ESCATOLÓGICAS II
01/07/13 09:32Mais um presente de J.B. de Souza Freitas para o Fale Comigo.
Pero Rodrigues, da vossa mulher,
não acreditei no mal que vos digam.
Tenho eu a certeza que muito vos quer.
Quem tal não disser quer fazer intriga.
Sabei que outro dia quando eu a fodia,
enquanto gozava, pelo que dizia,
muito me mostrava que era vossa amiga.
(Quem avisa, amigo é. Estes versos – que devem ter emocionado e tranquilizado Pero Rodrigues – foram compostos pelo trovador português Martim Soares, em meados do século 13.)
Em riba daquela serra
tem um buraco de tatu;
passa rato, passa gato
no buraco do teu cu.
(Outra quadrinha popular recolhida por Mário de Andrade e incluída em seu livro Namoros com a medicina, editado originalmente pela Editora Globo de Porto Alegre, em 1939.)
Aqui dorme Bocage, o putanheiro;
passou vida folgada, e milagrosa;
comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro.
(Da lavra do próprio putanheiro, este epitáfio foi retirado das Poesias eróticas, burlescas e satyricas – publicadas em Paris, em 1915 – e ‘não comprehendidas em varias edições das obras d’este poeta’.)
Não entendi o porquê do termo “escatológico”, uma vez que o significado da palavra diz respeito a “excrementos”. Apenas mencionar-se apalavra “cu” no segundo poeminha não é suficiente.
Em tempo: Foram descobertos manuscritos do Fernando Pessoa que surpreendem pelo emprego de certas palavras. Acho que já deve conhecê-los, mas de qualquer forma reproduzo um deles, para “dialogar”com os “seus”.
Intitula-se “Alma de Corno”
Alma de côrno – isto é, dura como isso;
Cara que nem servia para rabo;
Idéas e intenções taes que o diabo
As recusou a ter a seu serviço –
Ó lama feita vida! ó trampa em viço!
Se é p’ra ti todo o insulto cheira a gabo
– Ó do Hindustão da sordidez nababo!
Universal e essencial enguiço!
De ti se suja a imaginação
Ao querer descrever-te em verso. Tu
Fazes dôr de barriga á inspiração.
Quér faças bem ou mal, hyper-sabujo,
Tu fazes sempre mal. És como um cú,
Que ainda que esteja limpo é sempre sujo.
Acho que podemos usar o termo, escatológico, quando nos consideramos o sexo como sujeira! esse comentário nao é uma defesa, apenas um chute numa bola que está em campo! obrigada pelo poema de Pessoa. Vou repassar ao J.B. de Souza Freitas seu comentário, talvez ele tenha algo mais acadêmico para lhe dizer, bj!
agora, parece que vão nos ouvir, o barulho desses ultimos dias valeu.