Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

Fale Comigo

por Luciana Saddi

Perfil Luciana Saddi é psicanalista e escritora

Perfil completo

A civilização e seus paradoxos

Por Luciana Saddi
07/12/12 10:27

Fale Comigo na Rádio Folha

No podcast desta semana, a psicanalista e blogueira da Folha Luciana Saddi comenta sobre a civilização.

Somos seres civilizados por vivermos sobre uma base comum, o poder do grupo sobre os indivíduos. Eles abrem mão do poder pessoal em nome da boa convivência com seus semelhantes.

O preço a pagar por viver em sociedade é reprimir a sexualidade e a agressão. Portanto, há uma dose de mal inerente à cultura.

http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/podcasts/1185452-luciana-saddi-a-civilizacao-e-seus-paradoxos.shtml

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Sobre autoestima

Por Luciana Saddi
06/12/12 11:27

Eis um diálogo entre 2 personagens com autoestimas opostas, e que termina mal para um deles (referência ao comentário na entrevista abaixo sobre o desmoronamento). Ao ironizar  o mundo dos negócios e a linguagem metida e ridícula,  a autoestima se fez presente! Crônica do livro, Equívoco, de Jean-Michel Lartigue.

  Sem legendas

Aguinaldo pacientava na fila da Caixa Econômica Federal. Tinha sido dispensado do seu trabalho no mês anterior, depois de quinze anos de bons e leais serviços, como fizera questão de frisar o diretor de recursos humanos ao anunciar-lhe a notícia. O diretor, coitado, estava desolado e Aguinaldo não pudera deixar de sentir pena dele enquanto escutava as suas explicações sem saída, permeadas de termos americanamente corretos. O ‘bizeness’  o business!  parecia não estar indo tão mal, mas uma firma de consulting internacional concluíra de que era imprescindível operar um ‘daônzaizingue’ urgente sem o qual, os números não mentiam, a própria sobrevivência da empresa estaria comprometida. Downsizing, Aguinaldo o sabia, era para administração das empresas o que os atos tribais dos temidos Jivaros eram para a antropologia, a ilustração derradeira da redução de tamanho, no caso pelo exercício burocrático do corte de cabeças. Aguinaldo fazia parte dos reduzidos e se sentira muito pequeno, mesmo, quando limpara suas gavetas e pegara pela última vez o elevador panorâmico do edifício-sede, um prédio novo, pago a vista com recursos próprios da empresa. Na fila para receber o seu FGTS, Aguinaldo se perguntava melancolicamente porque haviam adquirido um ‘bíldingue’ ¾ como dizia o diretor dos Jivaros ¾ de vinte andares de vidro e mármore, se era para dispensar um terço do pessoal e ficar com oito andares vazios um ano mais tarde apenas. Estava no meio dessa reflexão quando avistou um amigo com quem não cruzava havia anos, o metidinho Roberto.

 Betão!! Quanto tempo! Como você está? Por onde você andou?

 Oi Naldo, tudo bem? Faz a long time, mesmo, my friend!

 ‘Longui taimi’? Ah, sim, claro, muito tempo. E aí cara, meu velho Betão, por onde você andou?

 Naldo, ninguém me chama mais de Betão, sabia? Agora todo mundo me chama de Bob.

 Bôbi? Virou ianque no nome, hein? Beleza, cara! Mas aí, ninguém tira sarro? Sabe? Bob, bobinho, bobão, essas coisas?

 Oh, my God, no! Claro que não! Eu arrebento quem se atrever!

 Ótimo! Mas e aí? Onde você estava todo esse tempo?

 Nos States, my friend!

 Não me diga? Fazendo o quê?

 Money, claro! Muito money, aliás.

 Me conta!

 Bom, primeiro fui fazer minha pós em Èlé.

 Você fez pose, onde?

 Oh, my God! No, eu fiz é: pós, pós-graduação, em Èlé, L.A, Los Angeles!

 Ah? Sim, L.A., claro.

