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por Luciana Saddi

Perfil Luciana Saddi é psicanalista e escritora

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Ipê amarelo

Por Luciana Saddi
08/10/12 10:23

  

Um internauta, L Cypher, aprendiz de feiticeiro/escritor criou essa página no facebook – facebook.com/umabusca – para colocar lá alguns escritos seus e também poesias de outras pessoas. Pedi para a Ana Tanis (psicóloga, bacharel em letras e curadora de poesia desse blog) fazer um breve comentário sobre um poema dele. 

Ana Tanis: Achei bacana a página de facebook do Fabio, embora eu esteja fora do facebook, atualmente, e não possa acompanhar de perto. Acho ótimo cultivar um lugar de trocas poéticas. Bonito o poema do Ipê amarelo, a figura mais bela da flora paulistana. Me perguntei, no entanto, se ele já terá considerado um exercício de prosa sobre o mesmo tema. Poderia dar frutos – ou flores, no caso. Acho importante e divertido fazer esses experimentos com a linguagem.

 

Ipê Amarelo

no chão de terra batida
jazia numa pequena ferida
decantado no sulco profundo
cheio de sangue seco
misturado ao pó moribundo
e esturricado esterco
uma solitária semente,
do impossível sobrevivente. 
teve o inóspito para repousar
e assim o fez não por querer
mas simplesmente nesse lugar
tinha um destino a saber

E nessa árida jornada
apenas orvalho madrugada
sustenta improvável que cresce
espada em investida estoica
e gota d’água não conhece
mas vida triunfa paranoica 

Insanidade companheira;
Alimento só a derradeira
lama vil do seu esforço.
Na busca quase inútil insiste,
Incansável e sem remorso,
raiz a penetrar no chão triste.

filho de vento seco desespero
com a noite suja destempero
pais de desnudos enganos
numa relação incestuosa
abusam seus mirrados ramos
casca ainda não grossa

mesmo na nudez desse despautério
solitário no jardim do adultério
onde não chega nem a esperança
supera toda essa pobreza e o mal
floresce sucesso como vingança
duma força dormente visceral

Símbolo da ironia mais fina
antes da primavera vinda
flores da cor do arrebol
vão nascer para relembrar,
tua natureza intrínseca escol, 
conceber sementes a te multiplicar

Ipê-amarelo

 L Cypher

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Sonhos realizam desejos inconfessos; saiba por que é importante lembrá-los

Por Luciana Saddi
07/10/12 22:11

Fale Comigo na Rádio Folha

Não há quem não tenha um dia se intrigado com o sonho. Freud entendeu que os sonhos eram a expressão psíquica de vivências emocionais e desejos proibidos. Em 1900 lançou seu mais famoso trabalho, intitulado “A Interpretação dos Sonhos”, obra que desvendou a vida onírica de forma cientifica e detalhada e mudou para sempre a concepção que temos sobre o sentido dos sonhos, segundo Luciana Saddi, blogueira da Folha.com

“Os sonhos são vias nobres de acesso ao desconhecido e formam um valioso patrimônio para o autoconhecimento”, afirma a psicanalista.

Os sonhos realizam desejos inconfessos, informam sobre o funcionamento psíquico e apontam conflitos. “Os psicanalistas se preocupam mais quando os sonhos não ocorrem ou nem são lembrados, o que indica dificuldade em ter contato com o próprio mundo interno e impossibilidade de elaborar e expressar vivências emocionais”. Ouçam o podcast:

http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/podcasts/1163191-sonhos-realizam-desejos-inconfessos-saiba-por-que-e-importante-lembra-los.shtml

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Claro Enigma

Por Luciana Saddi
05/10/12 10:04

 Conversa em torno de Drummond nos seus 110 anos de nascimento  

A Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo se associa às inúmeras homenagens prestadas no país ao nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, nos 110 anos de seu nascimento. 

Este encontro contará com a presença do Dr. Murilo Marcondes de Moura, professor e estudioso da obra do poeta, e de Maria Ângela Moretzsohn, psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. 

