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por Luciana Saddi

Perfil Luciana Saddi é psicanalista e escritora

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Paixão virtual

Por Luciana Saddi
24/05/13 11:46

 Internauta: Meu relacionamento estava em crise quando entrei num trabalho que me obrigava a falar com um cara todos os dias pela internet. Sem nos conhecer, trocávamos mensagens e fotos o dia inteiro! Ficamos completamente apaixonados virtualmente! Quando o trabalho acabou, resolvemos nos conhecer. Fiquei com vontade de largar tudo e viver essa paixão. Ele se sentiu culpado, porque eu já tinha um relacionamento, e desde lá não nos encontramos mais. Estou muito confusa e dividida.

Luciana: Nada mais fácil que uma paixão virtual, intensa e fugaz, inversamente proporcional ao amor!

Nem precisa de crise no relacionamento para a paixonite pegar…basta ter um amorzinho morno. Para algumas pessoas é muito difícil viver sem paixão!

Só uma análise nos diria qual a função da paixão para você. O que ela encobre? Algo morto ou deprimido?

Gosto da ideia de que todos os dias vivemos como num épico, lutas, conquistas e derrotas, por isso me pergunto se há mesmo necessidade de acrescentar na “mesmice dos dias” mais confusão.

 Amor feinho

 


Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.

Adélia Prado

Aurea Rampazzo, coordenadora das oficinas de criação literária do Museu Lasar Segall, escolheu o poema para essa pergunta/resposta.

Dica: Ulisses, de James Joyce. Quando um dia triste é transformado num grande épico!

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Adoção

Por Luciana Saddi
23/05/13 10:32

A adoção é uma experiência universal, ocorre em todas as culturas, desde sempre. A palavra adotar vem do latim e significa considerar, cuidar, escolher.

A adoção satisfaz a família que adota, que desejou ter uma criança e satisfaz a família que optou por dar o filho para a adoção. A falta é a marca que move todos os inúmeros personagens envolvidos no processo de aquisição de filiação. De um lado existe a falta de recurso para se ter um filho biológico, do outro a falta de recurso para se comprometer com os cuidados que um filho exige.

Há muitas razões para se adotar uma criança: esterilidade de um ou de ambos os pais, morte anterior de um filho, desejo de ter filhos após o vencimento do relógio biológico, vontade de ajudar os necessitados, de fazer o bem, medo de passar pelo processo de gravidez etc.

Toda filiação é um processo de adoção. Ter um filho implica numa construção imaginária sobre a criança, em compartilhamento de recordações, desejos e expectativas. Revive-se o sentido das palavras considerar, cuidar e escolher.

No entanto, responder a pergunta “por que adotar um filho?” se torna essencial no processo de adoção, pois o desejo de ajudar ou de amar não é razão suficiente para levar a cabo a adoção. Nem mesmo a riqueza material dos pais pode assegurar uma experiência razoavelmente boa de filiação. Ter um filho significa viver situações e sentir emoções as mais diversas e por longo tempo, exige comprometimento e capacidade de doação que superem o simples benemérito. Como qualquer filho biológico é importante para a criança adotiva saber que há um lugar escolhido especialmente para ela. Ser apenas o representante da bondade dos pais não lhe confere um lugar especifico, apenas dignifica os pais. A função de uma criança na família pode determinar estereótipos e sintomas, pode também representar um fardo inconsciente tanto para a família como para a criança.

Por isso é importante esclarecer as motivações conscientes e inconscientes presentes na adoção e assim criar a possibilidade de prevenção para dificuldades futuras.

 

 

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Aprenda a lidar com o ciúme entre irmãos

Por Luciana Saddi
22/05/13 11:55

Fale Comigo na Rádio Folha

No programa “Fale Comigo” desta semana, a blogueira da Folha Luciana Saddi fala sobre o ciúme entre os irmãos.

Segundo a psicanalista, isso ocorre porque o que está em jogo é a disputa pelo amor dos pais. “É o medo de perder o lugar já conquistado”, diz.

