O ônus e o bônus nossos de cada dia
18/10/13 10:22Ana Tanis*: “Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!” As coisas, que simplesmente existem, e nós, que não suportamos a falta de sentido.
Às vezes
Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as cousas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Por que sequer atribuo eu
Beleza às cousas.
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer cousa que não existe
Que eu dou às cousas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então por que digo eu das cousas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as cousas,
Perante as cousas que simplesmente existem.
Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!
Alberto Caeiro
*Ana Tanis é psicologa, bacharel em letras e curadora de poesia do Fale Comigo.