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por Luciana Saddi

Perfil Luciana Saddi é psicanalista e escritora

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A idealização

Por Luciana Saddi
21/10/13 09:20

A idealização é um processo psíquico que eleva em demasia as qualidades do outro ou valoriza excessivamente um conjunto de ideias e até uma instituição.  É comum haver uma identificação imediata entre quem valoriza e o que é valorizado. Ou seja, quando idealizamos algo ou alguém pegamos uma carona no sentimento de perfeição e nos sentimos um pouco perfeitos também.

O processo de idealização é herdeiro de um processo anterior, o narcisismo, quando toda a energia psíquica e todo o amor se concentram no próprio sujeito.

Na vida amorosa e no apaixonamento a idealização se faz presente de forma aguda, pois hipervalorizamos os destinatários de nossos mais elevados sentimentos e, frequentemente, não enxergamos seus defeitos ou faltas. Nossos amados começam perfeitos, mas podem cair do pedestal em pouco tempo, de acordo com as frustrações da expectativa de perfeição  que temos.

Mas não é somente na vida amorosa que a idealização se faz presente. Observamos seus traços  em inúmeras circunstancias como: na criação dos filhos, na expectativa de um líder carismático funcionando como um pai protetor e nos sentimentos e convicções religiosas.

No entanto há uma contrapartida um tanto funesta desse processo, a denegrição. Esta ocorre pela inversão total e completa das expectativas de perfeição. É quando o ente amado passa do status de grande salvador para o de um malfeitor perigoso. Torna-se odiado, seus defeitos são exagerados e suas qualidades obscurecidas. A diferença entre o melhor e o pior reside num simples sinal negativo. O sinal de menos colocado na frente do que foi engrandecido sem lastro, por pura necessidade narcísica de quem inflou algo ou alguém.

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O ônus e o bônus nossos de cada dia

Por Luciana Saddi
18/10/13 10:22

Ana Tanis*: “Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!” As coisas, que simplesmente existem, e nós, que não suportamos a falta de sentido.

 

Às vezes

Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta, 
Em que as cousas têm toda a realidade que podem ter, 
Pergunto a mim próprio devagar 
Por que sequer atribuo eu 
Beleza às cousas. 

Uma flor acaso tem beleza? 
Tem beleza acaso um fruto? 
Não: têm cor e forma 
E existência apenas. 
A beleza é o nome de qualquer cousa que não existe 
Que eu dou às cousas em troca do agrado que me dão. 
Não significa nada. 
Então por que digo eu das cousas: são belas? 

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver 
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens 
Perante as cousas, 
Perante as cousas que simplesmente existem. 

Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!

 

Alberto Caeiro

*Ana Tanis é psicologa, bacharel em letras e curadora de poesia do Fale Comigo.

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uma crônica de terror: na saúde e na doença

Por Luciana Saddi
17/10/13 09:06

mais uma crônica minha no site, Visionari:

http://visionari.com.br/atitude/cronicas/luciana-saddi/item/511-na-saude-e-na-doenca

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Anedotas do Isaías: Jacó e os casos de Sara

Por Luciana Saddi
16/10/13 09:30

 

J. B. de Souza Freitas nos brinda com essa piada de Isaías Melsohn, analista já falecido e pioneiro da psicanálise em São Paulo.

 

Num dominical e melancólico cair de tarde de fim de ano, sentados no terraço de seu belo e espaçoso apartamento no paulistano bairro de Higienópolis, Jacó e Sara conversam.

Esta, aquela e outras amenidades abordam, quando eis que Jacó entre sério e ansioso se põe.

    – Sarra – diz -, tamos velho. Travessamo um vida junto, daqui a pôco irremos, e tem um coisa que gostarria saber de você.

     – Coisa, Jacó? Coisa qué você sabê que Sarra non tenha já contado, que você já non saiba?

     – Coisa boba, Sarra, que Jacó nem brabo ficarrá. Afinar, tamos velho, no fim de vida.

     – Coisa é, Jacó? Coisa é que qué você saber?

     – Sarra: arguma veiz você traiu Jacó?

     – Jacó, que bestêrra! Magina coisa dessa!

     – Sarra, por favorr, tamos velho, no fim. Conta: arguma veiz você traiu Jacó?