Abaixo, a psicanalista explica que a chegada “dos novos rivais” não aguça apenas a rivalidade infantil, aguça também a ambivalência entre o amor e o ódio, aumentando ainda mais o sofrimento daquele que se viu ameaçado pela perda do amor dos pais.

http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/podcasts/2013/05/1281847-luciana-saddi-aprenda-a-lidar-com-o-ciume-entre-irmaos.shtml

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Nunca mais - uma crônica triste

Por Luciana Saddi
21/05/13 10:14

Mais uma crônica minha no site Visionari. Dessa vez é uma crônica triste. 

http://www.visionari.com.br/cronistas/luciana-saddi/item/378-nunca-mais

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Como pensar criticamente a Psicanálise - entrevista

Por Luciana Saddi
20/05/13 11:08

A Teoria dos Campos é um pensamento crítico, brasileiro, sobre a Psicanálise. Foi criada por Fabio Herrmann e vem sendo difundida nas universidades e institutos de formação em psicanálise da América Latina. Em breve haverá um encontro gratuito na USP (VII Encontro Psicanalítico da Teoria dos Campos – Psicanálise com Arte nos dias 7 e 8 de junho). Para falarmos sobre esse Encontro e sobre a Teoria dos Campos convidei a psicanalista, Leda Herrmann.

Luciana: Você fará a conferência de abertura do VII Encontro Psicanalítico da Teoria dos Campos, muitos psicanalistas e psicólogos nunca ouviram falar nessa Teoria, em poucas palavras você poderia nos dizer o que é a Teoria dos Campos?

Leda: As “poucas palavras” constituem um desafio. Não se trata de uma teoria psicanalítica a mais, seja nos moldes de teorias que sistematizam conhecimentos sobre a vida psíquica – como, por exemplo, teoria da sexualidade, teoria das relações objetais –, seja como produções de autores que, como escolas psicanalíticas, fixaram-se no desenvolvimento de algum setor da ampla produção freudiana – kleinianismo, bionismo, lacanismo, para ficarmos apenas nas duas margens do Canal da Mancha.

Teoria dos Campos é o nome pelo qual ficou conhecido o pensamento de Fabio Herrmann, exposto em sua obra escrita. É este um original sistema de pensamento psicanalítico crítico-heurístico que, tomando a Psicanálise por inteiro como a nova ciência criada por Freud, desce aos seus fundamentos e, na busca do desvelamento da condição de eficiência do fazer clínico, se concentra no seu método, o do caminho que conduz à cura. Pensamento crítico porque parte da análise da situação da Psicanálise, principalmente a paulistana/brasileira, do final dos anos 60, início dos 70. Heurístico porque recupera o valor da descoberta de novos conhecimentos, perdido que fora pelo encolhimento da Psicanálise ao âmbito do tratamento psicanalítico que, em sua ação clínica limitava-se à aplicação dos conhecimentos desenvolvidos pelas escolas psicanalíticas, sem quase nada descobrir. 

Luciana: Como a Teoria dos Campos se vê frente às outras teorias da Psicanálise? Qual sua especificidade?

Leda: Nessa viagem pelos fundamentos da Psicanálise, a Teoria dos Campos recupera o alcance vislumbrado por Freud para esse novo ramo do conhecimento. Ou seja, um “horizonte de vocação”, o de tornar-se a ciência geral da psique. Recupera, também, a compreensão freudiana do sentido humano em uma conjunção de conhecimento e cura. Nesta tarefa, a Teoria dos Campos rompe com o aprisionamento no âmbito do sujeito individual a que o conceito de psique foi sendo imposto, estendendo seu sentido à toda produção cultural, isto é, humana.

Com a recuperação da posição do método psicanalítico, colocando-o no centro da cena clínica, seja ela a do tratamento psicoterápico, seja a da forma de pensar recortes do mundo humano, procede também a uma depuração da natureza interpretativa desse método e constrói conceitos metodológicos que estão implicados em todo ato clínico.

Assim, uma das importantes especificidades desse pensamento psicanalítico é sua visada operacional-metodológica que, em primeiro lugar, leva-o à condição de instrumento de comunicação entre analistas, seja qual for sua filiação teórica. Também, como nunca parte de uma formulação teórica já consagrada para explicar o que o paciente, ou o recorte do mundo lhe põem diante dos olhos, rearranja o lugar da teoria no interior desse corpo disciplinar. A teoria, mesmo a mais prezada construção freudiana, é descoberta ou redescoberta a partir do ato clínico, nunca aplicada a priori.

