Intolerância ao feminino – Entrevista
06/05/13 09:22Quanta agressão uma mulher pode suportar ao longo da vida? Convidei para uma conversa a psicanalista, Miriam Tawil*, que esteve no X Diálogo Latino-americano inter geracional entre Homens e Mulheres – “INTOLERÂNCIA AO FEMININO”, organizado pela Associação Psicanalítica Mexicana e pela Cowap, grupo que estuda psicanálise e gênero.
Luciana: O que significa o titulo desse encontro: Intolerância ao feminino?
Miriam: O título do encontro surgiu dentro de um grupo de psicanalistas que vem se debruçando sobre essa questão há tempos com o objetivo de investigar as várias faces da intolerância ao feminino — como ela acontece entre homens e mulheres, entre as próprias mulheres, em diferentes culturas, religiões, na política, na literatura e em diversas manifestações das sociedades através dos tempos. A ideia é analisar diferentes situações, verificando quando e se houve avanços e transformações ou não.
Luciana: Quando a intolerância começa? É transgeracional? E como ocorrem as comunicações inconscientes contrárias ao feminino na primeira infância?
Miriam: Sim, a intolerância é transgeracional, poderiamos dizer quase genética. Vai passando pelas gerações. A análise possibilita que este fenômeno pare de se perpetuar ao permitir a ocorrência de quebras nessa corrente. Por exemplo, uma mulher pode vir a ser diferente de sua mãe, avó, e não tolerar ser colocada como uma pessoa sem espaço ou sem direito de ter uma existência separada. Ao contrário de sua mãe ela poderá aceitar pensamentos diferentes.
Neste encontro falou-se da misoginia originária, assunto polemico, pois estaria presente nos bebês de ambos os sexos devido ao fato de ter uma mãe para o qual se é “Majestade o Bebê” e depois, inevitavelmente, ocorre uma ferida narcísica, pois o bebê deixa de ser tudo para sua mãe. Isso é fonte da intolerância ao feminino. O feminino que “seduz e abandona”.
Também se falou num interessante aspecto da dinâmica do feminino: a dificuldade de se apropriar das conquistas sem se sentir culpada. Muitas mulheres ficam reféns de situações adversas e se rendem a elas, depois de muita luta.
Luciana: E a intolerância no âmbito familiar? Conhecemos claramente as situações de abuso sexual e violência doméstica, quais seriam as formas menos explicitas de intolerância, mas nem por isso menos nocivas?
Miriam: São muitíssimas as formas veladas e disfarçadas de violência no âmbito familiar. Cada caso merece um estudo especial. Por exemplo, pais super protetores podem gerar violência nos filhos. Também nociva é a violência do abandono. Pais que não podem estar presentes, pois têm de trabalhar e deixam os filhos com cuidadores nem sempre muito responsáveis. Que tipo de presença esses pais exercem na família?
Quais modelos passamos de tolerância Inter-relacional? Existe tolerância para com um pensamento diferente? Há sinceridade e liberdade de expressão? São aspectos que determinam violências menos explícitas, nem por isso, menos danosas.
Luciana: E a intolerância no âmbito social? Podemos afirmar que há formas diferentes de acordo com o nível socioeconômico ou cultural?
Miriam: No âmbito social o assunto é muito sério. Sim, existem formas diferentes de acordo com o nível socioeconômico e social. Por exemplo, numa tribo africana, as mulheres, após sofrerem muito abuso por parte dos homens resolveram se emancipar dos homens – procuraram educar aos meninos para que não maltratassem as mulheres. Parece que tiveram muito êxito, a idealizadora foi premiada por Hillary Clinton. Porém, infelizmente, a violência existe em todas as classes sociais. Pode ser maior nas famílias de baixa renda. Homens muito cultos podem fazer e dizer barbaridades com relação à intolerância ao feminino.
Luciana: É valido afirmar que a desigualdade de gênero é produto das relações de poder entre homens e mulheres?
Miriam: Penso que sim, antigamente na poligamia isso era muito claro, os homens podiam ter quantas mulheres pudesse sustentar. Existe, portanto uma questão econômica envolvida. Ainda hoje o poder está ligado ao dinheiro e, em geral, o homem traz o sustento e a mulher cuida dos filhos. Como diz o velho ditado: “Quem paga manda”. Hoje muitas vezes são as mulheres que trazem o dinheiro e o que se vê nessas parcerias é um homem desvalorizado agredindo mais a mulher.
Luciana: Há novos modelos de feminilidade e masculinidade? Quais seriam seus paradigmas?
Miriam: Sim, os paradigmas mudaram. Tudo passa por uma mudança radical de pensamento, nada mais é como antes: casamentos homo afetivos e filhos desses casamentos, licença maternidade aos homens, produções independentes, congelamento de óvulos, todas as técnicas de reprodução assistida, possibilidade de mudar de sexo, escolher o sexo do filho, podem trazer um grande alento a indivíduos antes marginalizados, casais inférteis e dai por diante. As noticias de novidades aparecem todos os dias. Educar no gênero neutro, a bissexualidade, trazem questões paradigmáticas ao menos para mim.
Seria interessante falar da intotelerância ao masculino no mundo de hoje. Uma vez que, com as novas relações de poder, as mulheres estão tão agressivas se não mais do que os homens.
gostei da ideia, vou procurar alguém para entrevistar, obrigada
Discordo de Ronald Soares dos Santos. Os homens continuam ganhando no quesito agressividade. E também nos “jogos de agressão”.