     – Ah, Jacó! Párra cuisso!

     – Conta, Sarra. Nós velho, portância tem contá?

     – Jacó!

     – Sarra, Sarra!

     – Bom, Jacó, se você qué sabê, eu conta. Sarra traiu sim Jacó.

     – Traiu, Sarra?

     – Traiu, Jacó, traiu.

     – E quanta veiz, Sarra?

     – Tamém isso qué você sabê?

     – Sarra, tamos velho, portância tem isso agorra?

     – Jacó!

     – Quanta veiz, Sarra? Quanta veiz?

     – Que bestêrra, Jacó! Que bestêrra!

     – Quanta, Sarra, quanta veiz?

     – Bom, Jacó, se você qué sabê, duas, duas… non, non… trêis, trêis veiz.

     – Trêis, Sarra? Trêis veiz?

     – Trêis, Jacó. Trêis veiz. E só.

     – E a primêrra, Sarra, com quem foi?

     – Jacó, párra, vamo falá de otro coisa.

     – Conta, Sarra, que tem demais? Tamos velho, fim de vida, que passô, passô.

     – Bom, Jacó, primêrra veiz foi no Polônia.

     – Polônia, Sarra?

     – No Polônia sim, quano Jacó e Sarra querriam migrá Brasir.

     –  Isso, isso, Jacó lembra: migrá Brasir.

     – Uhm… uhm… e agénte migraçón non querrer concedê visto?

     – Isso, isso, lembra bem: agénte non querrer concedê visto. E muito Jacó tentô e pediu.

     – Pois é, Jacó, Sarra foi daí conversá com agénte.

     – Daí, Sarra?

     – Bom, Jacó, agénte erra moço, bonito. Sarra tamém moça, bonita. Daí conteceu. Conteceu, e visto saiu.

     – Visto saiu. Jacó lembra. Lembra bem. E segunda veiz, Sarra? Com quem foi segunda veiz?

     – Jacó, ma qui lôcurra, pra quê qué sabê tudo?

     – Só por sabê, Sarra. Nós velho, portância tem?

     – Bom, Jacó, segunda vez foi no Brasir.

     – Brasir, Sarra?

     – Brasir. Lembra quando Jacó quis lugar lojinha Bom Retiro?

     – Ah, sim, lembra. Lojinha Bom Retiro, rua Trêis Rio.

     – Luva muito carra?

     – Carríssima! Impossíver! Bisurda! Jacó lembra bem.

     – Daí Sarra foi conversá proprietárrio.

     – Daí, Sarra?

     – Proprietárrio senhor simpático, arto, olho verde.

     – Sim, Sarra.

     – Daí conteceu. Luva baxô. E lugamos lojinha.

     – Zatamente, Sarra. Zatamente. Lugamos lojinha. E tercêrra veiz, Sarra?

     – Non, non, Jacó. Chega. Non conta mais.

     – Ah, Sarra!

     – Ah, Jacó! Non, non!

     – Conta, Sarra. Com quem foi tercêrra veiz? Nós velho. Jacó non bravo, non se importa.

     – Non, non, Jacó, tercêrra veiz non  conta!

     – Conta, Sarra! Conta. Portância tem?

     – Non!

     – Sim, Sarra, sim!

     – Jacó!

     – Sarra! Nós velho. Fim de vida. Jacó non se importa mêmo.

     – Bom, Jacó, se você qué sabê, tercêrra veiz foi quando Jacó quis ser presidente Hebraica.

     – Presidente Hebraica?

     – Lembra, Jacó, lembra? Quis você ser presidente Hebraica…

     – Lembra, Sarra, clarro que lembra.

     – …e fartavam 250 voto?

 

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Amor de mãe pode sufocar

Por Luciana Saddi
15/10/13 09:34

O caráter indefeso da criança e sua grande necessidade de cuidado exigem da mãe muito amor e dedicação. Em contrapartida é possível que a mãe desenvolva um tipo de amor sufocante. O enorme prazer de ter um filho e a satisfação que sentimos enquanto os criamos contribuem para desejarmos que essa fase da vida se eternize. O tempo congelado num momento de enorme satisfação e amor mútuo entre mãe e bebê traz sérios perigos para o desenvolvimento da criança.