 Um ‘èmibiè’, sabe? MBA, pós-graduação em administração.

 Sei, sei, já ouvi falar.

 Bom, depois fiquei na Califórnia, entrei num grupo de ‘praiveti bânkingue’, adquiri uma baita experiência, boom da web, success-story, foi um show, sabe? Me tornei um ‘sirioul-wíner’, um vencedor em série.

 Puxa, que beleza! Fico feliz de ver que tudo deu tão certo para você.

 Olha, nem sempre foi fácil, viu? Sabe como é o business, não é? Cheio de up-and-down.

 ?

 Sabe? Apendáon?

 Hum, desculpe, não, não ‘capitei’.

 Altos e baixos. Pois vou te dizer, é preciso muita garra para aguentar os trancos. Certa vez fiquei em baixa no conceito do chairman, mas graças a Deus consegui fazer um come-back daqueles!

 ‘Comibaque’?

 Volta por cima! Por cima dos outros, é claro! Entrei no board e por pouco não me nomearam CEO.

‘Cihihô’? Ah! Deixa pra lá, eu desisto!

 Bom, mas, e você, Naldo? Tudo allright?

 Xi! Infelizmente, não. A minha vida inteira foi pras cucuias! Paguei mico! Bobeei e dancei! Entrei pelo ralo! Também, eu devia ter aberto o bico mais cedo, chutado o balde, o pau da barraca, posto boca no trombone, espalhado merda no ventilador, teriam visto o que é bom para cachorro! Em vez disso fiquei na dúvida, e aí sabe como é, né? Nem caguei nem saí da moita, fiquei coçando a cuca, quando acordei era tarde. Dei nó em pingo d’água, resultado, entrei na dança das cadeiras e minha cabeça rolou. Agora tô na pindaíba, com pires na mão da Caixa, mais perdido que cachorro em dia de mudança. Entende?

 Euh… quero dizer, mais ou menos.

 Deixa pra lá…

  Sorry…

Claro, sorri. Mas do quê? (suspiro). Peraí, só agora é que estou me tocando; o que você, Bob, está fazendo aqui na fila do FGTS????

 Oh, my God, nothing, nada! Uma peripécia de percurso, apenas. Coisa boba. Ocorreu que eu tinha sido encarregado de uma big consultoria numa firma daqui e, digamos, acabei exagerando nas recomendações finais.

 Como assim?

 Bem, a firma era pra lá de sólida e saudável  acabavam de comprar cash um building novinho de vinte andares  mas errei um tiquinho na análise das contas da empresa e recomendei um downsizing radical, com corte de 33% do pessoal. Na realidade, poderiam ter contratado e não demitido. Ficou um pouco chato, claro, mas conseguimos abafar as coisas. Para não criar ondas, negociei minha saída da empresa de consulting que me empregava. Para mim, acaba sendo legal, pois eu recupero meu fundo de garantia e vou abrir um business pessoal. Great, no?

Aguinaldo teve de pacientar na fila do pronto-socorro. O raio-x mais tarde revelou a ausência de fratura. O soco havia sido forte, mas seu punho era sólido e os ossos superiores da mão direita resistiram ao impacto. Aguinaldo foi liberado e voltou para casa. Bob continua internado até hoje, recuperando-se lentamente da tripla fratura do maxilar inferior. Dizem que repete convulsivamente as mesmas palavras, o rosto marcado por dor e pavor: “Oh, my God, no! Oh, my God, no!”.

 

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Autoestima

Por Luciana Saddi
05/12/12 10:12

O termo significa: amor próprio. E, se já era difícil gostar de si mesmo quando a gente não precisava ser perfeito em tantas coisas ao mesmo tempo, imagine agora, em que vivemos oprimidos por exigências cada vez mais complexas e quase impossíveis de realizar. Gostar de si mesmo nos dias de hoje se tornou algo mais difícil ainda de ser alcançado.

Para conversarmos sobre autoestima convidei a psicanalista e escritora Sylvia Loeb*.

 

Luciana: O que é autoestima?

