Sessão de histórias - entrevista
13/05/13 09:20Um livro de psicanálise para o público leigo, mesmo para quem jamais fez análise, assim foi escrito Sessão de histórias, pelo psicanalista Ignacio Gerber*. Sua intenção foi transportar o leitor para a intimidade de uma sala de análise e, assim, desmistificar o fazer do analista.
Luciana: Como surgiu a ideia do livro?
Ignacio: Surgiu como consequência natural de meu trabalho clínico. As histórias foram surgindo naturalmente durante as sessões. Tenho insistido que a atitude do analista que mais se aproxima da Neutralidade proposta por Freud é a sua própria naturalidade, mas desprovida, na medida do possível, de preconceitos e expectativas.
Luciana: O que o leitor pode esperar do seu livro?
Ignacio: Talvez o mesmo que eu espero: Que uma ou outra dessas histórias possa surpreendê-lo, “Puxa, isto nunca me ocorreu, nunca pensei as coisas dessa maneira”. Afinal, era isso que Freud dizia almejar após uma boa interpretação.
Luciana: Quais dificuldades sentiu ao procurar introduzir o leitor na sala de análise, na relação paciente/ analista?
Ignacio: Poucas, na verdade. Assim como uma pessoa que procura por análise já percorreu boa parte do caminho quando chega a nós, um leitor que se interesse pelo processo psicanalítico já está, em parte ao menos, preparado para tentar compreendê-lo. O inconsciente é muito generoso para todos que o procuram. Um bom companheiro, muitas vezes irônico ou mesmo maroto.
Luciana: Qual a importância de se contar histórias ao paciente? E ao leitor?
Ignacio: É porque histórias são insaturadas e insaturáveis, seu sentido é sempre aberto. Através de um relato particular podemos vislumbrar o universal humano. Como dizia o pensador romano Terêncio: “Sou homem e nada que é humano me é estranho”. É mais fácil para um analisando, um leitor, todos nós, aceitar o questionamento de uma sua característica possivelmente negativa, se ela for reconhecida como comum a todos nós, embora com diferentes níveis de proporção.
Luciana: Toda interpretação é uma história?
Ignacio: Não sei, precisaria refletir se toda interpretação é uma história, mas estou convencido que toda história pode ser uma interpretação.
Luciana: O Psicanalista Fabio Herrmann dizia que o análogo da Psicanálise é a ficção, a literatura, como você pensa essa afirmação?
Ignacio: Concordo e digo mais, a ficção e a psicanálise são produtos contingentes de algo maior: O Inconsciente Infinito.
Luciana: Você foi um engenheiro muito importante no Brasil, nos anos 60 e 70, o que te fez se tornar psicanalista?
Ignacio: A atração do mistério, do desconhecido, do sempre novo. Como engenheiro especializei-me em mecânica dos solos e fundações de grandes estruturas. Na prática eu tinha que lidar com a diversidade da Natureza e aprendi a respeitá-la e aos limites que ela nos impõe; afinal somos parte integrante dela. Dos mistérios da Natureza para os mistérios da Alma deu-se apenas uma ligeira correção de rumo.
*e musico nas vagas horas