Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

Fale Comigo

por Luciana Saddi

Perfil Luciana Saddi é psicanalista e escritora

Perfil completo

Nostalgia

Por Luciana Saddi
07/03/13 10:34

Internauta: Li uma matéria sua falando que às vezes o homem não consegue tirar da cabeça uma grande paixão e quando se envolve com outra pessoa isto atrapalha. Vivo com uma pessoa e temos uma filha, somos totalmente felizes e realizados, porém, mesmo com essa nova responsabilidade, me sinto ainda ligado na minha antiga forma de viver.

 

Luciana: duvido que haja alguém totalmente feliz e realizado. Há momentos dessa natureza na vida, são momentos de satisfação, mas passam como tudo passa. Nós passamos, o tempo também.

Acreditar que no passado as coisas eram melhores é sintoma de nostalgia acentuada. De fuga para o passado. Um passado que nunca volta. Estamos sempre incompletos, convivendo com faltas e desejos. Pode-se procurar melhorar o que já conquistamos. As responsabilidades apavoram e diante delas pensamos que bom mesmo é quando éramos crianças, bebês ou fetos – naquele tempo a gente não tinha com o que se preocupar. Pura verdade inútil já que nenhum de nós fará uma viagem no tempo. Escapismo.

Investir no possível dá muito mais trabalho do que sonhar com um passado grandioso. A grande arte está em viver o presente.

 

MEUS OITO ANOS

                                        

Oh que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais

 

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras,

A sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais.

 

Como são belos os dias

Do despontar da existência

Respira a alma inocência,

Como perfume a flor;

 

O mar é lago sereno,

O céu um manto azulado,

O mundo um sonho dourado,

A vida um hino de amor !

 

Que auroras, que sol, que vida

Que noites de melodia,

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar

 

O céu bordado de estrelas,

A terra de aromas cheia,

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar !

 

Oh dias de minha infância,

Oh meu céu de primavera !

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã

 

Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delicias

De minha mãe as carícias

E beijos de minha, irmã !

 

Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Pés descalços, braços nus,

Correndo pelas campinas

A roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!

 

Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas

Brincava beira do mar!

 

Rezava as Ave Marias,

Achava o céu sempre lindo

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar !

 

Oh que saudades que tenho

Da aurora da minha vida

Da, minha infância querida

Que os anos não trazem mais

 

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras,

A sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

 

Casimiro de Abreu

 

Aurea Rampazzo, coordenadora das oficinas de criação literária do Museu Lasar Segall, escolheu esse poema clássico sobre a nostalgia, para essa pergunta/resposta.

Dica: Filme, Efeito Borboleta, de Eric Bress e J. Mackye Gruber. A temporalidade é a chave para entender que só temos uma vida, formada por escolhas, acertos e erros. O tempo não volta, apenas passa.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Comemoramos o quê?

Por Luciana Saddi
06/03/13 16:05

Entrevista sobre a atual situação da mulher

Falei para o site, Visonari: aonde avançamos, aonde paramos?

http://www.visionari.com.br/atitude/sexo-afetos-desafetos/item/213-afinal-mulheres-comemoramos-o-quê?

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Artigos para Amar – (Uma) Declaração dos Direitos da Mulher Amada (ed. Cognorama)

Por Luciana Saddi
06/03/13 10:07

Esse é o título do livro de, Caleb Salomão, que ao procurar estabelecer o que acredita ser necessário às mulheres no campo amoroso, levanta problemas importantes para a atualidade e o faz de maneira inteligente e sensível. Suas observações coincidem com as de muitos pensadores, psicanalistas, sociólogos e filósofos dedicados a iluminar o presente.

Destaco um trecho: O ser humano desaprendeu a sentir, fixando-se no emocionar-se. Com isso, passou a valorizar relações relampejantes no surgimento, trovejantes no desenvolvimento e fugazes na duração. Trata-se de uma simplória redução da capacidade de sentir, constituinte do ciclo de vida que anima e reanima a existência.

Caleb escolheu falar da mulher e do que lhe é básico em formato de artigos jurídicos, a linguagem parece, por vezes, um pouco prolixa e a forma de artigos não é minha predileta, mesmo assim, o livro ultrapassa, em muito seu objetivo, pois ao tratar da mulher e do amor realiza um ótimo inventário do nosso tempo.

Serviço:

“Artigos para Amar: (Uma) Declaração dos Direitos da Mulher Amada”

Autor: Caleb Salomão

Editora Cognorama – Vitória/ES

168 páginas

1º Lançamento em 6 de março de 2013

Local: Loja DECORANEA, na Rua Joaquim Lírio, 189 – Loja 7 – Praia do Canto – Vitória – Tel. (27) 3235 5099

Horário: 19h30

Pontos de venda: Livrarias Cultura, Livrarias da Vila, Livrarias Saraiva, Livrarias da Travessa, hotsite do livro (http://www.artigosparaamar.com.br/) e no site da editora (www.cognorama.com.br).

