” é resultado da pesquisa de meu doutorado, também na Psicologia da USP.

Luciana: Como o jovem se percebe na relação com o idoso?

José Carlos: Uma expressiva parcela dos jovens tende a discriminar as pessoas mais velhas em decorrência da desvalorização do idoso que ainda está presente na sociedade brasileira. Por isso, os jovens não podem ser vistos com os únicos responsáveis pelo preconceito aos velhos, já que eles receberam essa herança de uma sociedade que cultua valores que produzem individualismo, consumismo, competição e violência. A boa notícia é que uma nova imagem de idoso, produto de uma nova postura da Terceira Idade, isto é, mais atuante e participativa, mais reivindicativa e mais cidadã, tem impactado positivamente os mais jovens. Nas oficinas culturais e nas atividades de lazer do SESC, por exemplo, pude constatar esse fenômeno, a partir dos depoimentos que fui recolhendo em todos esses anos de estudo. Posso dizer com convicção que essa nova imagem tem produzido até mesmo uma reação de admiração de certos idosos, por parte dos jovens que com eles convivem.

Luciana: E como o idoso se percebe na relação com o jovem?

José Carlos: Assim como há jovens que discriminam velhos, também há idosos que se mostram intolerantes com adolescentes e crianças. Pude observar e conversar com idosos de todos os tipos em relação à abertura para com a juventude. Conheci vários que buscam contato e que se dão muitíssimo bem com a moçada. 

Luciana: Quais os principais pontos de conflito entre esses grupos?

José Carlos: Há conflitos de diferentes naturezas. Antes de tudo é preciso ressaltar que é na família que ocorrem mais conflitos e conflitos mais intensos, geralmente por disputa de poder. Nas famílias autoritárias, a geração intermediária, a do pai e da mãe das crianças e adolescentes, além de oprimir a estes, também oprime os velhos da casa. Nesse contexto, há, por vezes, uma aproximação solidária entre avós e netos que se contrapõe à ditadura dos “donos da casa”. Os conflitos podem se dar também fora da família, nos espaços públicos, por exemplo no transporte público, na disputa por acentos. Em um nível da macroeconomia, especialistas apontam que tanto a atual distribuição de recursos públicos que beneficiam mais os idosos do que as crianças e adolescentes, quanto o impacto do déficit previdenciário poderão no futuro gerar conflitos de geração.

Luciana: E quais os pontos de cooperação?

José Carlos: Se é na família que ocorre a maior parte dos conflitos, é também nela que existem os mais expressivos esquemas de cooperação. Há idosos que com sua aposentadoria são provedores de seus familiares, outros idosos, ao contrário, são dependentes financeiramente de seus filhos. Como as relações comunitárias foram ao longo das décadas recentes se empobrecendo, a cooperação entre gerações fora da família quase não é vista. Por isso, desde os anos 90 vem ganhando força no Brasil e no Mundo a implantação de programas intergeracionais na área do lazer e do voluntariado para fortalecer os vínculos entre pessoas de diferentes faixas etárias. A ONU criou um novo slogan nessa perspectiva: “Uma Sociedade Para Todas as Idades”.

Luciana: Qual dos dois grupos é mais discriminado hoje?

José Carlos: Creio que ainda é o grupo dos velhos. Nossa sociedade é embalada pelo ideal de juventude, da beleza do corpo jovem, da força física do jovem. Há todo um jogo de sedução para o consumo de produtos que supostamente representam a juventude ou o rejuvenescimento. Há também o desprezo pelas tradições culturais nessa sociedade que produz o descartável. Por isso, nela o idoso nada tem a transmitir, é um sujeito fora de seu tempo, sem utilidade para o sistema. 

Luciana: É possível superar as desigualdades entre esses grupos? Ou sempre haverá um buraco negro entre as gerações?

José Carlos: A melhoria na qualidade das relações intergeracionais depende da construção de uma sociedade mais justa e solidária. Os programas intergeracionais, inseridos em comunidades onde se busca a cooperação, poderão se constituir em mais um elemento positivo nesse processo de aproximação etária. Por outro lado, sempre haverá um embate entre novas e velhas ideias. E isso é muito saudável. O conflito não é necessariamente negativo. Ao contrário, ela é a mola propulsora de mudanças sociais. O que é preciso é que ele seja superado pelo diálogo, pela negociação. Ao mesmo tempo em que precisamos da sabedoria dos velhos que nos transmitem os valores civilizatórios, necessitamos do jovem que é sempre uma promessa de aperfeiçoamento da condição humana. A construção do mundo, como dizia Hannah Arendt, depende das transmissões intergeracionais.

*mestre e psicólogo pela Universidade de São Paulo e especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria.

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