Seja por carência, seja por excesso de prazer na relação com o filho, algumas mães tendem a explorar essa relação em benefício próprio, para gratificar o desejo de ter alguém totalmente dependente de si. Mimam e cuidam de seus filhos para que não desenvolvam autonomia, para se tornarem presos a ela. Detestam qualquer sinal de crescimento e individualidade – o que está em jogo é um tipo de amor possessivo e controlador, que não incentiva um comportamento curioso em relação ao mundo. Nem reforça atitudes independentes da criança. Essas mães precisam que seus filhos se tornem mais dependentes do que o necessário. E, muitas vezes, se utilizam do medo ou da gratificação excessiva para podarem qualquer desejo de crescimento e independência.

Podemos dizer que uma situação perigosa tanto para a mãe como para o filho está sendo consolidada quando a preocupação primordial e exclusiva gira em torno do bem estar do filho; quando a satisfação pessoal ocorre apenas ligada aos cuidados dispendidos a ele; quando nenhum outro interesse se sobrepõe ao interesse de estar com a criança. Situação que muitas vezes exige o adoecimento psíquico do filho ou sua infantilização e dependência.

Essas mães não se apercebem que preparam uma grande armadilha para o futuro  daqueles que mais amam.

 

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A clínica psicanalítica da drogadição

Por Luciana Saddi
14/10/13 09:18

 A ABRAMD (Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas) realizará em Salvador, nos dias 30,31/10 e 01/11, seu 4º. Congresso Internacional. www.abramd.org.br

Dentro desse Congresso uma nova atividade será inaugurada, o SEMINÁRIO CLÍNICO, que será coordenado por Diva Reale*, Maria Eugenia Nuñez** e Maria de Lurdes Zemel***.

Do ponto de vista da estrutura, o SEMINÁRIO CLÍNICO funcionará com a apresentação de um caso e posterior comentários de profissionais com larga experiência na área.

A grande importância dessa atividade está no fato dela pretender agregar pessoas com visões psicanalíticas e/ou psicodinâmicas para pensar, discutir e construir, conjuntamente, a lógica de uma clínica que considere os diversos aspectos do sujeito que apresenta algum tipo de sofrimento em relação ao uso de qualquer substância psicoativa.

Olievenstein, (psiquiatra francês, especializado no tratamento das drogadições) já nos alertou sobre o cuidado que devemos ter para não tratarmos de um único aspecto do problema desse indivíduo, que se apresenta como se seu problema principal (ou único) fosse o uso/abuso da droga.

Não pretendemos nos preocupar unicamente com a droga e nem avaliar o sucesso de nossos trabalhos, considerando a abstinência como o aspecto mais importante.

Esse grupo pretende discutir como podem ser tratadas pessoas, que fazem uso/abuso de drogas, com toda complexidade que elas possam apresentar.

Texto de Maria de Lurdes Zemel

*Dra. Diva Reale, Psiquiatra, Psicanalista. Mestre em Medicina Preventiva FMUSP, Coordenadora do Curso de Aperfeiçoamento Clínico “Drogas, Dependência, Autonomia: o barato no divã” – no Instituto Sedes Sapientiae/ SP, Coordenadora da ABRAMD – clínica São Paulo, Ex estagiária do Hospital Marmottan, Paris.

**Maria Eugenia Nuñez, Psicologa, Psicanalista, Mestre em Saude Mental UNER – Argentina, Coordenadora Técnica Curso de Pos Graduação – Especialização, CETAD/UFBA.

***Maria de Lurdes Zemel, Psicóloga e Psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Terapeuta de Famílias, Membro fundador da ABRAMD

 

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O amor acaba - crônica de Paulo Mendes Campos

Por Luciana Saddi
10/10/13 10:46

O presente dessa semana de Ana Tanis para o Fale Comigo é essa linda crônica, O amor acaba, de Paulo Mendes Campos.

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

In: O amor acaba, Paulo Mendes Campos, seleção e apresentação Flávio Pinheiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2013

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Desejos infantis insaciáveis

Por Luciana Saddi
09/10/13 09:48

É comum para a criança pequena desejar ter a mãe só para ela, 24 horas por dia. A criança pretende tirar de seu caminho pai, irmãos e tudo mais que possa distrair ou afastar a mãe de si. Se esses desejos se realizassem trariam uma culpa sem fim. Mas, a simples realização de desejos bem menos destrutivos pode gerar conflitos profundos.