Sylvia: Podemos definir que autoestima é a opinião que temos de nós próprios.

Por exemplo: se você se acha inteligente, ou bonito ou simpático, competente, generoso, bondoso ou ao contrário, burro, feio, incompetente, fracassado.

Os termos autoestima, autoconfiança, autoaceitação, autoimagem são todos mais ou menos sinônimos, indicando a avaliação que fazemos de nós mesmos.

De modo geral falamos em baixa autoestima, ou autoestima elevada.

Luciana: Será que poderíamos pensar que uma pessoa com excesso de auto estima estaria compensando um sentimento subjetivo de inadequação?

Sylvia: Sim, podemos pensar isso; conhecemos pessoas que mostram excesso de segurança, autoestima elevada porém que à menor contrariedade ou dificuldade, desmoronam daquele lugar mostrando fragilidade, sentimentos de menos valia

Luciana: Poderíamos também nos perguntar se uma pessoa com excesso de crítica em relação a si mesma não teria uma imagem de si muito idealizada?

Sylvia: Sem dúvida, excesso de autocrítica necessariamente não implica em modéstia, pelo contrário, pode implicar em muita vaidade. “Eu deveria ser o mais competente, o mais bonito, o mais forte”. Diante do tamanho desta exigência resta muito pouco a fazer; todas as realizações possíveis ficam diminuídas diante de uma idealização exagerada.

Em psicanálise, falamos em narcisissmo, outro modo de nomear a autoestima. O termo narcisismo vem por referência ao mito de Narciso, é o amor pela imagem de si mesmo.

Na fase inicial de nossas vidas, quando crianças, uma dose alta de narcisismo é verificada. A criancinha é egoísta, suas necessidades e desejos são prementes e urgentes, elas têm pouco tolerância às frustrações.

Em outras palavras, a criança se sente o centro do mundo.Todo seu afeto está dirigido para si mesma, sobrando muito pouco para o que se encontra fora dela.

Na medida em que vamos crescendo o chamado da realidade nos faz cair da posição de reinado absoluto. As frustrações surgem na figura de outros irmãos, ou do papai e da mamãe que talvez já não nos achem tão absolutamente maravilhosos.

Isso é importante, doloroso, mas estruturante de uma personalidade mais amadurecida, que vai aprendendo, a duras penas, que a vida e o mundo não obedecem magicamente aos nossos desejos.

O afeto que antes era dirigido mais para si encontra outros caminhos de expressão, podendo ampliar sua manifestação para fora, para os outros, para o mundo.

Luciana: Existe o Narcisismo saudável?

Sylvia: Sim, e implica em sabermos de nós, em apreciarmos nossas qualidades e tolerarmos nossos defeitos. Implica em tratarmos bem de nossa saúde, de nossa vaidade, de nossas necessidades; de realizarmos tarefas que nos dêem prazer e bem estar; implica em enxergar os outros com sua necessidades e desejos; em encontrarmos companheiros de vida que nos valorizem e com quem possamos compartilhar prazeres e dificuldades.

Por outro lado, Narcisismo exarcebado implica em excesso de confiança, em geral acompanhado por certo desprezo pelos outros. O mundo deve girar em torno deste ser que se acha privilegiado.

Todos deveriam servi-lo, sua vontade é uma ordem. Encontramos adultos neste modo de funcionamento: verdadeiros bebês, egoístas e autocentrados, que estabelecem uma relação pobre com os outros, a quem desconsideram. É como se tivesse havido uma parada no desenvolvimento do sujeito, como se ele estivesse fixado num momento de desenvolvimento infantil.

Encontramos dezenas de pessoas assim: homens poderosíssimos com seus carrões atropelando e mesmo matando pessoas. Ajudados pelo álcool ou por algum outro aditivo, estão acima do bem e do mal com seus objetos de poder.

