Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

Fale Comigo

por Luciana Saddi

Perfil Luciana Saddi é psicanalista e escritora

Perfil completo

Alfabetizada em plena Ditadura: que loucura! por Sílvia Rocha

Por Luciana Saddi
27/06/13 09:51

 ou  O último dia do outono de 2013

1964.

Eu tinha seis anos.

Imagine, ser alfabetizada em plena ditadura.

Que loucura!

2013.

Eu, agora, tenho 54 anos.

Saio na rua, caminhando e cantando e seguindo as canções. Lendo cartazes,       muitos cartazes. E, principalmente, respirando a almejada democracia. 

o povo unido é gente pra c…!

É mesmo. É muita gente. Éramos 100 mil na Manifestação de quinta-feira, dia 20 de junho de 2013.Avenida Paulista fechada de cabo a rabo.A Manifestação era, basicamente, para celebrar a redução do aumento dos 20 centavos nas tarifas de ônibus, trem e metrô na cidade de São Paulo, redução conseguida a duras penas e anunciada no dia anterior.

Havia outras bandeiras, muitas outras. As bandeiras das demandas do povo, como extinção da PEC 37, a chamada PEC da Impunidade*; cartazes e gritos contra a Copa das Confederações e contra a Copa do Mundo; contra a redução da maioridade penal; contra a corrupção; demonstrando indignidade em relação à votação em prol da “cura gay” por psicólogos; cartazes e mais cartazes pedindo melhorias na Saúde, na Educação,  na Moradia, na Segurança, no Transporte Público…

país desenvolvido não é aquele em que pobre anda de carro

é onde rico anda de transporte público

E havia as bandeiras de partidos pequenos, como o PSTU, o PSOL, a facção jovem do PSOL, o JUNTOS…Os simpatizantes desses partidos caminhavam, juntos, em direção à Vila Mariana, do lado direito da Avenida Paulista.Do lado esquerdo, manifestantes indignados com os representantes dos pequenos partidos. Gritos, gestos, indignação:

o povo unido não precisa de partido!

Fiquei muito impressionada com a ira manifestada contra os manifestantes que carregavam as bandeiras de seus partidos.Pessoas de todas as idade, prevalecendo os jovens, indignados com o grupo dos “embandeirados”:

o-p-o-r-t-u-n-i-s-t-a-s!

Fiquei estarrecida e temerosa com o clima de adversidade que pairava sobre o ar.

O tempo todo, me perguntava qual era o problema naquelas pessoas quererem propagar suas preferências partidárias.Muitos daqueles partidos e movimentos ajudaram a tecer as manifestações, os movimentos e os acordos, que agora ganhavam cada vez mais corpo, representatividade e voz. E temi pela democracia duramente conquistada.

este governo não me representa

Fui caminhando e me perguntando por que tanta raiva, tanta hostilidade diante dos pequenos partidos. Mas, também, considerei o pouco exercício do diálogo, da cidadania, da cultura política, da vivência e experiência do que poderia chamar de uma alfabetização política, ao longo dessas últimas décadas.

Oh! E, imediatamente me reportei ao meu BE-A-BÁ em plenos anos 1964… Que loucura!  

Tive tanta esperança que o Fernando Henrique  – um homem culto, “estudado” –  que foi professor da minha mãe e tia e disponibilizava a sua biblioteca pessoal para os alunos frequentarem, retirarem livros… Ah! este sim, este homem valoriza a Educação, vai reverter a decadência na qual a Escola Pública se encontra!, pensava… acalentava eu…  E toda a minha esperança retornou com Lula no poder. Ah! Exatamente por não ter estudado, não ter tido oportunidades quando criança e jovem, este sim, vai dar ao povo tudo o que ele não teve, vai retribuir os votos com o que o povo brasileiro necessita. Este, sim! E o que as ruas estão mostrando?

este governo não me representa 

Nem o futebol, que já foi inúmeras vezes apontado como o ópio da nação, está adiantando para distrair e dispersar as multidões:

Copa o c…

queremos transporte, saúde e trabalho!

queremos mais pão e menos circo!

ei! Ronaldo! paga o meu convênio!

queremos hospitais padrão FIFA! 

FIFA go home!

Ninguém nos perguntou se queríamos sediar a Copa do Mundo. Se queríamos investir a quantia de 28 bilhões, que tudo indica que chegará a 33 bilhões, em estádios e outras obras faraônicas, com tantas prioridades em nossas políticas públicas, como Educação, Saúde, Moradia, Transporte Público, Geração de Empregos, Segurança, Saneamento Básico…

vem pra rua vem

contra o governo!

Afinal, um governo que dá margem para um preconceituoso assumido e manifesto presidenciar uma Comissão de Direitos Humanos e permitir que se aprovasse, “na calada da noite”, a “cura gay” por psicólogos… Só pode ser mesmo um ato de provocação, pensei. Um ato para nos humilhar e nos chamar de impotentes e sem voz ou querer.

 Felicianus

anus feliz

atchim! saúde!

está doente? não! tô gay!

existe cura para fanatismo religioso?

E as pessoas caminhavam e convocavam as outras pessoas que assistiam, nos arranha-céus, à multidão paulistana, em marcha.Em muitos escritórios, luzes piscavam em sintonia e aprovação. Havia prédios com bandeiras do Brasil nas janelas… Com luzes verdes piscantes. Pais com filhos nos ombros, pessoas idosas, cadeirantes. E a multidão de jovens.

desculpe o transtorno estamos mudando o Brasil

Na hora de irmos embora, meu filho, o amigo dele e eu vimos colada do lado de fora da Estação Brigadeiro do metrô a pérola poética que resumiu  nossa aventura pela Avenida Paulista, naquela última noite do outono de 2013, o mantra que não quer calar:

cidade muda

não muda

* Proposta de Emenda Constitucional a ser votada pelo Congresso Nacional: Câmara dos Deputados e Senado Federal.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
  • Comentários
  • Facebook

Comentários

  1. Tomazo Kenzo comentou em 30/06/13 at 16:53

    Falou, falo, fal, fa, f
    falou falou e não disse nada

Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emaillusaddi@uol.com.br

Buscar

Busca
  • Recent posts Fale Comigo
  1. 1

    Despedida

  2. 2

    CRÔNICA SENTIMENTAL EM UM TEMPO DE TODOS (4)

  3. 3

    CRÔNICA SENTIMENTAL EM UM TEMPO DE TODOS (3)

  4. 4

    CRÔNICA SENTIMENTAL EM UM TEMPO DE TODOS (2)

  5. 5

    CRÔNICA SENTIMENTAL EM UM TEMPO DE TODOS (1)

SEE PREVIOUS POSTS

Arquivo

  • ARQUIVO DE 26/05/2010 a 11/02/2012

Sites relacionados

  • UOL - O melhor conteúdo
  • BOL - E-mail grátis
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).