Por exemplo: é comum crianças se sentirem culpadas quando se tornam os filhos prediletos de suas mães. Pois, acreditam que a negligência sentida pelos irmãos ocorre em função desse favoritismo. E foi provocada por elas.

Os conflitos profundos em mentes infantis são produtos de desejos contraditórios. Da mesma forma que a criança pretende eliminar, em fantasia, um rival para se tornar a dona exclusiva de sua mãe, ela também o ama. Os rivais costumam ser irmãos e pai, que disputam com ela a atenção da mãe. Amar e desejar destruir convivem lado a lado na infância. Essa ambivalência também nos acompanha na vida adulta.

Por isso colocar limite nas crianças se faz tão necessário. A criança espera que seus pais a protejam de seus desejos insaciáveis, que refreiem seu egoísmo, para não ficar a mercê desses desejos, pois se sentiria culpada e seu remorso seria interminável.

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Transtornos do espectro do autismo

Por Luciana Saddi
08/10/13 09:27

Muito tem sido dito e divulgado sobre o autismo e sobre o crescimento do diagnóstico de transtornos do espectro do autismo (TEA). A clínica do autismo é complexa, exige abordagem multiprofissional e conhecimento sobre o desenvolvimento psíquico infantil. As dificuldades de diagnosticar precocemente problemas de desenvolvimento demandam investimento em formação de profissionais. A Psicanálise tem contribuído no estudo e atendimento de bebês e crianças que apresentam problemas de desenvolvimento. Vamos conversar com a psiquiatra e psicanalista, Regina Elisabeth Lordello Coimbra*, organizadora da I Jornada sobre Autismo: Atualidades Clínicas na Psicanálise de Crianças**, que pretende dialogar com comunidade científica.

Luciana: O que se passa com uma criança com autismo?

Elizabeth: Inicialmente a criança tem dificuldade em estabelecer uma ligação afetiva com os pais e com as pessoas à sua volta, geralmente demonstrando interesse pelas coisas, principalmente as que estão em movimento. O primeiro sinal observado costuma ser o fato de que a criança não aprende a falar ou fala pouco e repete sons ou palavras isoladas. Pode apresentar agitação e movimentos repetitivos de parte do corpo, ou do corpo inteiro, voltando-se para estes estímulos e retirando-se do convívio e apresentando prejuízo no seu desenvolvimento.

Luciana: É possível traçar uma linha comum quando se fala em um quadro de amplo espectro? Há graus diferentes de acometimento?

Elizabeth: A linha comum se baseia nos sinais descritos acima: desenvolvimento prejudicado pela falta de contato afetivo, dificuldade ou atraso na fala e autoestimulação. Sim, há graus diferentes de acometimento, com os sinais se apresentando de forma tênue, até graus muito acentuados, prejudicando ainda mais o desenvolvimento da criança. Além disso, os sinais descritos podem se acompanhar de outras manifestações, como por exemplo, não olhar nos olhos, não brincar, ter sensibilidade a ruídos e aparentar não sentir as variações de temperatura.

Luciana: Quais os sinais que nos levam a suspeitar que uma criança sofra de autismo?

Elizabeth: Os sinais são estes já descritos: falta de contato afetivo, prejuízo no desenvolvimento da fala e os movimentos corporais. O importante é que o diagnóstico seja feito o quanto antes. Ele pode ser feito mesmo em bebês que interagem pouco com os pais, por mais que eles se empenhem para promover o contato afetivo.

Luciana: Quais medidas podem ser adotadas diante de uma suspeita dessas?

Elizabeth: A família ao notar, ou ser alertada para uma suspeita de autismo, deve conversar com os professores, o pediatra, no sentido de verificar se a suspeita se confirma. Em caso positivo, como a questão central do autismo tem a ver com o problema das ligações afetivas, o profissional a ser procurado deve ser da área emocional.

Luciana: De acordo com a visão médica oficial o autismo não tem cura, mas tem tratamento? E qual o tratamento mais adequado?