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Freud não explica, interpreta!

Por Luciana Saddi
05/03/13 10:28

Quando um ato falho surge ou quando cometemos um lapso de linguagem é comum que alguém nos diga a frase: Freud explica. Mas o que essa frase quer dizer? Freud quis mesmo explicar?

Nós psicanalistas somos mais humildes do que o senso comum imagina, pois nossa pretensão não é explicar, podemos, apenas, afirmar que Freud interpreta. Existe diferença entre explicar e interpretar.

A interpretação está na base de funcionamento de todas as psicoterapias analíticas. Indica um trabalho em busca de sentido para as vivências do paciente. Algumas vezes o sentido parece se ocultar num segredo, que desvendado faz o sujeito avançar no conhecimento sobre si. Outras vezes, interpretar significa favorecer a ligação entre pontos aparentemente desconexos, possibilitando a emergência de novos sentidos e novas percepções.

Interpretar também pode ser entendido como contar, narrar e expor. São referências para o mundo da ficção literária e do teatro, referências que dão vida aos personagens, são meios para exibir certas questões ou mesmo contar histórias que não devem ser esquecidas.

Ao analista resta levar em consideração o que emerge. Trata-se mais de penetrar e de identificar as entranhas que dão suporte às visões que temos de homem e mundo, e menos, muito menos, de procurar explicações sobre como se formam tais pensamentos e afetos.

Interpretar significa promover sentido e saber singulares. Tomar o discurso do paciente de tal forma que o faça revelar uma verdade intrínseca e, ao mesmo tempo, deixar ao encargo do paciente a elaboração desse momento. Pois, cada descoberta leva à quebra da rotina psíquica, cria uma pequena crise e promove aumento de patrimônio sobre nós mesmos.

Assim, da próxima vez que alguém lhe disser, Freud explica, replique dizendo, não, de jeito nenhum, Freud interpreta!

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

O sonhar e o sonho - Entrevista

Por Luciana Saddi
04/03/13 13:19

Desde a antiguidade, o Homem procurou sentido para o sonho e para o sonhar. Foi na passagem do século XIX para o XX que os sonhos ganharam uma interpretação psicológica. Freud entendeu que eram a expressão psíquica de vivências emocionais e desejos proibidos. Em 1900 lançou seu mais famoso trabalho, intitulado, a Interpretação dos Sonhos, obra que desvendou a vida onírica de forma científica e detalhada e mudou para sempre a concepção que temos sobre o sentido dos sonhos. Para conversarmos sobre esse tema convidei a psicanalista, Cecilia Orsini, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, coordenadora de seminários de Freud no Instituto de Formação da SBPSP e coordenadora de grupos de estudo particulares, no consultório, e em instituições fora de SP.

Luciana: O que foi que Freud descobriu em relação aos sonhos? 

Cecilia: Poucos sabem, mas Freud descobriu um  método muito eficaz de interpretar os sonhos, que demonstra que os sonhos tem um sentido. Seu método constitui-se em dividir o sonho em partes e deixar a mente solta, a pensar livremente em torno de cada detalhezinho do sonho (a famosa “associação livre”). E isso não é fácil… Pois é muito importante que o “sonhador” não omita nem critique nenhuma ideia que lhe ocorra, sob o pretexto de que sejam “bobagens” absurdas, assim como o sonho em si. Por incrível que pareça, a psicanálise constitui-se em torno daquilo que costumamos considerar absurdo ou bobagem. Pois este é o modo que temos para nos defender de pensamentos obscuros, inconfessos, eróticos, invejosos ou hostis ao outro. No entanto, estas ideias se apresentam como parte essencial daquela área da mente que Freud vai denominar, seguindo o romantismo e certos filósofos, de “o inconsciente”. Mas somente Freud irá considerar esta parte do nosso funcionamento psíquico como uma estrutura estável e regular, cuja lógica é absurda, e o mais incrível: tem grande eficácia na orientação da nossa conduta, embora desconhecida da nossa consciência. A experiência clínica desde então, há mais de cem anos, tem comprovado a hipótese do inconsciente.

Vou dar um exemplo: sonhamos que fazemos amor com um antigo namorado, mas ele tira uma gravata idêntica a do chefe e a “transa” acontece na cama conjugal, situação que lembra o marido… O que isso significa? Sempre vai depender – e isto é crucial – do que o sonhador associar a cada um destes detalhes… Já que não somos o “sonhador” deste sonho, vamos fazer um exercício livre. Nunca é demais a frisar: o verdadeiro sentido do sonho é peculiar, só vale a partir da cabeça do sonhador. Imaginemos, então, que este sonho pode significar, por exemplo, um desejo erótico encoberto em relação ao chefe e um desejo de trocar o marido pelo chefe e o ex-namorado, no que tange a relação sexual, que não é mais tão “quente”… Quer dizer, o sonhador não tem a menor notícia de que carregasse essa ideia.