Mulheres plastificadas, onde a imagem que projetam de si são pura fachada: riqueza, beleza autosuficiência, juventude eterna. E assim vemos na mídia, na rua, nos shoppings verdadeiras Barbies de silicone, escravas de uma imagem que necessitam preservar a qualquer preço, resultando muitas vezes em figuras patéticas.

Personalidades imaturas que podem reagir, ao que sentem como insulto e humilhação, de forma violenta. Muitos assassinatos e ataques são cometidos em resposta a supostos golpes contra a autoestima, os chamados crimes de honra!

Gangues de rua possuem opiniões favoráveis sobre si mesmas e recorrem à violência quando estas avaliações são contestadas. Bullies de “playground” consideram-se superiores às outras crianças; baixa autoestima é encontrada entre as vítimas dos bullies, não entre os próprios bullies. Grupos violentos têm um sistema de crenças que enfatizam sua superioridade sobre os demais. 

Nestes casos não podemos mais falar em Autoestima elevada.

São casos graves de narcisismo, onde a imagem tomou conta do ser.

 Luciana: E a baixa Autoestima? Há como transformá-la em amor próprio?

Sylvia: Na medida em que a pessoa possa exigir menos de si, tenha uma visão menos idealizada de como deve ser, de como se comportar, enfim de estar no mundo, sim, é possível transformar uma crítica muito severa em relação a si mesma em maior aceitação dos limites, das dificuldades, dos tropeços que a vida nos causa.

 

* Sylvia Loeb é autora dos livros: Contos do divã: pulsão de morte… e outras histórias (Ateliê Editorial), Amores e tropeços (terceiro nome) e Heitor (terceiro nome).

 Entrevista postada em 31/12/2011

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Devaneio

Por Luciana Saddi
04/12/12 15:07

Internauta: Tenho criado alucinações onde morro e ligo pra todos que amo dizendo o que sinto e que estou prestes a morrer. Sempre ligo pra a garota por quem estou apaixonado, para a minha mãe, minhas irmãs, e novamente para garota que “amo”. Por quê? Quero atenção? Minha paquera está tão difícil que acho que se eu morrer ela vai se preocupar? O que são essas minhas viagens?

 

Luciana: Saiba que o que chama de alucinações são, na verdade, devaneios. Histórias que fantasiamos acordados, frutos de nossa imaginação e desejo. Os devaneios, em geral, possuem uma estrutura semelhante a alguns alicerces de nossa personalidade e têm muito a dizer sobre nós.

Me parece que nos seus devaneios há busca por reconhecimento, algo como: “agora elas irão sentir o que é bom para tosse” e não haverá retorno. É como se fosse a hora de dizer a verdade e sair de cena, pois não se pode voltar atrás depois de morto. Um ato meio heroico, meio triste e meio covarde, que causa culpa nessas mulheres. Por que causar culpa? Por que punir as mulheres de sua vida?

No seu devaneio há pitadas de melancolia, de amores impossíveis e de dificuldades intransponíveis. Certo masoquismo misturado ao triunfo – mesmo que seja pela morte. Sugere medo de enfrentar diretamente pessoas e situações. Esse medo lhe causa uma sensação de minoridade e impotência. As mulheres te parecem superpoderosas. Há conflito, indignação e passividade agressiva em relação a elas nessa encenação de telefonar depois de morto. Pouca coisa pode machucar tanto como a morte de um familiar, filho, irmão ou namorado.

É comum fantasiarmos com a reação dos que mais amamos diante de nossa morte. As crianças são mestres nisso, mas cada um de nós constrói a narrativa de acordo com uma espécie de desenho do próprio desejo ou do inconsciente. Difícil mesmo é a razão alcançar os conceitos de infinito e de finitude!

 

VERSOS DE ENTRETER-SE

À vida falta uma parte
– seria o lado de fora –
pra que se visse passar
ao mesmo tempo que passa

e no final fosse apenas
um tempo de que se acorda
não um sono sem resposta.

À vida falta uma porta.

Ferreira Gullar, In.: Barulhos (1980-1987)

 

Poema escolhido por Ana Tanis, psicóloga, bacharel em letras e curadora de poesia desse blog.