Para a Teoria dos Campos a teoria é o último elo da cadeia lógica de construção de conhecimentos sobre a psique, logicamente posterior à ação técnica e ao proceder do método. Aqui se faz necessária uma diferenciação. Método para a Teoria dos Campos é tomado em seu sentido etimológico – do grego caminho (odos) para um fim (meta) – sem nada a ver com o sentido de procedimentos garantidores da objetivação de um experimento, como nas ciências duras.

Luciana: O tema desse VII Encontro é, Psicanálise com Arte, por quê? Quais as relações entre arte e psicanálise?

Leda: Comecemos pela segunda pergunta. A relação arte e Psicanálise é apontada e explorada tanto na Psicanálise, como na crítica literária e das artes em geral. No âmbito da Teoria dos Campos, trata-se de uma relação de implicação e não de contigüidade. Há um imbricamento entre Psicanálise e arte. A Psicanálise constitui-se de e com arte. É uma ciência artística. Seu método interpretativo não permite verificação controlada de resultados ou comprovação empírica. Ele desvela sentidos e constrói conhecimentos. A interpretação nada prova, apenas cria condições para que outro sentido surja, rompendo o campo do sentido que dominava a comunicação do paciente ou congelava de uma só forma a compreensão do psicanalista de um determinado recorte do real humano que considerava. Ela implica um movimento artístico de criação que, possibilitando a emersão de sentidos possíveis, mas inaparentes, torna também possíveis novas representações para o paciente ou do mundo para o analista. Para Fabio Herrmann esse fazer clínico é análogo ao fazer literário e é para esse reino análogo que o psicanalista se dirige, habitando-o quando faz clínica ou, a partir dela, constrói teoria. Neste VII Encontro, o tema “Psicanálise com arte” estará sendo trabalho, nas várias mesas de apresentação de trabalhos, dessa perspectiva tão própria à Teoria dos Campos.

Luciana: Existe no fazer clínico do analista uma constante tensão entre arte e ciência?

Leda: Diante do que já expus, só posso dizer que sendo ciência artística tal tensão só se apresenta no fazer clínico quando, por descuido ou por pressão do imaginário científico, nos esquecemos momentaneamente da perspectiva artística do dedilhar da alma do paciente contida na interpretação psicanalítica.

Luciana: Os neurocientistas percebem como inestimáveis as descobertas Freudianas, no entanto atacam seu método e afirmam haver grande fraqueza no método interpretativo, mas como pode um método fraco descobrir tantas coisas sobre o funcionamento psíquico?

Leda: Sua pergunta já contém parte da resposta. Pois para os neurocientistas só serão validadas essas descobertas, penso eu, quando as puderem localizar nos intricados caminhos da anatomia e da fisiologia cerebrais. Aliás, Freud também nutria essa esperança. São níveis distintos de conhecimento – as descobertas arduamente conseguidas pela neurociência e as nossas construções teórico-artísticas.

Luciana: Você é diretora do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, o Instituto é o responsável pela formação de novos analistas. De qual maneira, a seu ver, os novos analistas devem ser formados?

Leda: O instituto de formação da SBPSP privilegia a formação de analistas clínicos ainda no estilo de profissional de consultório particular. Começa a ter lugar a preocupação com uma clinica extensa aproximadamente àquela pensada e teorizada pela Teoria dos Campos. Extensa não só como a que se pratica em instituições, mas extensa no sentido de estar atenta para o que determina a eficácia terapêutica da Psicanálise, ou seja, mais o coração do método do que as regras de seting.

Penso que o exercício do pensamento crítico é fundamental para a formação de novos analistas. A Psicanálise acumulou uma massa de conhecimentos ou teorias que se constroem a partir de aspectos particulares do pensamento freudiano. Faz-se mister hoje que o psicanalista ou o psicanalista em formação possa dar-se conta de que nos deparamos com vários conjuntos de conhecimentos, na sua maioria incomensuráveis e que se constroem em um processo metonímico, pars per toto. Este já é o primeiro passo no caminho de um pensamento crítico.