Luciana: Como se consegue fazer esta “tradução”, duma imagem absurda para um sentido coerente ainda que conflitivo, desagradável ou difícil?

Cecilia: Freud supôs que os mecanismos de elaboração do sonho mais importantes são basicamente três:

1 – transformar pensamentos complexos em imagens visuais simples;

2 – deslocar o que importa para algo irrelevante;

3 – condensar diferentes situações e pessoas numa imagem só.

Seguindo nosso exemplo: 
Na gravata que o ex-namorado tira, um detalhe irrelevante, é que se revela, “deslocada” a presença do  chefe. E as três pessoas – ex-namorado, chefe, marido – aparecem “condensadas” na aparição de uma única figura: a do ex-namorado. E toda complexa situação a que se refere o sonho aparece num ato sexual. É justamente no sonho que se observa com mais nitidez, o modelo deste funcionamento mental inconsciente, que disfarça os pensamentos presentes na mente, no entanto, “impensáveis” para o sonhador.
Em primeiro lugar, o sonho transforma o texto destes pensamentos (cuja hipótese central é de que eles estavam presentes de forma inconsciente durante a vigília) numa imagem visual, no exemplo: mesclam-se pensamentos relativos a vida conjugal e relativos ao chefe.

Em segundo lugar, o sonho desloca o acento tônico de emoções mais poderosas (o desejo erótico pelo chefe) para partes do sonho que aparecem como particularmente inofensivas (uma gravata). É o que Freud chamou de “deslocamento”.

Em terceiro lugar, o sonho condensa numa única imagem situações emocionais muito diferentes: o desejo de mudar, a mornidão no casamento, a nostalgia de um enamoramento, o apelo sexual do chefe, os desafios que o chefe impõe, etc.  

Luciana: Como isto se relaciona ao sentimento popular, desde tempos imemoriais, que os sonhos comunicam algo importante?

Cecilia: Justamente pelo fato de os sonhos revelarem, de modo disfarçado, desejos inconscientes para aquele que sonha. No entanto, como a censura não é total, o sonhador desperta com a nítida sensação de que o sonho quer lhe dizer algo. A grande novidade em relação à tradição popular é o papel daquele que sonha na interpretação do texto do sonho. Freud dizia que seria como hieróglifos, uma língua obscura, que podemos decifrar, sem apelar para nenhum dicionário de símbolos, oráculos ou intérpretes, que ao contrário do que se pensa, afastam o sonhador do contato consigo mesmo. 

Luciana: Desde as descobertas de Freud, algo modificou-se em relação ao sentido dos sonhos?

Cecilia: Não, para aqueles que praticam a psicanálise ou psicoterapias baseadas em seu método e achados teóricos. Somente a ênfase em seu conteúdo, e o modo de utilizá-lo na sessão, varia ligeiramente de uma linha teórica para outra. A linha Junguiana, por exemplo, trata o sonho de maneira bem diversa, apelando para os simbolismos típicos, chamados de arquétipos, na sua relação com aquele sonhador específico. O simbolismo, como o entende a psicanálise, ainda que possa ser “típico”, ou seja, que se repita num dado universo de sujeitos, só pode ser considerado se aparecer, enquanto tal, nas associações do sonhador.

Luciana: É possível interpretarmos os próprios sonhos?

Cecilia: Sim , é possível, desde que se siga o método, que se tenha coragem e condições emocionais para tanto…Por isso é preciso fazer uma ressalva muito importante: como o sonhador está numa relação de defesa em relação àquilo que sonha, ele resiste a fazer as associações, onde experimenta suas ideias como temíveis e/ou absurdas. Portanto, dentro de um contexto de uma análise, o receio de defrontar-se com o absurdo, é amparado pelo psicoterapeuta. Mas, o próprio Freud, descobriu uma série de achados importantes, mediante a análise dos seus sonhos. Não que todos consigam agir como Freud em relação aos próprios sonhos, mas a aventura da descoberta do inconsciente aconteceu desta maneira…   

Luciana: Todo sonhador é um artista criativo enquanto sonha?

Cecilia: Sim, desde que se considere que o sonhador inventa todas as noites imagens, cenas, que diferem muito de sua vida cotidiana e que podem empurrá-lo para outras paisagens, como a arte costuma fazer.

Luciana: E os pesadelos?

Cecilia: Os pesadelos, ou sonhos de angústia, são aqueles sonhos em que a censura “falhou” um tanto. O que isso quer dizer? Que o “disfarce” promovido pelo mecanismo do sonho não foi tão eficaz. Um exemplo muito comum é o sonho com a morte de entes queridos. Para a vida desperta, é impensável que se queira perder uma pessoa amada. No entanto, em outra espaço psíquico, este pensamento é possível, por raiva, desgosto ou decepção profunda. 

