Nostalgia
07/03/13 10:34Internauta: Li uma matéria sua falando que às vezes o homem não consegue tirar da cabeça uma grande paixão e quando se envolve com outra pessoa isto atrapalha. Vivo com uma pessoa e temos uma filha, somos totalmente felizes e realizados, porém, mesmo com essa nova responsabilidade, me sinto ainda ligado na minha antiga forma de viver.
Luciana: duvido que haja alguém totalmente feliz e realizado. Há momentos dessa natureza na vida, são momentos de satisfação, mas passam como tudo passa. Nós passamos, o tempo também.
Acreditar que no passado as coisas eram melhores é sintoma de nostalgia acentuada. De fuga para o passado. Um passado que nunca volta. Estamos sempre incompletos, convivendo com faltas e desejos. Pode-se procurar melhorar o que já conquistamos. As responsabilidades apavoram e diante delas pensamos que bom mesmo é quando éramos crianças, bebês ou fetos – naquele tempo a gente não tinha com o que se preocupar. Pura verdade inútil já que nenhum de nós fará uma viagem no tempo. Escapismo.
Investir no possível dá muito mais trabalho do que sonhar com um passado grandioso. A grande arte está em viver o presente.
MEUS OITO ANOS
Oh que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
A sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais.
Como são belos os dias
Do despontar da existência
Respira a alma inocência,
Como perfume a flor;
O mar é lago sereno,
O céu um manto azulado,
O mundo um sonho dourado,
A vida um hino de amor !
Que auroras, que sol, que vida
Que noites de melodia,
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar
O céu bordado de estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar !
Oh dias de minha infância,
Oh meu céu de primavera !
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delicias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha, irmã !
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Pés descalços, braços nus,
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas
Brincava beira do mar!
Rezava as Ave Marias,
Achava o céu sempre lindo
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar !
Oh que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Da, minha infância querida
Que os anos não trazem mais
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
A sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Casimiro de Abreu
Aurea Rampazzo, coordenadora das oficinas de criação literária do Museu Lasar Segall, escolheu esse poema clássico sobre a nostalgia, para essa pergunta/resposta.
Dica: Filme, Efeito Borboleta, de Eric Bress e J. Mackye Gruber. A temporalidade é a chave para entender que só temos uma vida, formada por escolhas, acertos e erros. O tempo não volta, apenas passa.