 

Dica: o filme, Os outros, de Alejandro Amenábar, aborda de forma assustadora a fantasia universal de controlar o que acontece a nossa volta depois que estamos mortos.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Casamento: liberdade sexual não impede mágoa nem ressentimento

Por Luciana Saddi
03/12/12 19:18

O casamento vem sendo um grande vilão. Homens e mulheres falam com frequência sobre suas infelicidades conjugais, amantes, separações e devaneios. O devaneio pela internet parece ser a droga do momento. Muitos vivem uma vida dupla, grande parte dessa é virtual. É impressionante a quantidade de insatisfação que a vida conjugal pode propiciar.  

As mulheres não são mais frígidas como as de antigamente, poucas reclamam disso e quando reclamam, culpam o parceiro que escolheram. Por sua vez, os homens esperam ter com suas esposas uma ardente vida sexual, mas se queixam da dura rotina do casamento e da falta de desejo e de criatividade delas.  Mesmo assim, quem se encontra fora do casamento quer casar e quem está dentro não sabe como sair. E quando fantasias amorosas ou relacionamentos são desfeitos levam ao pior dos lugares.

O casamento simboliza paz, harmonia, felicidade garantida e família feliz para as mulheres. Hoje, também para os homens. Esses, os homens, ainda ocupam o lugar de terem de sustentar uma família. Acreditam que podem ser felizes no casamento e temem a vida dupla, que antes era liberada. Quando percebem a situação infeliz em que se encontram, realizam a vida dupla sob forte culpa. As mulheres, hoje, também realizam a vida dupla. E claro, há muitas separações e novos casamentos realizados sob as mesmas regras: enorme investimento de ambas as partes, ela, no corpo e na festa; ele, no trabalho, para se tornar um bom provedor. E desilusão garantida pela transformação do amor em patrimônio, viagens e filhos.  A recém-conquistada liberdade sexual não é capaz de impedir que o casamento se torne o império da mágoa e do ressentimento.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Dor-de-cotovelo

Por Luciana Saddi
29/11/12 13:10

…um estado de base que tem um segmento de saudade, uma espera ansiosa do passado, uma inclinação para um bem ou condição desejável, mas que foi ou se supõe perdidos. E tem um segmento de teimosia, uma disposição à permanência e identidade, à concretização (isto) e à conformidade consigo mesmo (assim). E há, por fim, um outro, homem ou mulher, em que o bem da saudade parece ter coincidido com a posse teimosa de si mesmo.

HERRMANN, F. (1979) Andaimes do real: Psicanálise do Quotidiano. São Paulo, Casa do Psicólogo, 3 ed., 2001, pg. 255.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Quem somos?

Por Luciana Saddi
28/11/12 10:58

Perguntas como essa nos acompanham desde cedo, pois temos necessidade de encontrar algumas definições sobre nós mesmos e de criar algum contorno para o eu. Precisamos de respostas, porém, toda definição pode se tornar estática, autoritária ou perder legitimidade, pois a experiência de viver implica em transformação, em passagem do tempo e movimento. Estamos mais para casas- fantasmas, habitadas por desejos alheios, por forças incontroláveis e pela história, do que para casas de bonecas com suas miniaturas inanimadas, dispostas a representar uma vida perfeita. 

Ao nascer somos meninas ou meninos. Filhos de sicrana e beltrano. Loiros, morenos, gordos, magros, santistas, palmeirenses. Amados pelos pais, vistos como verdadeiros messias ou órfãos, rejeitados ou adotados e até, extremamente queridos por uma avó. Alguns vivem sem posição definida na família e sem família também. Outros são amarrados em enredos familiares opressores e acatam desígnios. Há também os questionadores que procuram escapar de alguma rede ardilosa de sentido. Desde cedo, teias nos enredam: bons alunos, esportistas, preguiçosos, corajosos, briguentos, mimados. Hetero ou Homossexual? Glutão, obediente, questionador… tantas definições passam por nós. Sedentos, procuramos respostas em revistas, horóscopos, cartomantes. Diga-me quem sou. As respostas não são universais, dependem da posição, dos desejos e do humor de quem se relaciona conosco: professores nos descrevem nos boletins, chefes avaliam, amigos elogiam e pais criticam – é frequente estarmos aquém dos desejos deles. As grandes verdades sobre nós são como mutantes sem aperfeiçoamento genético, morrem, transformam-se, renascem e morrem. Sobram restos, empoeirados ou polidos. Ficam manequins a serem vestidos por novos relacionamentos. Identidade e desejo se confundem. E assim vamos acreditando e desconfiando que sabemos quem somos e quem não somos.