 

Mundo grande

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor. 
Nele não cabem nem as minhas dores. 
Por isso gosto tanto de me contar. 
Por isso me dispo, 
por isso me grito, 
por isso requento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias: 
preciso de todos.

Carlos Drummond de Andrade

06 de outubro de 2012 

9:30hs

Local: Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo

Av. Dr. Cardoso de Melo, 1450 – 1º andar

Auditório Sigmund Freud

Vila Olímpia – 04548-005 – São Paulo-SP

Uma realização do da Diretoria de Cultura e Comunidade da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, por meio do Projeto Articulação.

secretaria@sbpsp.org.br

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Ciclo: Cinema, Música e Psicanálise

Por Luciana Saddi
04/10/12 15:11

Para a terceira exibição do Ciclo: Cinema, Música e Psicanálise, apresentamos a ópera filme, O HOMEM DOS CROCODILOS, de Arrigo Barnabé.

Inspirada livremente no relato de Sigmund Freud “O homem dos lobos”, essa ópera, um caso clínico em dois atos, apresenta um compositor em crise, que procura ajuda na psicanálise. No decorrer do enredo, a trama revela ao público um segredo desconhecido tanto pelo analisando quanto por seu analista.

Após a exibição haverá uma conversa com  Arrigo Barnabé, Cintia Buschinelli, psicanalista e Sidney Molina, músico e crítico da Folha  de S. Paulo.

9 de outubro às 2ohs  – Evento gratuito

Inscrições:  eventofolha@grupofolha.com.br ou pelo telefone (11) 3224-3473, das 14h às 17h. É necessário informar nome, telefone e RG.

Local: Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo

Av. Dr. Cardoso de Melo, 1450 – 1º andar

Auditório Sigmund Freud

Vila Olímpia – 04548-005 – São Paulo-SP

Uma realização do Grupo Sessão de Cinema da Diretoria de Cultura e Comunidade da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo em parceria com a Folha de S.Paulo.

Encanto  

Encantamento refere-se a um tempo de magia e a um estado da consciência entre a vigília e o sonho. Voz que está no ritmo do acalanto, que invoca a intimidade e que nos remete a um recanto, compreendido como espaço necessário para a restauração vital. Encanto, estado de associação livre e de despojamento do real, forma ideal para ver um filme e escutar uma música – com o “ouvido de dentro” na expressão de Villa Lobos.

O grupo Sessão de Cinema tem a função de criar um espaço de convivência e diálogo do Cinema com a Psicanálise. A proposta é refletir sobre os processos de representação simbólica marcando as diferentes concepções e olhares sobre o mundo. Os filmes são pesquisados a partir de critérios que possam aproximar o aspecto da cultura com a dimensão singular da subjetividade.

Acreditamos que estas conversas são possíveis sem engessamento nem desejo de querer tudo explicar para não saturar o potencial que o filme possa revelar.

Grupo Sessão de Cinema é formado pelas psicanalistas: Raquel Ajzenberg, Heloisa Ditolvo, Luciana Saddi e Marina Massi.

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Sobre os ultra ocupados

Por Luciana Saddi
04/10/12 10:03

 

“Mentem as pessoas que se dizem muito atarefadas para poder se dedicar ao estudo. Elas se fazem de ocupadas, exageram suas preocupações, e afinal preocupam-se somente com elas mesmas.”

 

Sêneca ( 3 a.C. até 65 d.C.)

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Devoração de famosos

Por Luciana Saddi
03/10/12 12:23

Tom Cruise se separou, outros famosos fazem o maior barulho quando se separam. O que isso significa?

Os famosos foram transformados em Deuses pela mídia e pela Sociedade do Espetáculo, assemelham-se a figuras onipotentes, mágicas, super-heróis. Nós nos comportamos como crianças curiosas, espionando suas vidas como se pudéssemos decifrar o mistério de nossos pais. Não imaginamos que os Deuses passem pela experiência de desejo sem amor, enfadonho ou morto. Deles esperamos que o amor seja eterno e que não queiram recuperar a liberdade.