 

 

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Ainda sobre a inveja

Por Luciana Saddi
17/05/13 12:44

A Internauta Alessandra Valentin faz um comentário belo e perspicaz sobre o post inveja e sobre os diferentes destinos que podemos dar a esse sentimento tão frequente e tão negado. No caso ela usa a escrita e escreve uma história como forma de se apropriar de algo bom do outro sem causar nenhuma destruição: 

Alessandra: Gostaria de ter escrito um comentário no seu post sobre Inveja, mas achei que ia ficar muito longo. É que sou uma invejosa e queria te contar  minha experiência, que parece ser um pouco diferente da que você retratou.

Quando criança eu tinha inveja das minhas amigas, cujos pais me pareciam mais tranquilos do que o meu, que era violento e exibicionista. Quando entrei na adolescência deixei isso para trás e creio nunca mais ter invejado ninguém, exceto pelas lindas experiências de infância que, de vez em quando, alguém me conta.

Assim, mesmo que eu não prejudique ninguém (não vejo como poderia danificar boas memórias de infância de alguém) eu percebo que, justamente como você disse, há sofrimento para mim – na hora fico encantada e silenciosa ouvindo a estória, mas depois sinto auto piedade, inveja e raiva pela minha falta de sorte.

Decidi escrever essas estórias e descobri que isso me causa grande alívio. A conclusão é que acho que podemos fazer mil coisas com os sentimentos, mesmo os negativos, coisas produtivas e talvez belas. Espero que goste dessa que foi minha primeira estória, baseada em fatos reais. 

Sexta-feira de chuva

Natalia era uma garotinha muito loura e muito curiosa que gostava de ouvir a história de vida de sua mãe e pedia que repetisse mais uma, mais uma, mais uma vez.

O pai da Dra. Angela era mascate, vendedor ambulante de tecidos no interior do Rio de Janeiro. Toda segunda-feira ele saía de casa puxando sua carrocinha cuja pilha de tecidos coloridos ele tinha renovado com suas compras no sábado.

Angela e seus muitos irmãos e irmãs sempre pulavam da cama mais cedo na segunda-feira para ver o pai tomando café: café com leite e bolo de milho. A mãe também sentava, cruzava as mãos no colo e ficava suspirando e olhando para ele que catava migalhinhas de bolo, imaginárias e reais.

Depois do café ele saía pelo portão e o fechava atrás de si. Olhava pra trás e acenava com um sorriso resignado. Então ele se arreava à carrocinha e saía puxando. Angela era sempre a última a deixar o portão, ficava olhando aquele homenzinho diminuir, diminuir até desaparecer na lonjura de pó.

Toda sexta-feira o pai voltava. Quanto mais coloridas suas pilhas de tecidos, mais calado o pai, o peso do fracasso nas vendas fazia seus ombros, caídos, e o peito, encovado. Os filhos se revezavam em contar-lhe os causos da semana, piadas, fofocas da vizinhança. As filhas lhes traziam os chinelos, lhe penteavam os cabelos, outra lhe fazia massagem nos ombros e uma outra lhe trazia uma bacia de escalda pés com alecrim cujos vapores cheirosos o faziam fechar os olhos e respirar profundamente.

A mãe contava as artes das crianças e as respectivas reprimendas e castigos. O pai ouvia com uma boca serena.

Mas havia sexta-feiras que eram diferentes. Quando o barulho da carroça era serelepe no calçamento de pedra era porque estava vazia. O pai aumentava seu passinho conforme se aproximava e todos em casa se alvoroçavam – todos sabiam. Era sempre a mesma surpresa e ninguém queria mudar uma vírgula de seu roteiro:

O pai abria a porta com um só impulso elegante, o braço impelia a madeira tosca e cheia de farpas, o braço se alongava no movimento se transformando em braços abertos e levantados que, ou era um abraço ou era um gesto de vitória olímpica. Ninguém sabia, nem tampouco queria descobrir.

O pai, nessas ocasiões, carregava um pacotinho pardo amarrado com barbante cru. No cerimonial inventado pelo pai, ele subia na cadeira, a mãe tirava a toalha da mesa rapidamente feito uma assistente de mágico – se vestisse um corpete de lantejoulas não seria mais convincente.

