Poder e violência
23/11/12 11:40No texto, Mulheres envenenam com palavras: sobre a violência praticada por mulheres, não tive a intenção de justificar nenhum tipo de violência, muito menos a sofrida por mulheres. No entanto, meu texto levou alguns leitores a esse pensamento. Acredito que isso tenha ocorrido pelo recurso à ironia, ao falar da violência masculina contra a sensualidade feminina. Quis dizer que alguns homens odeiam as mulheres por terem esse poder, nunca quis justificar esse ódio, pois não há nada que o justifique.
Os comentários dos leitores me lembraram algumas ideias de uma colega psicanalista, Susana Muszkat, que há anos trabalha com a questão: violência e gênero.
Susana Muszkat: Acredito, sim, que a necessidade de manutenção de dominação e de poderes fixos constituídos não representa uma condição de poder, mas pelo contrário, uma falta do mesmo, que faz com que homens se apeguem, de forma adesiva, a padrões tradicionais de masculinidade, acreditando que estes serão garantidores de sua identidade masculina. O empoderamento consiste, a meu ver, em poder abrir mão da obrigatoriedade em funcionar dentro de preceitos rígidos, podendo contar com uma gama de recursos identificatórios mais ampla. Ou seja, quando a manutenção da identidade masculina depende de poucos indicadores tais como dominar mulher e filhos, ou ser o provedor exclusivo da família, ao deparar-se com a alteração destas condições, o homem sente sua identidade ameaçada, sobrando-lhe como recurso débil e precário de resgate de identidade e de seu narcisismo, o uso da violência. Assim, entendo que o uso da violência não se apresenta como recurso de poder, mas sim evidencia o que denominei de desamparo identitário. Defino este conceito como uma forma de funcionamento mental e social, construída a partir de ideais culturais nos quais estes homens ficam mergulhados em função da precariedade da rede de significados de que dispõem como definidores do que é masculino e feminino. O conceito de desamparo identitário se contrapõe, portanto, à noção de uma rede identificatória diversificada, na qual a base de sustentabilidade do indivíduo se amplia, dando-lhe mais recursos pessoais ga rantidores de um maior equilíbrio narcísico.
Violência e Masculinidade – Col. Clínica Psicanalítica – (ed. Casa do Psicólogo) da psicanalista, Susana Muszkat.