Luciana: A grande obra, a mais importante, de Freud continua sendo a Interpretação dos Sonhos? Por que?

Cecilia: Sim. Por que é nesta obra que Freud revela ao homem o absurdo de si mesmo (coisa que a literatura e a arte já haviam feito, a sua maneira). Mas, a grande diferença no caso de Freud, é que isso aconteceu mediante o rigor de um método de trabalho e da comprovação de leis de funcionamento específicos, como aquelas apontadas na resposta à primeira pergunta. É nesse sentido que entendemos uma das afirmações mais conhecidas de Freud: a de que o homem sofreu o terceiro golpe em sua arrogância e vaidade, quando descobriu que a razão não é o centro de sua conduta. O primeiro golpe foi desfechado quando Copérnico demonstrou que a Terra não era o centro do Universo. O segundo, quando Darwin descobriu que o homem não era o centro da criação. E o terceiro, quando o homem descobre que seu “eu” não é senhor em sua casa…
Luciana: Depois de Freud muitos se interessaram pelo tema. Quais foram as contribuições que agregaram mais ao conhecimento produzido pelo pai da psicanálise?


Cecilia: Para falar a verdade, a concepção de sonhos descoberta por Freud foi tão essencial para os praticantes de psicanálise e de psicoterapias afins, que aquilo que se agregou representa muito mais “variações sobre o mesmo tema”, do que propriamente novas produções de conhecimento. São ênfases diferentes, maior atenção aos sonhos de angústia, maior atenção à dificuldade de “sonhar acordado”, ou seja, desejar e fantasiar, menor atenção em interpretar o sonho na sessão. No entanto, como o fulcro de minha prática e estudos está mais localizada em torno da obra de Freud (embora inclua também outros autores), pode ser que algum colega que tenha abraçado outros autores com mais afinco e dedicação, possa responder melhor esta questão.

 

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Poema para pensar sobre o peso do amor

Por Luciana Saddi
01/03/13 10:45

Agradecimento

 

Devo muito

aos que não amo.

 

O alívio de aceitar

que sejam mais próximos de outrem.

 

A alegria de não ser eu

o lobo de suas ovelhas.

 

A paz que tenho com eles

e a liberdade com eles,

isso o amor não pode dar

nem consegue tirar o amor na entend

 

Não espero por eles

andando da janela à porta

Paciente

quase como um relógio de sol,

entendo o que o amor na entende,

perdoo,

o que o amor nunca perdoaria

 

Do encontro à carta

não se passa uma eternidade,

mas apenas alguns dias ou semanas.

 

As viagens com eles são sempre um sucesso,

os concertos assistidos,

as catedrais visitadas,

as paisagens claras.

 

E quando nos separam

sete colinas e rios

são colinas e rios

bem conhecidos dos mapas.

 

É mérito deles

eu viver em três dimensões,

num espaço sem lírica e sem retórica,

comum horizonte real porque móvel.

 

Eles próprios não veem

quanto carregam nas mãos vazias.

 

“Não lhes devo nada” –

diria o amor

sobre essa questão aberta.

 

Wislawa Szymborska – poemas, Ed. Companhia das Letras.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Algumas palavras sobre as diferenças entre a Psicanálise e o trabalho de terapia sexual

Por Luciana Saddi
28/02/13 10:04

Texto inspirado no filme,  As sessões, de Ben Lewin,

O filme conta a história de Mark O’Brien, escritor e poeta que, ainda criança, contraiu poliomielite. Devido à doença perdeu os movimentos do corpo, somente mexe a cabeça, vive preso a um pulmão de ferro. Aos 38 anos, depois de muita angústia e medo assume perder a virgindade, pois deseja amar e ser correpondido. Católico praticante busca a absolvição de um padre, amigo e confessor, que o orienta a pedir ajuda especializada. Ele é atendido por uma psicóloga que sugere o trabalho de uma terapeuta sexual. A terapeuta enfrenta o enorme desafio de iniciar sexualmente um homem imóvel, que tem as sensações preservadas, mas que não as controla. Os encontros despertam emoções tremendas na dupla e na platéia. A mistura de bom humor, sinceridade, ternura e fragilidade do personagem é arrebatadora – impossível não amá-lo.

Algumas palavras:  

A Psicanálise despertou o mundo para a compreensão e estudo da sexualidade humana, levantou o tabu milenar que encobria as manifestações da sexualidade infantil e adulta. Freud nos mostrou haver uma correlação entre as neuroses e a repressão da sexualidade. Depois, o mundo mudou, veio a revolução sexual, a pílula e até as aulas de orientação sexual nas escolas.