Até que uma discrepante vontade insista em dar as caras, que um sonho revele algo extremo, que o medo da morte se imponha ou que um compulsivo desejo sexual perturbe a ordem estabelecida. As doenças, as perdas, os momentos em que nos sentimos postos à prova, demonstram que quando a rotina psíquica é quebrada habitantes escondidos aparecem para assombrar a casa. Fantasmas passam a conviver com os vivos, reivindicam posição de supremacia ou são conjurados por forças ocultas a voltarem aos seus esconderijos. E a desordem é instaurada… Por anos acreditamos em quem achamos que somos e, um dia, a casa cai. Somos destroços, terrenos baldios, casas reconstruídas, em reforma – depende da vastidão da ruptura.

 

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Remédios psiquiátricos em crianças

Por Luciana Saddi
27/11/12 10:17

Fale Comigo na Rádio Folha

Os remédios psiquiátricos ajudam a combater sintomas de agitação das crianças, mas, sozinhos, não resolvem o problema.

A psicanalista e blogueira da Folha Luciana Saddi comenta em seu podcast que é ilusão acreditar que um diagnóstico psiquiátrico gere uma compreensão do que se passa com uma pessoa em seu mundo interno.

Remédios são de grande ajuda no tratamento de uma criança, mas não desenvolvem os recursos internos que ela precisa para aprender a lidar com seus problemas.

http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/podcasts/1185450-luciana-saddi-remedios-psiquiatricos-em-criancas.shtml

 

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

A culpa por ter nascido: anjo caído

Por Luciana Saddi
26/11/12 11:22

Internauta: Sempre fui animada e vaidosa. Gostava de sair, me reunir com amigos. De um tempo pra cá, não tenho ânimo pra nada. Faço tudo por fazer, não me arrumo, dificilmente saio de casa e mal dou conta de minha filha. Tenho mil planos, mas não consigo concluir nenhum. Odeio meu corpo, pois depois que engravidei fiquei toda flácida, com muitas estrias, minha barriga caiu. Se um dia arrumar um namorado, acho que não vou me relacionar intimamente, pois morro de vergonha do meu corpo.

Tomo fluoxetina, mas nem adianta mais. Os médicos do SUS me ajudaram pouco porque eu tinha interesse em fazer uma cirurgia de redução de estômago e depois uma plástica. Sei que preciso me tratar psicologicamente, mas não tenho condições de pagar. Já pensei em me matar.

Luciana: Gravidez e maternidade rimam com crise, o que leva à falta de cuidado consigo mesma. Por isso fazer análise é fundamental, um trabalho de autoconhecimento, de cuidado para ajudá-la a se reorganizar e conquistar o que deseja.

Não é incomum pais atribuírem grandes e desastrosas mudanças em suas vidas à chegada dos filhos. Não sabemos como sua mãe viveu seu nascimento, talvez ela acreditasse que sua vinda tivesse destruído a vida dela. E você revive e repassa isso à sua filha.

Também alguns maridos competem com os bebês em busca de atenção das esposas, não aguentam certa exclusão e acabam por procurar outras mulheres. Algumas esposas, ao se tornarem mães, entregam-se de maneira tão fervorosa aos cuidados com os bebês que desinvestem dos maridos. Seja como for, a vida nunca mais será a mesma depois dos filhos. Amor, peso, culpa e responsabilidade recaem sobre os pais de forma irreparável, nem sempre é uma mudança catastrófica, mas muitas vezes é vivida como se fosse. E os filhos terão que carregar a culpa de terem nascido, é justo com eles?

