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por Luciana Saddi

Perfil Luciana Saddi é psicanalista e escritora

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Idealcoolismo

Por Luciana Saddi
18/11/13 09:46

Resenha do livro, Idealcoolismo, de Antonio Alves Xavier e Emir Tomazelli, realizada pela psicanalista Vera Lamas:

A Coleção Clínica Psicanalítica, dirigida por Flávio Carvalho Ferraz, e editada pela casa do psicólogo, nos oferece mais uma grande contribuição para a compreensão do psiquismo humano, nesta obra tratando especificamente de um tema bastante controverso, a gênese do alcoolismo é reconstruído pelas mentes e mãos dos psicanalistas Antonio Alves Xavier e Emir Tomazelli.

A reconstrução já se inicia pelo título do livro: Idealcoolismo. Termo trabalhoso, tema trabalhoso, mas o livro trás atualização. Provoca e atualiza.

Esse título propõe, para início de conversa, a participação da psique humana, da história emocional do humano na construção do alcoolismo e se dirige para além das questões químicas e bioquímicas tão referenciadas nos dias de hoje.

Os autores nos apresentam que a relação estabelecida entre o indivíduo e o álcool, nos estados de alcoolismo, é da ordem da idealização, por isso o termo idealcoolismo, no sentido de que o álcool se torna a ilusão do divino ou o próprio divino que o protege da realidade e da sua humanidade frustrante em troca de sua oferenda, seu corpo e sua alma. Isto é, o estado emocional que o álcool provoca através de sua ingestão leva o indivíduo a um tal estado de afastamento das angústias e de sobre-vôo sobre os problemas humanos, que funda uma ¨religião¨ de veneração, fidelidade e entrega. Daí a intensa fidelidade ao álcool na vida do idealcoolista/alcoólatra: viver com um deus, viver como deus, viver como sendo um, com ele, para sobre-viver à realidade que teima em apavorar ou a humanidade que para ele traz infindáveis limites e sofrimentos.

O alcoólatra está tão infantilizado que vorazmente e narcisicamente (narcisismo de morte) se entrega fielmente ao deus álcool, torna-se um só com ele, evita a inveja e a frustração que a realidade nele provoca e afasta-se de sua frágil humanidade. Essa situação nos envia à gênese do idealcoolismo.

Embasados pelas formulações de Klein, Steiner, Brenman e Rosemberg, os autores nos remetem às primeiras relações no desenvolvimento humano, onde a solução oral para o afastamento das angústias é a forma privilegiada. Neste cenário se apresenta uma relação mãe-bebê bastante comprometida quer seja por componentes ativos de ansiedade, idealização e inveja, mas especialmente pela presença maciça da pulsão de morte. Acresce-se a isso, a ausência de um pai amoroso, protetor, dessexualizado. O encaminhamento dessa relação inicial mostra a formação de uma organização patológica com seus elementos de estreiteza mental e masoquismo mortífero, isto é, a predominância do Princípio de Nirvana e do prazer sobre o princípio da realidade: a dor como alívio da excitação e a ilusão de completude para não entrar em contato com a falta.

A excessiva presença da pulsão de morte transforma o masoquismo primário, a tolerância da dor para o crescimento, em desejos prazerosos de dor, em acúmulo de investimento libidinal na excitação como fonte de prazer ao invés de descarga; a inveja de não ser o ideal e de não ter o ideal conduz o alcoólatra à arrogância e onipotência e portanto a estreiteza mental com o assassinato do outro. Sobram ressentimentos e rancor, além das mágoas de um passado-presente, como combustíveis importantes para a repetição da parceria fusionada com o álcool. Relação com o mundo destituída do próprio mundo e portanto do triste, do belo e da responsabilidade. Por isso, um humano não humanizado.

Por fim, o livro nos apresenta três encontros. Primeiro a possibilidade de encontro da técnica psicanalítica com o paciente idealcoolista, paciente este que olhamos com certa esquiva, dúvidas e desesperança a respeito de seu tratamento. Encontro esse que produz uma contribuição: a introdução na técnica e na relação do choque de humanidade ou o ¨chum¨,  que visa humanizar o inumanizado-desumanizado, isto é, apresentar ao paciente a humanidade: o triste e o belo, o absurdo e o não absurdo, a responsabilidade, a vida e a morte. Expor exatamente aquilo que o ofende e o ataca, é o que deve ser oferecido e cultivado na relação clínica, relação essa que por si só já está assentada na realidade e na humanidade do par psicanalista-psicanalisando.

O choque de humanidade orienta-nos no árduo trabalho de caminhar com esses pacientes para a re-humanização de uma mente, desta vez capacitada a pensar e a privilegiar a vida, a reconhecer o humano potente, mas não onipotente.

O segundo encontro está na apresentação de um caso clínico, o encontro entre o analista e seu paciente idealcoolista, onde podemos não apenas ver os conceitos, a técnica e as reflexões apontadas pelos autores, mas também a trama emocional de ambos, as dores, as questões, as dificuldades do percurso.

O terceiro e último encontro é com a instituição mais tradicional na recuperação de alcoólatras, o AA. Um encontro entre os psicanalistas autores e sua disponibilidade de compreender a tábua de princípios da instituição, os doze passos do AA, bem como as pessoas que participam e a dirigem.

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