No próximo passo o pai subia à mesa, alto, altíssimo ele era. As crianças batiam palmas e riam, riam, de olhos e bocas bem abertos, esperando pela mesma renovada surpresa.

O pai abria o pacote e fazia chover. Chover balas. Entre palhaço, mestre de cerimônias e mágico ele era o homem que fazia chover balas.

Toda vez que a Dra. Angela contava essa história dizia que nunca mais em sua vida de sucesso material, ela provou tamanho êxtase de felicidade. Ela dizia isso entre risos e lágrimas. Natália também gostava de contar a mesma história para sua filhinha.

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Neurose

Por Luciana Saddi
16/05/13 09:20

Os termos diagnósticos da Psicanálise se popularizaram de tal forma que os usamos para criticar amigos e colegas. Diante de certos sintomas e atitudes ou mesmo quando há um conflito insolúvel utilizamos o termo neurótico de forma livre.

O termo neurose foi introduzido na medicina no final do século XVIII, falava-se em doenças nervosas como palpitações, cólicas, hipocondria e histeria. No século XIX classificava-se sob o nome de neurose, tanto as enfermidades funcionais sem lesão ou inflamação comprovadas como as manifestações psíquicas que hoje sabemos corresponder a lesões do sistema nervoso. Portanto, tudo que alterasse o funcionamento psíquico era considerado neurose. Não se distinguiam os quadros de origem física dos de origem psicológica.

Os critérios para discriminar esses quadros serão desenvolvidos pela Psicanálise que adotará um sistema que privilegia a vida mental. Para as neuroses não há base física nem disfunção de órgão a justificar os sintomas. A neurose é produto de conflitos inconscientes, ideias contraditórias e insuperáveis, desacerto de afetos. Pura expressão do sofrimento psíquico é criada em nível simbólico, compreende a forma de armazenar e viver experiências. Está ligada à infância, e também indica uma estrutura e organização da personalidade.

Neurótico é aquele que sofre de forma estéril, segundo Freud. Preso ao passado se repete e repete situações dolorosas sem perceber. Os sintomas e sinais são múltiplos. Fobias, pânico, paralisias psíquicas, angústias generalizadas, dores e sinais de doença física sem correspondência orgânica que justifique o medo de viver e de se responsabilizar pelo próprio destino. Obsessões e compulsões, pensamentos circulares e expectativa constante de tragédia. Extrai algum prazer dessa miséria, por isso se aferra aos sintomas, se nega a acreditar que é o protagonista, mesmo que inconsciente. O neurótico compromete o funcionamento de uma área da vida ao desprezar sua própria realidade mental e se sai, relativamente bem, no resto. 

O tratamento analítico pode libertar o sujeito dessa tortura, não evita os sofrimentos do viver, apenas encontra meios para expressá-los.

 

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Desilusão

Por Luciana Saddi
15/05/13 10:17

Internauta: Outro dia estava num bar com meu namorado e amigos. Uma amiga lembrou-se de quando estivemos todos numa balada há três anos. Foi um dia peculiar. Fomos conhecer uma casa de sado masoquismo, estávamos bêbados, nos divertimos vendo toda aquela loucura, brincamos de pisar nos homens e nos beijamos. Tudo isso passou, foi só dessa vez. Nunca mais propus nada parecido. E depois de três anos, ele joga na minha cara e conta para mesa inteira que tinha beijado minhas amigas.  Fez um escândalo, saiu gritando e me deixou sozinha no bar. Se achou ruim porque não reclamou na hora? Isso me brochou bastante, e acho que a partir desse surto nossa relação começou a esfriar.

 

Luciana: desilusão (e decepção), como diria Paulinho da Viola: dança eu, dança você, na dança da solidão.

E se os amantes, “poetas” e namorados soubessem que para as mulheres é fundamental sentir admiração pelo homem? Admiração é um passaporte livre para o beneficio do desejo e sexo ardentes.

Homem inseguro e agressivo pode gerar alguma excitação, mas com o passar do tempo se torna brochante. Essa é a lição.

 

O que quer dizer

O que quer dizer, diz.
Não fica fazendo
o que, um dia, eu sempre fiz.
Não fica só querendo, querendo,
coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
Só se dizendo num outro
o que, um dia, se disse,
um dia, vai ser feliz.

