A mentalidade de dieta
15/02/13 08:27Diante de um prato de comida, de um buffet ou mesmo da fome, encontramos pessoas perdidas, tentando contar calorias, saber o que é cientificamente permitido e emitindo as mais criativas opiniões sobre os alimentos e a alimentação. Opiniões que parecem lastreadas em artigos científicos publicados em jornais ou revistas. Vale notar que esses “artigos científicos” de última moda descobrem propriedades exóticas nos alimentos ou mudam de opinião a cada semana. Mesmo assim ou por causa disso, estamos desconectados do ato de saciar a fome com o alimento saboroso de nossa escolha e com a quantidade que sentirmos ser suficiente. Nossa sociedade desaprendeu a comer, teme comer ou nem mesmo se permite comer e investigar a própria alimentação. Mediados por informações diferentes, nos encontramos perdidos diante do controle produzido por esses intermediários: ciência, meios de comunicação, propaganda, moda, indústria, família e escola, que criam ou propagam essa nova moralidade e produzem a mentalidade de dieta – a consequência é perda de autonomia do homem em relação a sua alimentação.
Mentalidade de dieta é um termo que se refere a uma política de controle típica da sociedade de massa de consumo – controle exercido sobre nossos corpos e gostos -, que nos aliena dos sinais vitais da alimentação: fome, saciedade e prazer em comer. É a causa de grande parte dos problemas alimentares, e não sua cura. Significa que o ato de alimentar-se deixa de ser uma decisão pessoal, impõe-se de fora, tomando o lugar do pensamento.
A mentalidade de dieta perturba os sinais vitais da alimentação – pessoas submetidas cronicamente a dietas costumam não saber se sentem fome e não reconhecem o sinal de saciedade. Alimentam-se rapidamente, procuram ingerir os alimentos “proibidos” em grandes porções, pois nunca saberão quando poderão usufruir desse prazer novamente. São como condenados a morte diante de sua última refeição. É que estão submetidos à privação de prazer e à privação calórica, o que os torna propensos ao distúrbio compulsivo de alimentação. Onde há privação, haverá compulsão.
A autonomia alimentar ocorre quando a alimentação é guiada pelos sinais vitais internos, pela percepção da fome, pela escolha livre do alimento desejado para aquele momento de fome e pela percepção do sinal de saciedade. É importante perceber quando usamos os alimentos para aplacar sentimentos, a comida deveria apenas aplacar a fome. Quando é usada para tapar uma falta ou diminuir uma ansiedade difusa, se torna um péssimo remédio, pois produz efeitos colaterais desagradáveis.
Psicanalistas do Women Terapy Centre nos EUA e na Inglaterra desenvolveram uma técnica para investigar a alimentação, visando recuperação dos sinais vitais ligados ao ato de comer. A mais conhecida delas é Susie Orbach, best seller na Inglaterra, foi colunista do The Guardian e professora convidada da London School of Economics. Há três livros dessa autora, especializada em escrever para o publico leigo, traduzidos no Brasil: Gordura é uma problemática feminista. A impossibilidade do sexo. Sobre a alimentação.
Adorei sua matéria!No ínicio deste ano,fiz um mini- curso com Arlindo Fiorentin, mestre de Yoga há 34 anos.Onde foram explicadas, muitas destas “manias sociais” ligadas a alimentação. Como higienista, jejuador costumaz,o professor Fiorentin,trata o alimento, a fome, a nutrição como método de melhoria de Vida. Saúde é o tema,tanto psíquica quanto física. Nas 9 horas de aula, não ouvi a palavra caloria ou “dieta”, nenhuma vez. E o mais interessante falou das pesoas de magreza extrema, que podem engordar com Jejum… Sei que parece que estou falando em privação, como mais um método que “alimenta” a Neurose descrita em sua matéria, mas de fato com estes ensinamentos, não foi restrição alimentar que aprendi , mas sim da Necessidade Orgânica, Vital, Natural de uma Boa Alimentação.Muito bom!Cristina Pizzotti. Ahhh o local em que ele tem o Institut é em Niterói Rj, Chama-se Ortobio.
Ótimo texto. Reflete bem a verdade por trás das dietas. Comer um bombom quando bate a vontade não engorda, o perigo se esconde na privação do prazer que se obtém ao comer aquilo que gosta e depois consumí-lo de forma impulsiva e excessiva.
Além de comer para saciar a fome, faz parte da nossa dieta moderna, outros alimentos, que dão prazer, divertem e ajudam a socialização. Comer apenas para saciar a fome nos coloca no nível dos nossos ancestrais cujo cardápio consistia naquilo que estava disponível no momento. Eu diria que o maior obstáculo para uma relação saudável com os alimentos é a falsa crença que existe uma dieta perfeita. Não existe.
Mas o problema não são só as calorias ou as propriedades exóticas ou descarregar as frustrações no prato…São tantas as doenças comprovadas e mortes precoces por uma conduta equivocada da sociedade na alimentação ao longo de séculos, sempre só privilegiando o “saboroso”, a fome que se confunde às vezes com gula, que agora vemos os resultados desastrosos desse comportamento frente à mesa e estamos ainda numa fase de transição para um comportamento mais adequado que alie o sabor à quantidade e qualidade nutricional do que ingerimos.