Fome, saciedade e prazer em comer
20/06/13 13:38Vamos falar de uma realidade compartilhada por nós e, relativamente, recente:
Nas últimas décadas percebemos uma séria perturbação da relação do homem com a comida, advinda da regulação científica, dos ideais de beleza, da produção industrial e do bombardeamento da informação.
As pessoas parecem assustadas, contam calorias, falam sobre a natureza perigosa dos alimentos e não sabem o que têm vontade de comer. Comem por recomendação “científica” ou pela dieta da moda. Algumas engolem a comida rapidamente, outras nunca estão satisfeitas, pois trocaram o bife que desejavam por um enorme prato de alface. A comida engorda e mata. A fome deve ser negada e censurada.
O comer não é mais guiado por um estímulo interno chamado fome e não se escolhe livremente a comida. Deve-se comer de três em três horas ou deve-se comer x ou y a cada tantos minutos – teorias não faltam. Enquanto isso, o sinal de saciedade se perdeu. Ou comemos até sentir dor ou saímos da mesa com fome. A proibição de comer certos alimentos faz com que nos pareçamos com condenados à morte, que têm o direito de se esbaldarem com a última refeição. A privação real de prazer, de caloria e a privação fantasiada advinda das dietas e dos alimentos proibidos aumentam a compulsão. O círculo vicioso formado por desejo, proibição e punição se repete, pois a moralidade migrou do sexo para a comida.
Mas, o que aconteceu com os sinais de fome, saciedade e prazer que são fundamentais para o ato de comer? Parece que o homem se tornou despreparado para lidar com a própria sensibilidade.
A mentalidade de dieta é um termo usado por Susie Orbach para denunciar que a epidemia de obesidade da população mundial e o aumento dos problemas alimentares (anorexia, bulimia e distúrbio compulsivo de alimentação) estão diretamente ligados ao aumento do controle alimentar, por meio das dietas, para alcançar um corpo idealizado. Corpo que na contemporaneidade foi expulso do homem para ser contemplado e manipulado – identificado a um funcionamento tipo máquina, iguala-se a mercadoria.