Autoestima
05/12/12 10:12O termo significa: amor próprio. E, se já era difícil gostar de si mesmo quando a gente não precisava ser perfeito em tantas coisas ao mesmo tempo, imagine agora, em que vivemos oprimidos por exigências cada vez mais complexas e quase impossíveis de realizar. Gostar de si mesmo nos dias de hoje se tornou algo mais difícil ainda de ser alcançado.
Para conversarmos sobre autoestima convidei a psicanalista e escritora Sylvia Loeb*.
Luciana: O que é autoestima?
Sylvia: Podemos definir que autoestima é a opinião que temos de nós próprios.
Por exemplo: se você se acha inteligente, ou bonito ou simpático, competente, generoso, bondoso ou ao contrário, burro, feio, incompetente, fracassado.
Os termos autoestima, autoconfiança, autoaceitação, autoimagem são todos mais ou menos sinônimos, indicando a avaliação que fazemos de nós mesmos.
De modo geral falamos em baixa autoestima, ou autoestima elevada.
Luciana: Será que poderíamos pensar que uma pessoa com excesso de auto estima estaria compensando um sentimento subjetivo de inadequação?
Sylvia: Sim, podemos pensar isso; conhecemos pessoas que mostram excesso de segurança, autoestima elevada porém que à menor contrariedade ou dificuldade, desmoronam daquele lugar mostrando fragilidade, sentimentos de menos valia
Luciana: Poderíamos também nos perguntar se uma pessoa com excesso de crítica em relação a si mesma não teria uma imagem de si muito idealizada?
Sylvia: Sem dúvida, excesso de autocrítica necessariamente não implica em modéstia, pelo contrário, pode implicar em muita vaidade. “Eu deveria ser o mais competente, o mais bonito, o mais forte”. Diante do tamanho desta exigência resta muito pouco a fazer; todas as realizações possíveis ficam diminuídas diante de uma idealização exagerada.
Em psicanálise, falamos em narcisissmo, outro modo de nomear a autoestima. O termo narcisismo vem por referência ao mito de Narciso, é o amor pela imagem de si mesmo.
Na fase inicial de nossas vidas, quando crianças, uma dose alta de narcisismo é verificada. A criancinha é egoísta, suas necessidades e desejos são prementes e urgentes, elas têm pouco tolerância às frustrações.
Em outras palavras, a criança se sente o centro do mundo.Todo seu afeto está dirigido para si mesma, sobrando muito pouco para o que se encontra fora dela.
Na medida em que vamos crescendo o chamado da realidade nos faz cair da posição de reinado absoluto. As frustrações surgem na figura de outros irmãos, ou do papai e da mamãe que talvez já não nos achem tão absolutamente maravilhosos.
Isso é importante, doloroso, mas estruturante de uma personalidade mais amadurecida, que vai aprendendo, a duras penas, que a vida e o mundo não obedecem magicamente aos nossos desejos.
O afeto que antes era dirigido mais para si encontra outros caminhos de expressão, podendo ampliar sua manifestação para fora, para os outros, para o mundo.
Luciana: Existe o Narcisismo saudável?
Sylvia: Sim, e implica em sabermos de nós, em apreciarmos nossas qualidades e tolerarmos nossos defeitos. Implica em tratarmos bem de nossa saúde, de nossa vaidade, de nossas necessidades; de realizarmos tarefas que nos dêem prazer e bem estar; implica em enxergar os outros com sua necessidades e desejos; em encontrarmos companheiros de vida que nos valorizem e com quem possamos compartilhar prazeres e dificuldades.
Por outro lado, Narcisismo exarcebado implica em excesso de confiança, em geral acompanhado por certo desprezo pelos outros. O mundo deve girar em torno deste ser que se acha privilegiado.
Todos deveriam servi-lo, sua vontade é uma ordem. Encontramos adultos neste modo de funcionamento: verdadeiros bebês, egoístas e autocentrados, que estabelecem uma relação pobre com os outros, a quem desconsideram. É como se tivesse havido uma parada no desenvolvimento do sujeito, como se ele estivesse fixado num momento de desenvolvimento infantil.
Encontramos dezenas de pessoas assim: homens poderosíssimos com seus carrões atropelando e mesmo matando pessoas. Ajudados pelo álcool ou por algum outro aditivo, estão acima do bem e do mal com seus objetos de poder.
Mulheres plastificadas, onde a imagem que projetam de si são pura fachada: riqueza, beleza autosuficiência, juventude eterna. E assim vemos na mídia, na rua, nos shoppings verdadeiras Barbies de silicone, escravas de uma imagem que necessitam preservar a qualquer preço, resultando muitas vezes em figuras patéticas.
Personalidades imaturas que podem reagir, ao que sentem como insulto e humilhação, de forma violenta. Muitos assassinatos e ataques são cometidos em resposta a supostos golpes contra a autoestima, os chamados crimes de honra!
Gangues de rua possuem opiniões favoráveis sobre si mesmas e recorrem à violência quando estas avaliações são contestadas. Bullies de “playground” consideram-se superiores às outras crianças; baixa autoestima é encontrada entre as vítimas dos bullies, não entre os próprios bullies. Grupos violentos têm um sistema de crenças que enfatizam sua superioridade sobre os demais.
Nestes casos não podemos mais falar em Autoestima elevada.
São casos graves de narcisismo, onde a imagem tomou conta do ser.
Luciana: E a baixa Autoestima? Há como transformá-la em amor próprio?
Sylvia: Na medida em que a pessoa possa exigir menos de si, tenha uma visão menos idealizada de como deve ser, de como se comportar, enfim de estar no mundo, sim, é possível transformar uma crítica muito severa em relação a si mesma em maior aceitação dos limites, das dificuldades, dos tropeços que a vida nos causa.
* Sylvia Loeb é autora dos livros: Contos do divã: pulsão de morte… e outras histórias (Ateliê Editorial), Amores e tropeços (terceiro nome) e Heitor (terceiro nome).
Entrevista postada em 31/12/2011
gostei do seu blog você faz as pessoa tonerem-se consciente do valor da sua propria personalidade.