Elizabeth: A medicina se dedica ao estudo das doenças e de acordo com o ponto de vista médico, o entendimento acerca do diagnóstico fica mais restrito e o prognóstico mais limitado. Nós, psicanalistas, não ignoramos o diagnóstico, mas trabalhamos com a saúde, com a possibilidade individual de cada criança em retomar seu desenvolvimento. A oportunidade que este blog nos dá é importantíssima, pois podemos apresentar informações que não circularam na mídia televisiva. É necessário que os pais sejam informados que há esperança com o tratamento psicanalítico, frente à perspectiva da possibilidade de retomada do processo do desenvolvimento de seus filhos, que está prejudicado.

Luciana: Temos como avaliar qual criança responderá melhor ao tratamento? Quais são os indícios de bom prognóstico para você?

Elizabeth: Quanto antes for feito o diagnóstico e iniciado o atendimento melhores serão as chances de bons resultados. Evidentemente a criança cujo desenvolvimento não estiver por demais prejudicado, responderá melhor. O atendimento psicanalítico precoce poderá se contrapor às forças a favor da manutenção dos mecanismos repetitivos corporais, fato que estimula o uso do corpo e dificulta o desenvolvimento da vida mental da criança. Fundamental para a boa evolução do tratamento é contar com a colaboração dos pais.

Luciana: Qual a atenção que se dá aos pais de uma criança autista?

Elizabeth: A atenção aos pais é um dos aspectos importantes, pois geralmente estes pais chegam muito enfraquecidos em suas funções paternas e desiludidos, depois de peregrinarem por consultórios de vários especialistas. É importante construir junto com eles o entendimento do que se passa com seu filho e ajudá-los a desenvolver a continência emocional, que a criança e eles tanto necessitam, para lidarem melhor com as dificuldades que enfrentam.

Luciana: Quais as dificuldades com a escolarização? É recomendada a inclusão?

Elizabeth: As crianças autistas apresentam, além da dificuldade de relacionamento afetivo, um importante prejuízo no seu desenvolvimento simbólico, ou seja, têm um funcionamento muito preso ao concreto, e necessitam ajuda para construírem um vínculo, tanto afetivo, como com o aprendizado. A inclusão é recomendada devido à qualidade da atenção e disponibilidade afetiva que elas demandam.

Luciana: Que tipo de informação e debate essa Jornada de Autismo pretende promover? O que ela traz de novo e para quais profissionais se destina?

Elizabeth: As dificuldades da criança autista apresentam-se em várias áreas do seu desenvolvimento e afetam não apenas a criança, mas todo seu círculo de relacionamento. Por este motivo, o diagnóstico e atendimento destas crianças e suas famílias, envolve muitos profissionais, desde o pediatra, a professora, fonoaudiólogo, psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais, psicanalistas. Esta Jornada se propõe ao diálogo entre os psicanalistas da SBPSP e outros membros da comunidade científica (profissionais e estudantes das áreas de Educação e Saúde), acerca das muitas questões que envolvem o autismo. O que ela traz de novo? Convidamos você a vir e descobrir!

 

*Regina Elisabeth Lordello Coimbra é membro efetivo da SBPSP, psicanalista de crianças e adolescentes pela IPA e Coordenadora da Diretoria de Atendimento à Comunidade da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

** Mais Informações: www.sbpsp.org.br

Quando: dias 18 e 19 de outubro

Onde: Av. Dr. Cardoso de Melo, 1450 – 9º andar

 Inscrição: (11) 2125.3777

TEMAS LIVRES

Os trabalhos deverão ser enviados para sbpsp.autismo@gmail.com

A data limite para envio é dia 30/09/2013.

Haverá uma seleção pela equipe organizadora.

TAXA DE INSCRIÇÃO – o valor poderá ser parcelado em 3x no cartão de crédito

Profissionais – R$ 150,00

Membros SBPSP e Febrapsi – R$ 120,00

Candidatos Febrapsi, Estudantes se Graduação e Profissionais da Rede Pública – R$ 75,00

PÚBLICO ALVO:
Profissionais e Estudantes das áreas de Educação e Saúde (médicos, enfermeiros, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais) e outros.