O método psicanalítico trabalha com o nível simbólico do psiquismo, por meio de toques emocionais dedilha a alma do paciente – seu campo reside no universo das representações. O psicanalista “empresta” seu mundo interior para o paciente. A matéria prima do nosso trabalho é constituída por emoções, experiências, vivências e palavras. Extraímos de nós o material que é estimulado pela demanda do paciente, o elaboramos e o colocamos à disposição dos analisandos – promove-se uma vivência emocional bastante íntima e peculiar – assim são os encontros analíticos, difíceis de descrever.

Os trabalhos terapêuticos que se dirigem diretamente ao corpo são herdeiros das ideias dos primeiros psicanalistas, que seguiram linhas de investigação diferentes das de Freud. O trabalho de terapia sexual não utiliza a metodologia psicanalítica, trabalha em nível mais concreto, cognitivo e, muitas vezes, até de treinamento. É a experiência sexual que está em jogo. O terapeuta sexual empresta seu corpo, sua liberdade e conhecimento dos estranhos caminhos da sexualidade, o estimulo é direto.

As questões éticas implicadas nesse tipo de trabalho demandam Filosofia. Até que ponto podemos e devemos estar dessa forma com os pacientes é uma pergunta importante. Não tenho resposta. A Psicanalise não se pretende dona da verdade nem pretende ser uma ideologia da moda. Nossos pacientes são livres, essa é uma posição ética fundamental – não somos os responsáveis por eles, por suas vidas, descobertas e decisões. O analista acompanha o paciente/analisando, pode despertar emoções, lembranças e vivências – o trabalho analítico expõe o sofrimento – mas o analista não conduz o paciente a fazer o que ele analista acredita ser o correto. Essa é a área de responsabilidade do analisando, que pode fazer o que bem entender.  Os psicanalistas fazem uma longa formação para se prepararem para o atendimento dos pacientes. Essa formação pretende dar a condição de renunciar ao poder que, eventualmente, o paciente venha atribuir ao analista, para que ele adquira poder e autonomia sobre sua própria vida. Lacan dizia que o analista ocupava um lugar de suposto saber, é isso, suposto, apenas suposto.

Outra pergunta que o filme coloca é se o paciente não alcançaria essa possibilidade sexual com uma parceira de vida. Os homens, em geral, sentem muito medo de falhar e vergonha da inexperiência, mesmo os que não se encontram imobilizados, paraplégicos ou tetraplégicos. A fragilidade e o medo podem levar à escolha de um especialista, o terapeuta sexual  ou de um profissional do sexo (é o que mais ocorre em nossa cultura) que auxilie na diminuição do temor até que se sintam confiantes em controlar o processo e aprender (novos) rumos para a própria sexualidade.

Ao assistir o filme somos revisitados por angústias e preocupações referentes à sexualidade. O filme nos obriga a lembrar do próprio tormento em relação ao sexo. A solidão, o desejo de amar e ser amado e a dor do personagem principal se tornam universais.

Muitos pacientes com queixas na área da sexualidade se beneficiam da psicanálise, se libertam, pois a prisão se dá a nível psíquico e está relacionada a dificuldade em viver as próprias emoções. A sexualidade é uma emoção forte e prenhe de preconceito. O corpo e a sexualidade formam um campo a ser melhor investigado. O conhecimento que temos dessa área, por mais que tenha avançado, engatinha.

 

 

 

 

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Como convencer alguém a se tratar psicologicamente

Por Luciana Saddi
27/02/13 10:06

Fale Comigo na Rádio Folha

Reconhecer a necessidade de tratamento psicológico é muito difícil. “Se fosse uma doença física seria menos complicado, pois transformações no corpo seguidas de dor geram medo”, lembra a psicanalista e blogueira Luciana Saddi.

Para a especialista, o medo e a dor são excelentes aliados para adesão a um tratamento.

“Quando se trata de dor psíquica, os mais necessitados são os que menos percebem o próprio estado de ruína mental”.

Abaixo, Luciana explica que para levar alguém a se tratar é fundamental despertar angústia, dor e medo, mas sem fazer terrorismo. “É mais produtivo falar sobre as próprias aflições do que dizer o que o outro deve fazer”. Ouçam o podcast:

http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/podcasts/1218590-luciana-saddi-como-convencer-alguem-a-se-tratar-psicologicamente.shtml

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Perdão

Por Luciana Saddi
26/02/13 10:11

Internauta: O que é o “perdão” para a Psicanálise? Como se inicia o processo de perdoar pessoas que foram tão ruins conosco no passado? Como perdoar de forma mais “objetiva”, isto é, sem ter que recorrer a princípios religiosos? A religião católica diz que perdoar é a manifestação do amor ao próximo… O perdão significa, portanto, esquecer todo o passado e aprender a “amar” uma pessoa, mesmo que ela traga tantas memórias terríveis. Perdoar é inevitável? Perdoar é fingir que nada aconteceu? Devemos sempre perdoar?