 

 

a mulher pensa

 

a mulher pensa com o coração

a mulher pensa de outra maneira

a mulher pensa em nada ou em algo muito semelhante

a mulher pensa será em compras talvez

a mulher pensa por metáforas

a mulher pensa sobre sexo

a mulher pensa mais em sexo

a mulher pensa: se fizer isso com ele, vai achar que faço com todos

a mulher pensa muito antes de fazer besteira

a mulher pensa em engravidar

a mulher pensa que pode se dedicar integralmente à carreira

a mulher pensa nisto, antes de engravidar

a mulher pensa imediatamente que pode estar grávida

a mulher pensa mais rápido, porém o homem não acredita

a mulher pensa que sabe sobre homens

a mulher pensa que deve ser uma “super-mãe” perfeita

a mulher pensa primeiro nos outros

a mulher pensa em roupas, crianças, viagens, passeios

a mulher pensa não só na roupa, mas no cabelo, na maquiagem

a mulher pensa no que poderia ter acontecido

a mulher pensa que a culpa foi dela

a mulher pensa em tudo isso

a mulher pensa emocionalmente

 

Angélica Freitas, In.: http://loop.blogspot.com.br/

 

Poema escolhido por Ana Tanis, psicóloga, bacharel em letras e curadora de poesia desse blog.

 

Dicas: Lado a lado, Novela das 18hs, na Globo. A personagem, Catarina, culpa a filha pelas perdas após a maternidade.

1 – O Centro Clínico Fabio Herrmann oferece atendimento psicanalítico realizado por profissionais do Centro de Estudos da Teoria dos Campos, na cidade de São Paulo. Atendimento psicoterápico para crianças, adolescentes e adultos realizado por profissionais com experiência clínica.

Solicitações por e-mail:clinica.cetec@gmail.com
Site: www.teoriadoscampos.med.br

2 – A Gesto – Rede Psicanalítica inaugurou no final de 2010 um serviço de atendimento clínico a preço popular. Quem desejar ser atendido ou quiser mais informações, envie-nos um e-mail para contato@gestopsicanalise.com.br com nome e telefone de contato.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Poema para celebrar o mistério humano num domingo chuvoso

Por Luciana Saddi
25/11/12 17:33

O infinito íntimo  

 

Só no tempo exterior dependemos da história,

Intimamente não.

Em nós princípio e fim se avizinham

Para manifestação do infinito íntimo,

O infinito pelo qual o homem se conhece

Em curvas e espirais

O infinito íntimo  

Que independe da natureza, tempo e espaço,

Que registra o passado, o presente e o futuro

E que os transcende,

O infinito íntimo,

O núcleo simplíssimo de Deus

Que em nós anônimo reside

E pelo qual amamos e nos restauramos,

Que inspira a paternidade de Deus,

Sua encarnação e processão.

 

Murilo Mendes, Poesia Completa e prosa, Rio de Janeiro: Nova Aguilar.

 

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
Posts anteriores
Posts seguintes
Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emaillusaddi@uol.com.br

Buscar

Busca
  • Recent posts Fale Comigo
  1. 1

    Despedida

  2. 2

    CRÔNICA SENTIMENTAL EM UM TEMPO DE TODOS (4)

  3. 3

    CRÔNICA SENTIMENTAL EM UM TEMPO DE TODOS (3)

  4. 4

    CRÔNICA SENTIMENTAL EM UM TEMPO DE TODOS (2)

  5. 5

    CRÔNICA SENTIMENTAL EM UM TEMPO DE TODOS (1)

SEE PREVIOUS POSTS

Arquivo

  • ARQUIVO DE 26/05/2010 a 11/02/2012

Sites relacionados

  • UOL - O melhor conteúdo
  • BOL - E-mail grátis
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).