Cada fim de casamento causa curiosidade e, muitas vezes, gera intriga. A vida dos outros é o alvo, principalmente o sofrimento mundano e comum.  A nossa dose cotidiana de inveja se torna controlada num mundo equilibrado pela frustração distribuída irmanamente.

As pessoas ficam felizes em saber que as celebridades passam pelas mesmas coisas.

Temos uma relação de admiração e ao, mesmo tempo, de inveja com os famosos, por isso cada tropeço deles equivale a um sorriso de escárnio. Simples mortais sequiosos de viver a vida glamorosa que não é a nossa, aplaudimos suas vitórias, que de certa forma, partilhamos.

Somos seus devoradores. As celebridades sabem disso e provocam a devoração. Entregam pequenas ou grandes porções de suas vidas ao público, para manter a posição conquistada. O espetáculo precisa continuar.

Os sites de fofoca sobre celebridades são os mais acessados no mundo, talvez só percam audiência para a pornografia. Nosso mundo nos convida para o entretenimento com a vida alheia. A vida das celebridades se torna mais interessante que a nossa.

Pouco falamos sobre nossos sentimentos e sobre a responsabilidade que temos conosco.  Para nossos anseios e frustrações não ventilamos palavras. Não somos objeto de pensamento para nós, ofuscados pela vida maravilhosa dos outros, nos perdemos.

Desconfio que enquanto nos comportamos como romanos no coliseu, atraídos pelas desgraças e conquistas dos famosos, há alguém ou um sistema ganhando muito com essa alienação.

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A Língua da Água

Por Luciana Saddi
02/10/12 15:33

Poema de Vivian Schlesinger que recebeu o segundo lugar em Poesia no Concurso Sindi-Clubes de Literatura, julgado pela Academia Paulista de Letras.

 

A Língua da Água

 

                   para João e Marly

 

Rios labirintos, vivem

o fluir sem medo ou dúvida

para brilhar nas águas claras,

cristal e ouro do cascalho.

 

Rios de mãos dadas, vivem

na língua da água, no leque do vento,

em tênue fio, um rio, sonolento

até o outro de si, um vale, por dentro.

 

Viver vale o suicídio, desaguar

um renovado no outro, o outro

de si renascido, o leito esculpido na memória,

para fugir, na morte, da vida em poças.

 

*O Tibre, o Arno, e os rios (Antologia Poética, org. João Cabral de Melo Neto, Editora Nova Fronteira, 1997)

** Os rios de um dia (A Educação pela Pedra e Depois, Ed. Nova Fronteira, 1997)

 

Descobri, mais tarde, que foram apaixonados um pelo outro, casando-se em 1986, ele aos 66 anos, ela quase 20 anos mais jovem.

http://vivianschlesinger.blogspot.com.br/

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Triângulo amoroso indica 'complexo de Édipo mal superado'

Por Luciana Saddi
01/10/12 10:51

Fale Comigo na Rádio Folha

No programa “Fale Comigo” desta semana, a blogueira fala sobre o complexo de Édipo.

A criança experimenta, entre os 3 e os 5 anos, um conjunto de desejos amorosos e hostis em relação aos pais. Em sua fantasia forma um verdadeiro triângulo amoroso, marcado por sedução, rivalidade e exclusão. Ora luta para conquistar o pai e colocar a mãe de lado, ora luta pelo contrário.

Nesse mesmo período, percebemos as consequências da diferença entre os gêneros. “É um período de intensas paixões e sofrimentos”, afirma a psicanalista.

O Complexo de Édipo desempenha, segundo a teoria freudiana, um papel fundamental na estruturação da personalidade e na orientação da sexualidade humana.