Luciana: Perdoar é tema da religião. Jesus perdoa na cruz os que o condenaram. Ele olha os homens de cima, são ignorantes, não sabem o que fazem. O perdão, visto por esse ângulo, é uma forma de superação do ódio (diante da injustiça) e da vontade de castigo e vingança.

Psicanálise não é religião, não pretende um ideal ético para os homens. O psicanalista analisa as condutas humanas, os desejos, as paixões, o melhor, o pior, a psique humana. O conhecimento psicanalítico colabora com diversas áreas do saber. O julgamento não é função do analista. 

Mesmo assim há dois conceitos em Psicanálise que podem se enganchar no de perdão, mas não significam uma elevação ética: a elaboração e a posição depressiva.

Por meio da elaboração estabelecem-se conexões associativas com o patrimônio já consolidado de sentimentos e pensamentos. Um modo psíquico de cicatrizar as feridas. Essa sua pergunta está no escopo do trabalho de elaboração, por exemplo. Há traumas que estão sempre sendo elaborados e há questões que se tornam passado, podem ser recordadas, mas não mais revividas. Uma forma de engolir sapos e de amortecer a dor.

Posição depressiva é um conceito da psicanalista Melanie Klein, fala do momento em que a criança percebe que o objeto que ela odeia é o mesmo que ela ama. Vem a culpa e o medo de ter sido má, de ter destruído essa figura. Trata-se de um momento de integração  da criança, que a partir daí procura reparar os danos cometidos e evitar a agressão.

Posto isso, nem sempre é possível ou desejável perdoar, menos ainda negar afetos. O rancor pode se tornar um veneno, sim.  O excesso de amor também. De algumas pessoas é melhor nos afastarmos por um tempo ou eternamente. Há uma economia psíquica complexa, que devemos conhecer e respeitar, em que o amor e o ódio desempenham papéis importantes.

O tempo de digestão das experiências traumáticas é o da narração de si mesmo. Se inscreve na linguagem poética de cada um, muitas vezes essa linguagem é inventada ou descoberta num divã.

 

Mil Perdões

 

Te perdôo
Por fazeres mil perguntas
Que em vidas que andam juntas
Ninguém faz
Te perdôo
Por pedires perdão
Por me amares demais

Te perdôo
Te perdôo por ligares
Pra todos os lugares
De onde eu vim
Te perdôo
Por ergueres a mão
Por bateres em mim

Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti
Te perdôo
Por quereres me ver
Aprendendo a mentir (te mentir, te mentir)

Te perdôo
Por contares minhas horas
Nas minhas demoras por aí
Te perdôo
Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair

Chico Buarque

http://letras.mus.br/chico-buarque/85999/

Aurea Rampazzo, coordenadora das oficinas de criação literária do Museu Lasar Segall, escolheu o poema para essa pergunta/resposta.

Dica: Os Últimos passos de um homem, um filme de Tim Robbins, extremamente comovente, sobre o perdão e sobre o reconhecimento da culpa. A libertação reside na verdade.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Adoção – Entrevista

Por Luciana Saddi
25/02/13 09:21

A adoção é uma experiência universal, ocorre em todas as culturas, desde sempre. Também é uma enorme zona de preconceito, para melhor compreensão dos fatores envolvidos na adoção convidei, Gina Khafif Levinzon, para uma conversa. Ela é psicanalista, doutora em Psicologia Clínica, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, professora do curso de especialização em Psicoterapia Psicanalítica – USP e autora dos livros: “A Criança Adotiva na Psicoterapia Psicanalítica (ed. Escuta) e “Adoção” (ed. Casa do Psicólogo).                                                  

Luciana: Qual a diferença, se é que existe, entre um processo de filiação e um de adoção?

Gina: A adoção é um tipo de filiação na qual não há um vínculo consanguíneo entre seus membros. A palavra “adotar” provém do latim “adoptare”, que significa considerar, cuidar, escolher. Ela permite que pais e filhos possam ter um elo permanente e sólido, assim como nas ligações em que há uma continuidade biológica. Nesse sentido, podemos dizer que não há diferenças entre a filiação biológica e a adotiva, pois ambas atendem às necessidades básicas tanto dos pais quanto dos filhos.  

Por outro lado há características peculiares às famílias adotivas que se destacam, como o fato de haver entre a criança e os pais adotivos uma história anterior da criança com seus progenitores.  As repercussões deste fato variam de família para a família, e dependem das condições em que se deu a adoção assim como da forma de pais e filhos lidarem com seus sentimentos.

Luciana: Frequentemente, quando um problema ocorre com uma criança adotada há uma resposta pronta: é porque ele é adotado. Como é que a adoção se torna uma zona de preconceito?

Gina: Encontramos com frequência o preconceito de que a criança adotiva “sempre dará problemas”. O fato de ela não ter sido criada pelos seus pais biológicos faz com que ela seja vista como alguém “especial”, “diferente”. Há uma crença social de que o elo de sangue é preponderante na formação de uma família. Ele faz com que as pessoas se sintam parecidas, provenientes da mesma origem. O “diferente” muitas vezes é visto como ruim, ameaçador, estranho.

