Anedotas do Isaías: os bebedores de cerveja ( escrito por J.B. de Souza Freitas)
02/08/13 09:45Seguramente o precursor na produção científica do pensamento psicanalítico brasileiro, Isaías Melsohn tinha cinco anos quando, vinda da Polônia, sua família aqui chegou (em 1945, ele se naturalizaria). Filosofia, poesia, literatura, cinema, teatro, música, artes plásticas: espírito renascentista, seu conhecimento era abrangente. Orador e mestre encantatório, sua produção escrita, pouco volumosa, foi poderosa. Disso é exemplo Psicanálise em nova chave (Perspectiva, 2002). A personagem de tal calibre, senso de humor não poderia faltar – nele sobrava. Suas anedotas e a maneira como ele as contava tornaram-se clássicas. Canhestramente tentamos a seguir reproduzir uma delas. Isaías nasceu em Lublin, em 1921, e morreu em São Paulo, em 2009.
No anoitecer do sábado, chegam os dois no boteco. Senhor de meia-idade e rapaz pelos seus vinte e tantos anos.
Sentam-se em frente ao balcão e atendidos são por garçom estreante na casa.
– Uma cerveja – pede o senhor.
Traz o novato garçom a bebida e mais dois copos.
Enche o rapaz os copos que numa só estalada são ingeridos.
O movimento inda nem começara e o garçom novato por ali fica.
– Você é de São Paulo? – pergunta pro rapaz o senhor.
– Sou – responde o rapaz.
– Eu também – repica o senhor.
– De que família é o senhor? – pergunta o rapaz.
– Sacramento da Assunção – responde o senhor.
– Ué, que coisa! – volve o rapaz. – Eu também sou da família Sacramento Assunção.
– Não diga! – espanta-se o senhor. E comanda:
– Garçom, mais uma cerveja.
Enchem-se os copos e o senhor retorna:
– Em que bairro você mora aqui em São Paulo?
– Moro na Liberdade – esclarece o rapaz estalando outro gole.
– Ah, ah, eu também! – garante o senhor estalando outro gole mais.
– Garçom – ordena o rapaz -, mais uma cerveja.
Traz o garçom a cerveja a mais pedida e por ali permanece.
– E… em que rua – indaga o senhor -, …em que rua você mora lá no bairro?
– Moro – esclarece o rapaz – na rua da Glória.
– Num pode ser – espanta-se o senhor -, eu também moro na rua da Glória!
– Em casa ou apartamento? – quer saber o rapaz.
– Apartamento – assente o senhor. – E você?
– Apartamento também – replica o rapaz.
– Garçom – pede o senhor -, mais iúma!
Traz o espantado garçom a quarta cerveja.
– I qualé o nome – interroga o rapaz – do prédio que o senhor mora?
– Sayonara – afirma o senhor.
– Brincadeira! – rejubila-se o rapaz. – Sayonara! O meu também chama Sayonara!
– I o númuro do prédio – inquere o senhor -, qui númuro tem o prédio?
– Númuro 142 – explica o rapaz.
– Qui cocha! – admira-se o senhor. – Gualzinho o do meu!
– Garchom! – bate palmas o rapaz. – Machi iúma cerveja.
Vem o esbugalhado garçom com mais outra.
– I o cheu apartamento – interroga o senhor – im qui andar é?
– O meu – soluça o rapaz -, o meu é no oitavo andarich!
– Chó faltava echa! – festeja o senhor. – O meu, hic!, também.
– Num diga, hic! – banga e balanga o rapaz
– Garchom! – garganteia o senhor. – Outra. Machi outra.
Outra destampa o garçom.
– Qui númuro é o apartamento hic! do chenhor? – o rapaz totalmente instável continua curioso.
– O meuche apartamento é o hic! 84 – igualmente instável comprova o senhor.
– Achi… – arrota o rapaz. – O meuche, hic!, também…
– Qui cocha, hic!, mucho loca! – surpreende-se o senhor.
Exato instante em que o garçom novato totalmente aparvalhado ante tão aparvalhante diálogo é alertado pelo proprietário do estabelecimento:
– Não esquenta não. Um é o pai e o outro é o filho. E todos os sábados é essa mesma lengalenga entre os dois.
Fritz trabalhava numa cervejaria em Munchen. Um belo dia o Fritz checando os tonéis de cerveja escorregou dentro e acabou morrendo.
Tremendo trauma na Fábrica. A Diretoria sem outra solução foi até a casa da Frau Ingborn comunicar o fato.
Bateu à porta e a Frau Ingborn, Perguntou O que houve?
Infelizmente temo noticia muito ruim, Fritz teve acidente na fabrica. Caiu no cerveja e morreu.
Cuma ? Cuma ? Exclama a Frau ! Coma assim tão derepenta o Fritz morreu ?
O Diretor disse: Derepenta não, saiu 3 vezes pra mijar e voltou.