Paulo Leminski (1944-1989)

Dica: Ela e outras mulheres, livro de Rubem Fonseca. Mulheres também sabem sacanear, mas os homens tem uma longa tradição nisso.

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Invejosos passam mal ao ver alegria alheia

Por Luciana Saddi
14/05/13 10:09

Fale Comigo na Rádio Folha

No programa “Fale Comigo” desta semana, a blogueira Luciana Saddi fala sobre uma atitude bastante familiar ao homem: a inveja.

“A inveja é um sentimento raivoso contra alguém que possui ou desfruta algo desejável. Sofremos ao ver o outro possuir o que queremos para nós”, explica.

A especialista afirma que o impulso invejoso prevê tirar ou destruir algo de bom que o outro tem. “O invejoso passa mal ao ver a fruição da alegria alheia”.

http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/podcasts/2013/05/1272918-luciana-saddi-invejosos-passam-mal-ao-ver-alegria-alheia.shtml

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Sessão de histórias - entrevista

Por Luciana Saddi
13/05/13 09:20

Um livro de psicanálise para o público leigo, mesmo para quem jamais fez análise, assim foi escrito Sessão de histórias, pelo psicanalista Ignacio Gerber*. Sua intenção foi transportar o leitor para a intimidade de uma sala de análise e, assim, desmistificar o fazer do analista. 

Luciana: Como surgiu a ideia do livro?

Ignacio: Surgiu como consequência natural de meu trabalho clínico. As histórias foram surgindo naturalmente durante as sessões. Tenho insistido que a atitude do analista que mais se aproxima da Neutralidade proposta por Freud é a sua própria naturalidade, mas desprovida, na medida do possível, de preconceitos e expectativas.

Luciana: O que o leitor pode esperar do seu livro?

Ignacio: Talvez o mesmo que eu espero: Que uma ou outra dessas histórias possa surpreendê-lo, “Puxa, isto nunca me ocorreu, nunca pensei as coisas dessa maneira”.  Afinal, era isso que Freud dizia almejar após uma boa interpretação.

Luciana: Quais dificuldades sentiu ao procurar introduzir o leitor na sala de análise, na relação paciente/ analista?

Ignacio: Poucas, na verdade.  Assim como uma pessoa que procura por análise já percorreu boa parte do caminho quando chega a nós, um leitor que se interesse pelo processo psicanalítico já está, em parte ao menos, preparado para tentar compreendê-lo.  O inconsciente é muito generoso para todos que o procuram.  Um bom companheiro, muitas vezes irônico ou mesmo maroto.

Luciana: Qual a importância de se contar histórias ao paciente? E ao leitor?

Ignacio: É porque histórias são insaturadas e insaturáveis, seu sentido é sempre aberto.  Através de um relato particular podemos vislumbrar o universal humano.  Como dizia o pensador romano Terêncio: “Sou homem e nada que é humano me é estranho”. É mais fácil para um analisando, um leitor, todos nós, aceitar o questionamento de uma sua característica possivelmente negativa, se ela for reconhecida como comum a todos nós, embora com diferentes níveis de proporção.

Luciana: Toda interpretação é uma história?

Ignacio: Não sei, precisaria refletir se toda interpretação é uma história, mas estou convencido que toda história pode ser uma interpretação.

Luciana: O Psicanalista Fabio Herrmann dizia que o análogo da Psicanálise é a ficção, a literatura, como você pensa essa afirmação?

Ignacio: Concordo e digo mais, a ficção e a psicanálise são produtos contingentes de algo maior: O Inconsciente Infinito.

Luciana: Você foi um engenheiro muito importante no Brasil, nos anos 60 e 70, o que te fez se tornar psicanalista?

Ignacio: A atração do mistério, do desconhecido, do sempre novo. Como engenheiro especializei-me em mecânica dos solos e fundações de grandes estruturas. Na prática eu tinha que lidar com a diversidade da Natureza e aprendi a respeitá-la e aos limites que ela nos impõe; afinal somos parte integrante dela.  Dos mistérios da Natureza para os mistérios da Alma deu-se apenas uma ligeira correção de rumo.

 

*e musico nas vagas horas                      

 

 

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