Ao mesmo tempo, existe uma percepção de que as quebras na continuidade do ambiente familiar de uma criança podem estar associadas a traumas e deixam sequelas que resultam em distúrbios e dificuldades de adaptação.  

Não há estudos conclusivos que mostrem que crianças adotivas apresentam mais distúrbios psicológicos do que as crianças que foram criadas pelos seus pais biológicos. A saúde psíquica de uma criança depende de vários fatores como as condições de abandono ou cuidado antes da adoção, a idade em que foi adotada, a motivação dos pais adotivos para a adoção, o clima familiar em que a criança passa a crescer, as angústias, medos e atitudes dos pais adotivos, as solicitações culturais.

É interessante observar que ser adotado não está apenas associado a uma ideia de que a pessoa terá mais problemas. A maioria dos super-heróis é adotada e eles são vistos como tendo poderes especiais, nesse caso para o bem…

Luciana: Por que alguns pais sentem tanto medo de contar aos filhos sobre a adoção?

Gina: Contar aos filhos sobre a adoção é um dos temas mais sensíveis e perturbadores para os pais adotivos. Alguns lidam com tranquilidade, enquanto outros sentem que poderão perder seus filhos quando estes souberem que havia outra mãe e outro pai em sua história. Nestes casos a falta de ligação biológica é sentida como uma ameaça constante e velada ao vínculo familiar. Imaginam que mesmo com todo o amor e cuidado que dão para o filho ele irá considerar os pais biológicos como “os verdadeiros pais”.

Ao mesmo tempo, olhar de frente para a história da adoção coloca os pais adotivos diante de sentimentos e angústias às vezes muito mal elaborados, como a questão da infertilidade, a experiência de abandono e rejeição da criança, as fantasias inconscientes de ter “tomado” o filho de outra pessoa, etc…

De forma geral, quando os pais estão tranquilos quanto ao processo de adoção, informar à criança de que ela é adotada se torna mais fácil. As reações adversas desta última, quando ocorrem, são devidas mais à angústia dos pais adotivos do que ao fato em si. O temor exacerbado dos pais adotivos pode estar ligado a dificuldades inconscientes relativas ao processo de adoção, projetadas no filho.

Luciana: Por que a resistência de algumas crianças em saber sobre a própria adoção, resistência que algumas vezes se torna negação?

Gina: Podemos dizer que a curiosidade dá uma medida de saúde psíquica. Perguntar, investigar, não só amplia conhecimentos como proporciona a formação de um sentimento mais sólido de identidade. Alguns filhos adotivos, no entanto, apresentam muita dificuldade em investigar sua origem. Sentem que são “diferentes”, o que está associado a uma visão pejorativa de si mesmos.

Saber de sua história de adoção é tocar em pontos sensíveis como o luto pela perda dos progenitores e o sentimento de rejeição. Alguns elaboram uma fantasia inconsciente de que foram abandonados “porque não eram bons” ou porque “eram muito destrutivos e perigosos”. Outros temem que os pais adotivos se magoem caso iniciem uma investigação sobre sua origem. Sentem-se curiosos, mas bloqueiam esta curiosidade em função disso. É comum nestes casos que os pais adotivos apresentem de fato uma dificuldade em tocar neste assunto, mesmo que não percebam este bloqueio.

É comum encontrarmos dificuldades escolares em crianças adotivas que reprimem intensamente o contato com sua história de vida e seus sentimentos. Se não podem pesquisar, também não podem aprender…

Luciana: É verdade haver um fantasma inconsciente de rejeição na criança adotada? Esse fantasma contribui para que tipo de comportamento?

Gina: Não se pode fazer uma regra geral sobre os sentimentos da criança adotada, afinal ela é uma criança como todas as outras. Por outro lado encontramos casos de crianças que apresentam intensos sentimentos de rejeição, que são devidos não só à sua história de abandono ou separação dos pais biológicos, como também ao seu relacionamento com os pais adotivos. Estes últimos podem rejeitar a criança, sem perceber conscientemente que o fazem, pelas diferenças que ela apresenta a eles ou pela frustração de não ter podido procriar um filho. 

Para lidar com o sentimento de rejeição a criança pode desenvolver comportamentos diversos, dependendo do grau de estabilidade de seu mundo psíquico. Ela pode, por exemplo,  recorrer a comportamentos provocativos, antissociais, ou pode reprimir sua espontaneidade tentando ser uma “criança boazinha” para agradar ao ambiente e garantir sua adoção.

Luciana: Quais fantasias são mais comuns na família que adota? E como essas fantasias interferem no comportamento da criança?