PROGRAMAÇÃO:

SEXTA FEIRA

FILME: ATENDIMENTO DE UM MENINO COM AUTISMO pelo Dr. David Rosenfeld (comentários de Alicia Lisondo)

SÁBADO

– CLÍNICA PSICANALÍTICA DOS TRANSTORNOS DO ESPECTRO DO AUTISMO – Comentários via Skype – Anne Alvarez

– APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE MATERIAL CLÍNICO DO ATENDIMENTO DE CRIANÇA (material clínico de Luciana Stoiani; comentários de Adela Gueller, Luciana Pires e Paulo Duarte)

– TEMAS LIVRES SOBRE A CLÍNICA PSICANALÍTICA DOS TRANSTORNOS DO ESPECTRO DO AUTISMO (TEA)

– DESENVOLVIMENTO EM RISCO: DETECÇÃO E CLÍNICA DO AUTISMO (Vera Fonseca e Rogerio Lerner)

 

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Humilhações e maus tratos

Por Luciana Saddi
07/10/13 09:18

Internauta: Tenho 20 anos e tive uma infância muito difícil. Sofri diversas humilhações e maus tratos por parte do meu pai. Sofro de depressão desde os 16, e acredito que minha depressão se deva, basicamente, à constante sensação de inferioridade, pois me sinto, extremamente, menor do que os outros e não tenho nenhuma confiança em minhas capacidades. Um sentimento muito grande de culpa me persegue. O que devo fazer? Tomar remédios ou só fazer psicoterapia?

Luciana: As consequências psíquicas para quem sofre com o abuso sexual e/ou maus tratos psicológicos e/ou castigos físicos costumam ser bastante semelhantes. Depressão, baixa autoestima, ódio de si mesmo, medo constante, confusão entre sujeito e objeto, masoquismo moral e físico. Os abusados repetem, de forma ativa, compulsiva e inconsciente as situações traumáticas vida afora e se expõem, com muita frequência, a situações “abusantes”.

No centro do problema está a falta de um adulto responsável e protetor, que deveria denunciar a agressão, em vez de fazer conluio com o agressor. Como se não bastasse a agressão e a omissão de socorro, o agressor e o adulto – que deveria proteger a criança – costumam acusar a vítima pelo ataque. A vítima, então, passa a se considerar culpada pela agressão e injustiça sofrida. E se pergunta onde foi que errou para sofrer tais castigos por parte de quem a ama. O agressor, por sua vez, além de agredir, projeta a própria culpa no agredido. Por isso vítimas têm dificuldade em denunciar, pois não conseguem discriminar com objetividade de quem é a culpa.

Explicar em um parágrafo o que muitos não conseguem entender por toda a vida não resolve a tragédia. Explicações não abolem o sofrimento que as situações de abuso ensejam. É muito importante fazer psicoterapia. O resgate da autonomia e da justiça é uma questão crucial. A denúncia, a intervenção da Lei e a reparação podem fazer parte do tratamento, pois houve falhas na capacidade de proteção institucional, familiar, da escola e do Estado. Discutir a questão da medicação psiquiátrica com o terapeuta é necessário e se a avaliação médica indicar tomar remédios, tome.

 
ALONE / Só

 

Desde a infância eu tenho sido
Diferente d’outros – tenho visto
D’outro modo – minhas paixões
Tinham uma outra fonte e
Minhas mágoas outra origem –
No mesmo tom não despertava
O meu coração para a alegria –
O que amei – eu amei só.
Então – na infância – a aurora
Da vida atormentada – estava
Em cada nicho de bem e mal
O mistério que me prendia –
Da correnteza, da fonte –
Das escarpas rubras do monte –
Do sol que me rodeava
Em pleno outono dourado –
Do relâmpago nos céus
Quando sobre mim passava –
Do trovão, da tormenta –
E a nuvem tem a forma
(Quando o resto do céu é azul)
D’um demônio aos meus olhos.

 

Edgar Allan Poe – Tradução de Leonardo de Magalhaens

 

Aurea Rampazzo, coordenadora das oficinas de criação literária do Museu Lasar Segall, escolheu o poema para essa pergunta/resposta.

 

Dica: Lovelace, o filme conta a história de Linda Boremam, atriz de, Garganta profunda, um dos mais famosos filmes realizados pela indústria pornográfica. A história de Linda confirma a regra: basta estar em situação de desamparo e fragilidade para se tornar presa fácil.

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