“Muitos não conseguem superar o complexo de Édipo e repetem triângulos amorosos excitantes ou infortúnios sabidamente anunciados”.  Ouçam o podcast:

http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/podcasts/1157104-luciana-saddi-triangulo-amoroso-indica-complexo-de-edipo-mal-superado.shtml

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VOCÊ SABE TOCAR PIANO? de Carlos Felipe Moisés

Por Luciana Saddi
30/09/12 13:02

Sou procurada, frequentemente, por internautas para avaliar seus contos e poesias.  Sou leitora e escritora, mas não me sinto confortável para avaliar o trabalho ficcional de alguém. Encontrei no texto abaixo [Jornal Valor, caderno Eu & Fim de Semana, 28/9/12, págs. 34-35] um conjunto de boas ideias sobre o escritor e o poeta. Espero que possam aproveitar o saboroso artigo do professor Carlos Felipe Moisés*.

“Antigamente, corria uma piada sem graça, a do sujeito que, indagado se sabia tocar piano, respondia: não tenho como saber, nunca experimentei. Só alguém muito ingê­nuo, candidato natural a protagonista de piada, poderia imaginar que tocar piano é ques­tão de experimentar. Hoje, no entanto, é só substituir “tocar piano” por “fa­zer poesia” e já não será mais piada, com ou sem graça. Será uma resposta aceitável, digamos. Em­bora estejamos mais ou menos o mesmo caso, a maioria não verá aí vestígio algum de ingenuidade. Quando o da piada se aproximasse de um piano pela primeira vez, para experimentar, ninguém teria dúvida em constatar, ao pri­meiro contato dos seus dedos com o teclado, que ele realmente não sabe tocar. Já em relação à poesia… Ninguém tem dúvida em diagnosticar um piano mal tocado,  mas poucos estarão aptos a reconhecer, diante da tentativa canhestra do aspirante a poeta, que se trata de um mau poema. A “solução” costumeira é pôr de lado qualquer critério estético, substituindo-o pelo da moralidade vi­gente: hoje, o sagrado direito que todos temos de experimentar e seguir experimentando, qualquer que seja o resultado, vale mais do que saber fazer e fazer bem feito.

Quem nunca experimentou, e “portanto” não sabe se sabe fazer poesia, fatalmente recorrerá, na primeira tentativa, a uma linguagem falsamente “elevada”, uma enfiada de clichês pseudoprofun­dos, nenhuma noção de ritmo, tudo muito frouxo, simples memória involuntária de leitu­ras mal as­si­miladas. Mas como distinguir entre a tentativa bisonha, tão bisonha quanto a do pianista da anedota, e um poema ver­dadeiro? Nada fácil. A confusão é inevitável. O caminho possível é o principiante perceber que não é mera questão de experimentar, sob o amparo do possível talento inato e da inspiração. E em seguida assumir com humildade o propósito de aprender os fundamentos do ofí­cio. Como? Simples: lendo, lendo muito, lendo muita poesia, mas com olhos e ouvidos atentos, espírito crítico, e não apenas para se deleitar e depois imitar, servilmente, a aparência do que tiver sido mal assimilado. 

O poeta anglo-americano W.H. Auden adverte que no mundo moderno isso vale não só para o poeta, mas para o músico, o pintor, o escultor e tantos outros praticantes de atividades similares, ou­trora conhecidas como “belas artes”. Ter que aprender por conta própria, ele acrescenta, é um fardo pesadíssimo. Ao contrário do que acontece no âmbito das demais artes e ofícios, o aspirante a poeta não estará apto a desempenhar a sua arte se se limitar a aprender o que houver de mais avançado na área, desobrigando-se de tomar conhecimento das etapas anteriores, “ultrapassadas”. Para além ou aquém do que possa haver de obsoleto na poesia de outras épocas, os fundamentos da velha arte continuam a ser essencialmente os mes­mos, o que em parte justifica o apaixonado exagero de um Leopardi, para quem “tudo se aperfeiçoou de Homero em diante, mas não a poesia”.