Gina: Ao decidirem ter um filho, os pais se veem diante da tarefa de adaptar “a criança imaginada” à “criança real”. No caso de uma filiação adotiva, essa adaptação é mais laboriosa, porque há um longo caminho até que a criança chegue a eles. Já de início, entre os pais adotivos e a criança há outro casal de pais, os biológicos e uma história que pode incluir outras pessoas como funcionários de abrigos, pessoas intermediárias, etc… Frequentemente há diferenças físicas e culturais importantes, com as quais precisam lidar.

Os pais se perguntam como será o futuro de seu filho. Alguns se tornam muito exigentes com ele, tentando contrabalançar o sentimento de que “ele é diferente ou inferior por ser adotado”. O excesso de expectativa em relação ao filho pode criar sérios problemas no estabelecimento de sua autoestima. Nestes casos ele sente que nunca está à altura do que esperam dele.

Encontramos em certas pessoas as chamadas “fantasias de roubo”: embora a adoção tenha corrido pelos meios legais, os pais sentem como se tivessem roubado a criança de outros pais que poderiam aparecer para reclamar o filho e tê-lo de volta. Essas fantasias correspondem a fantasias inconscientes infantis de “roubar os bebês da mamãe” e de tomar o seu lugar, normais até certo ponto, mas que nestas pessoas foram mal elaboradas.

O medo de perder o filho, quando exacerbado, representa um entrave importante na sua criação. Os pais podem não dar à criança os limites necessários para sua educação em função do medo de que ela os odeie e os abandone no futuro, com sérios prejuízos à formação desta última. Eles podem também incrementar nela a angústia de separação, dificultando os vínculos, inclusive amorosos, que ela estabelecerá no futuro.

Em certas situações os pais procuram substituir um filho perdido por uma criança adotada, o que pode acarretar sérios problemas de identidade nesta última. Ela passa a sentir que seu lugar no mundo é o de outra pessoa com quem ela teria que se identificar, e não o espaço para que ela possa ser ela mesma.

Luciana: Mito ou verdade que a criança adotada é muito mais provocativa e mais mal comportada que o filho biológico?

Gina: Mito. Tanto crianças biológicas quanto adotadas podem ser provocativas e mal comportadas. Isso vai depender das condições em que elas foram criadas. Além disso, o sentimento de orfandade não depende apenas de uma vinculação genética. Há filhos que vivem com os pais biológicos e se sentem mais abandonados do que outros que foram adotados e estão tendo suas necessidades básicas atendidas de forma satisfatória.

Luciana: O que é fundamental dizer para os pais que adotaram um filho?

Gina: É importante que os pais adotivos se preparem de forma adequada para a adoção. Eles precisam ter examinado e elaborado suficientemente os motivos que os levaram a adotar uma criança.

Necessitam ainda ser informados sobre as peculiaridades do mundo psíquico da criança adotiva e ajustar suas expectativas à realidade. Se uma criança foi adotada tardiamente, por exemplo, e veio com uma história importante de abandono e de maus-tratos é muito provável que vá apresentar inicialmente dificuldades de concentração e de adaptação na escola. Poderá também fazer uma espécie de “teste de aceitação” com comportamentos provocativos, para verificar se sua adoção resiste à sua impulsividade.

Cada pessoa tem sua especificidade. Respeitar as características individuais de cada um abre lugar para a construção de um sentimento de identidade e de autoestima sólidos e positivos. A criança adotada, mais do que qualquer outra, se vê às voltas com a aquisição de um espaço no qual ela possa ser ela mesma ao mesmo tempo em que se adapta ao meio em que vive. Os pais devem estar atentos para que o fantasma de uma nova rejeição não impeça o processo de individuação. Para isto, respeitar e celebrar com sinceridade as características peculiares de seu filho é essencial.

O acompanhamento psicológico feito por profissionais capacitados permite um trabalho profilático, prevenindo em certa medida o desenvolvimento de problemas futuros. Quando os pais se sentem atendidos em suas dúvidas e angústias naturalmente apresentam mais condições para lidar com os desafios de criar o seu filho. Afinal, precisamos todos nos sentir “adotados de fato”…

 

 

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
Posts anteriores
Posts seguintes
Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emaillusaddi@uol.com.br

Buscar

Busca
  • Recent posts Fale Comigo
  1. 1

    Despedida

  2. 2

    CRÔNICA SENTIMENTAL EM UM TEMPO DE TODOS (4)

  3. 3

    CRÔNICA SENTIMENTAL EM UM TEMPO DE TODOS (3)

  4. 4

    CRÔNICA SENTIMENTAL EM UM TEMPO DE TODOS (2)

  5. 5

    CRÔNICA SENTIMENTAL EM UM TEMPO DE TODOS (1)

SEE PREVIOUS POSTS

Arquivo

  • ARQUIVO DE 26/05/2010 a 11/02/2012

Sites relacionados

  • UOL - O melhor conteúdo
  • BOL - E-mail grátis
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).