Usos e abusos
21/08/13 09:47Internauta: Meu namorado tem 34 anos e ainda mora com a mãe. Quando saíamos ele costumava paquerar outras mulheres declaradamente, me deixando mal. Eu disse que não toparia mais namorar caso continuasse com isso, os triângulos amorosos (paqueras declaradas) pararam. Mas toda essa história tem me gerado bastante dor e sofrimento. Há possibilidade de ele melhorar esses aspectos do complexo de Édipo mesmo sendo tratado por uma abordagem sistêmica? Não posso desprezar as melhoras dele após iniciar a terapia, mas ainda vejo muitos problemas. Percebo que me preocupo mais com ele do que o contrário.
Luciana: acredito que muitos caminhos levam a Roma. Segundo sua observação a terapia dele vem dando resultados, é isso que importa. Procuramos terapia não para ficar de bem com o outro, o fundamental é que a terapia dele seja útil para ele e não para você.
A sensação de injustiça num relacionamento é frequente quando fazemos mais pela relação e pelo namorado do que devemos e não colocamos limites claros nem para nós mesmos nem para ele. A questão é entender os motivos que levam você a essa atitude de doação (sempre vem a cobrança quando o sentimento de ser usada emerge), de suportar dor e sofrimento indesejados. É mesmo necessário pagar caro para ter um namorado? Se é necessário, quais os benefícios que você alcança com isso? A pergunta então não dever ser feita na direção dele melhorar ou não, mas na sua direção, do que você precisa para melhorar em relação a você mesma.
CANTARES DO SEM-NOME E DE PARTIDAS
I
Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.
Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.
Que este amor só me veja de partida.
Hilda Hilst, do livro de poemas: CANTARES DO SEM-NOME E DE PARTIDAS, que ganhou o prêmio Jaboti em 1983.
Dica: Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, romance da escritora Clarice Lispector, publicado em 1969. Uma bela e diferente história de amor e de descoberta de si. Para amar é preciso se conhecer, ter alguma segurança interna e abertura para o outro. E nunca se esqueça da reciprocidade.