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por Luciana Saddi

Perfil Luciana Saddi é psicanalista e escritora

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Quem somos?

Por Luciana Saddi
28/11/12 10:58

Perguntas como essa nos acompanham desde cedo, pois temos necessidade de encontrar algumas definições sobre nós mesmos e de criar algum contorno para o eu. Precisamos de respostas, porém, toda definição pode se tornar estática, autoritária ou perder legitimidade, pois a experiência de viver implica em transformação, em passagem do tempo e movimento. Estamos mais para casas- fantasmas, habitadas por desejos alheios, por forças incontroláveis e pela história, do que para casas de bonecas com suas miniaturas inanimadas, dispostas a representar uma vida perfeita. 

Ao nascer somos meninas ou meninos. Filhos de sicrana e beltrano. Loiros, morenos, gordos, magros, santistas, palmeirenses. Amados pelos pais, vistos como verdadeiros messias ou órfãos, rejeitados ou adotados e até, extremamente queridos por uma avó. Alguns vivem sem posição definida na família e sem família também. Outros são amarrados em enredos familiares opressores e acatam desígnios. Há também os questionadores que procuram escapar de alguma rede ardilosa de sentido. Desde cedo, teias nos enredam: bons alunos, esportistas, preguiçosos, corajosos, briguentos, mimados. Hetero ou Homossexual? Glutão, obediente, questionador… tantas definições passam por nós. Sedentos, procuramos respostas em revistas, horóscopos, cartomantes. Diga-me quem sou. As respostas não são universais, dependem da posição, dos desejos e do humor de quem se relaciona conosco: professores nos descrevem nos boletins, chefes avaliam, amigos elogiam e pais criticam – é frequente estarmos aquém dos desejos deles. As grandes verdades sobre nós são como mutantes sem aperfeiçoamento genético, morrem, transformam-se, renascem e morrem. Sobram restos, empoeirados ou polidos. Ficam manequins a serem vestidos por novos relacionamentos. Identidade e desejo se confundem. E assim vamos acreditando e desconfiando que sabemos quem somos e quem não somos.

Até que uma discrepante vontade insista em dar as caras, que um sonho revele algo extremo, que o medo da morte se imponha ou que um compulsivo desejo sexual perturbe a ordem estabelecida. As doenças, as perdas, os momentos em que nos sentimos postos à prova, demonstram que quando a rotina psíquica é quebrada habitantes escondidos aparecem para assombrar a casa. Fantasmas passam a conviver com os vivos, reivindicam posição de supremacia ou são conjurados por forças ocultas a voltarem aos seus esconderijos. E a desordem é instaurada… Por anos acreditamos em quem achamos que somos e, um dia, a casa cai. Somos destroços, terrenos baldios, casas reconstruídas, em reforma – depende da vastidão da ruptura.

 

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Comentários

  1. Anonima comentou em 28/11/12 at 15:03

    Análise de uma analisante

    Tenho que me parir
    essa dor toda
    são as contra-ações
    desse parto.
    Parto!

    Tenho que partir
    e não, voltar
    pra quê voltei ?
    pra quê visitar esse lugar ?
    essas pessoas ?
    essa infância ?

    Parto!
    Amá-la está quase pronta
    meus tecidos
    minhas linhas
    meus cadernos de estórias
    minhas tintas
    minhas tê-las
    télas todas
    minhas panelas vazias
    Minha dúvida.
    é como matá-lo
    não consigo…
    Sinto que tenho que matá-lo
    para que ele me deixe ir.
    Pra bem longe
    onde essa estória
    vai estar só no caderno

    Ele e ela ficam
    na casa velha.
    Tchau !
    Parto !
    Vou ver o mundo
    vou ver as cores
    lá tem gente
    que eu não preciso
    querer machucar.

    Ele e ela ficam
    na casa velha
    cheirando mofo
    fritura
    miséria espiritual
    cheiro de porra
    de urina velha no colchão
    revistas pornográficas
    cheias de porra e cupim
    o sofá de suor, fedendo
    cheiro de sangue na pele
    cheiro de choro, contido.

    • Celio comentou em 04/12/12 at 19:16

      A casa caiu!
      E não
      é possível
      morar
      em escombros

  2. Jorge Xerxes comentou em 28/11/12 at 16:58

    Luciana,

    Gostei Muito do Seu Texto!

    Essas questões existenciais sempre mexem com a gente.

    Recentemente escrevi um artigo cujo título é “A condição humana: uma metáfora”. Creio que possa servir como uma leitura complementar ao teu texto, para aqueles que se interessam por artigos dessa natureza; o artigo pode ser encontrado através de uma simples busca no google…

    Um Beijo! Jorge Xerxes

    • Luciana Saddi comentou em 28/11/12 at 19:31

      quer que eu poste aqui? me envia…

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