Ainda sobre a palavra
29/03/13 10:03Julia V, internauta, fez a tradução do belíssimo poema, Poema de amor para ninguém em especial, de Mark O’Brien, que aparece no filme, As sessões. Para quem não assistiu o filme nem conhece a história do poeta vale dizer que ele teve poliomielite na infância e passou a vida sem poder se mexer do pescoço para baixo, embora tivesse a sensibilidade preservada.
Poema de amor para ninguém em especial
Deixe-me tocá-la com minhas palavras
Pois minhas mãos inertes pendem
como luvas vazia
Deixe minhas palavras acariciarem seu cabelo
deslizar tuas costas abaixo
e brincar em teu ventre
pois minhas mãos,
de vôo leve e livre como tijolos
ignoram meus desejos
e teimosamente se recusam a tornar realidade
minhas intenções mais silenciosas
Deixe minhas palavras entrarem em você
carregando lanternas
aceite-as voluntariamente em seu ser
para que possam te acariciar devagarinho
por dentro.
Love poem to no one in particular
Let me touch you with my words
For my hands lie limp
as empty gloves
Let my words stroke your hair
Slide down your back
And tickle your belly
For my hands,
light and free flying as bricks
Ignore my wishes
And stubbornly refuse to carry out
my quietest desires
Let my words enter your mind
Bearing torches
Admit them willingly into your being
So they may caress you gently
Within
A poesia é a mais perfeita, acabada e maravilhosa fantasia de uma pessoa “normal”.
Obrigada Luciana, por compatilhar suas impressoes, e esta poesia de amor de M.O’Brien, conosco.
Humildemente deixo aqui um testemunho meu, de como eh dificil “penetrar no reino das palavras” (C.D. Andrade, em “Procura da Poesia”), que para cada um eh inexplicavel fonte ou miragem do deserto.
“Nao tenho palavras”
Ai! como é duro não ter palavras
não ter palavras
para que a poesia possa viver.
Elas estão entaladas
como o travo do caqui verde
garganta traqueia esofago
as cordas nao vibram
goiaba verde.
Eu cuspo
mas o resto, infectado,
as palavras belas,
restam no travo:
A cortina do quarto.
A folha do capim que
oscila
vacila.
Vacilo.
Uma tarde de vento.
O sol alaranjado.
Teus pelos.
Está tudo em mim
sem palavras
em forma de beleza,
e fico assim:
pobre.
Pois não consigo
com-partilhar.
Adorei o poema do Mark O’brien trazido por Julia. Delicado, sedutor, romântico. Não sei quem é o autor, vou pesquisar.