CRÔNICA SENTIMENTAL EM UM TEMPO DE TODOS (4)
04/12/13 10:04Escrita por Edgard Rodrigues:
O congestionamento das velas e mastros no cais. Na Avenida Costeira Felisa toma a ultima condução e desaparece para sempre. Dela, fica apenas o travo e a luz de uma doida nostalgia, um quase soluço.
Já havia uma tristeza irremediável esperando, desde o primeiro instante em que imaginei Felisa; sentimento pertencente a uma esfera maior do que a minha e, ao mesmo tempo, rigorosamente peculiar ao meu mundo interior. Tive um árduo trabalho até Felisa se configurar, enquanto ela se debatia para abandonar o limbo — uma garota prodigiosa. Percebo agora que o f de (F)Elisa, esconde o outro nome. Então, é como se Elisa voltasse apenas para me dizer: passei por tua vida só para dar forma a essa tristeza; para que ela, ao te pertencer, conformasse a tua personagem…
Rilke aventou a hipótese de que o nosso ritmo no Universo talvez fosse o da tristeza: estou andando por uma cidade desconhecida, à noite; a minha mulher partiu e nunca mais voltará; não terei mais qualquer chance de reencontrá-la ou de encontrar qualquer outra mulher, “noites brancas, sem mulheres.” Mas, de repente, passando de uma noite a outra, de um sonho a outro sonho, numa revigorante primavera, anoitece e Fanny me espera, namorada; sem laço ou compromisso algum, além de ser a minha namorada; vem, brota, e o seu sorriso, os seus olhos lindos, plenos de noite escura, avançam e deitam sobre mim a sombra fatal da mais arrebatadora felicidade.
Hoje, isento da política, trabalho, tento recriar; recorro às palavras, à pintura, em difícil labor diário; tento me aproximar (escravo feliz) desses conteúdos ardentes, desse dia e noite que passa, volta e continua, sem memória, sobre o caminho de retorno ao jardim primordial.
Olá, amigo! Parabéns! vc escreve com muita facilidade, com as letras vai tecendo um enredo. É nisso que nos prende a atenção; deixando nos atentos à sequencia das letras, com as quais vc brinca com as palavras , nos confundindo, para depois, nos esclarecer, como Felisa que se tramsforma em Elisa.
Excelente!!!
Maristella, muito obrigado pelo elogio.
Um abraço