Que necessidade terá o marceneiro, disposto a fazer uma boa cadeira, de aprender antes as técnicas rudimentares do artesão medieval e em seguida, passo a passo, as dos seus sucessores? Ele não só pode como deve ir diretamente aos aparelhos, às ferramentas e aos utensílios mais novos e eficientes que uma oficina bem equi­pa­da lhe ofereça. Mas o caminho será outro se, em vez de fabricar uma honesta cadeira, ele se empenhar em criar, em madeira, uma obra de arte destinada não a abrigar traseiros, mas à contemplação dos apreciadores. Tomada essa decisão, nosso amigo abandonará a utilíssima seara da mar­cenaria, para adentrar por sua conta e risco o misterioso, incerto e inútil reino da es­cul­tura – tão inútil, incerto e misterioso quanto o da poesia. Sua tarefa será, então, similar à do poeta em potencial, obrigado a conhecer e a experimentar a arte de seus antecessores, não para retroagir nem para imitar algum obsoleto estilo de época, mas para extrair, do amplo e variado repertório tradicional, os recursos ainda váli­dos, necessários à expressão do seu intento genuíno e singular.

Para quê? Bem, Alberto Caeiro, o heterônimo-mestre dos demais heterônimos de Fernando Pessoa, explica: para se saber, de verdade, é preciso antes aprender a desaprender. É que umas coisas a gente sabe, outras a gente só pensa que sabe. Como as dúvidas são inevitáveis, melhor desaprender tudo e recomeçar do zero.

Se fosse só uma questão de “experimentar”, que necessidade teria o poeta de aprender seja o que for? A tradição? Mas não sabemos todos que tradicional é o que está condenado à obsolescência, devendo ser, mais cedo ou mais tarde, inapelavelmente descartado? Então, por que não descartá-lo logo de saída e começar logo a experimentar? Para que ler outros poetas, sobretudo os considerados “grandes”, como Drummond, Bandeira, Cecília e tantos outros (pensa o principiante), se isso poderá tolher a manifesta­ção de sua personalidade, única e in­transferível, e outras fantasias com que todos têm, sem dúvida, o legítimo direito de so­nhar? Quando não, a autoestima e o honesto afeto que as pessoas lhe dediquem se incumbirão de confundir as coisas.

Tendo experimentado, e reconhecido o fracasso, o candidato a pianista tratará de procurar um conservatório, quem sabe, onde alguém mais experiente lhe en­sine a identificar as notas e o convença a se dedicar, por largo tempo, a solfejar uns exer­cícios variados, muito monótonos, associando-os a noções práticas de compasso, cadência, ritmo e por aí vai. Ao longo do processo, marcado por crescente com­plexidade, o candidato a concertista irá adquirindo aos poucos a necessária familiari­dade com o instru­mento e seus recursos. Só depois, às vezes muito depois, às vezes nunca (muitos desistem no meio do caminho), começará a tocar.

Haverá aprendizado equivalente se o caso for “fazer poesia”? Sim e não. Não, se o candidato esperar que alguém lhe ensine, primeiro, a dominar o instrumento para só depois executá-lo. Mas sim, se entender que seu instrumento é a própria língua e, para utilizá-la em poesia, ser falante nativo ou ter sido alfabetizado não bastam.

Descobrir um dia o prazer de escrever um poema, que parece ter brotado do nada, fruto da inspiração, é uma experiência valiosa, que todos deveríamos ser encorajados a praticar, desde cedo. Imaginar, em seguida, que talvez sejamos dotados de um dom inato para a coisa, pode ser decisivo para a nossa formação. Mas convém prestar atenção à advertência de Manuel Bandeira: ser poeta aos 18 anos é fácil; difícil é continuar a fazer poesia vida afora.”

_________

*Carlos Felipe Moisés é poeta, crítico literário e tradutor. É autor de “Poesia & utopia” (ensaios, 2007), “Noite nula” (poemas, 2008) e “Poesia não é difícil” (antologia comentada, 2012), entre outros livros. Traduziu “Tudo o que é sólido desmancha no ar” (M. Berman) e “O poder do mito” (J. Campbell). “Você sabe tocar piano?” faz parte do livro “Frente & verso”, inédito.

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Amor! Meu amor! Socorro!

Por Luciana Saddi
27/09/12 10:12

O amor que tenho não dá pra dois, me ajude a

salvar nosso amor, ela implora.

 

Sylvia Loeb, Amores e tropeços, Ed 3ºnome.

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