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por Luciana Saddi

Perfil Luciana Saddi é psicanalista e escritora

Perfil completo

Poema para o sentimento de solidão e impotência

Por Luciana Saddi
05/09/13 10:38

Mundo grande

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem… sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo…
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.

Carlos Drummond de Andrade

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Comentários

  1. Sylvia Loeb comentou em 07/09/13 at 16:18

    Grande Drummond, do tamanho do mundo!

  2. Julia V. comentou em 10/09/13 at 10:05

    Interessante que no poema “Sete Faces” Drummond dizia “Mundo, vasto mundo, mais vasto eh o meu coracao”.
    Nesse poema “Mundo grande” ele parece reconsiderar o tamanho do seu coracao.
    Reconsiderar eh para poucos…
    que poeta!!

    Obrigada Luciana, seu blog eh incrivel. Uma das coisas mais lucidas da internet.
    Lucida de lucidez eh tambem
    Lucida de luz.

    • Luciana Saddi comentou em 10/09/13 at 11:53

      Julia, eu também sempre comparo esses dois poemas. Quando somos jovens nosso coracao é maior que o mundo, quando perdemos a esperança juvenil ou a onipotência nosso coracao diminui muito e nele mal cabe as proprias dores. Obrigada pelos elogios!

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