Traições
07/11/12 11:29Internauta: A julgar pela mídia em geral, a traição está em alta – tanto a masculina quanto a feminina. A meu ver as coisas funcionam como dinheiro investido: se tiramos algum investimento (amoroso/sexual) de nosso casamento e colocamos num amante esse valor vai faltar em casa. Creio que um cônjuge já satisfeito sexualmente com a/o amante nem vai ligar se esposa/marido não quiser sexo, queixando-se de dor de cabeça, cansaço, etc. Se não houver amante é provável que insista, tenha paciência, tente conquistar, o que provavelmente trará intimidade para o casal. Eu nunca traí e sinceramente, de coração aberto, gostaria de ouvir, de saber das pessoas que traíram: vale a pena?
Luciana: A mídia, sem dúvida, influencia, e, talvez, crie um clima de oba-oba sobre um assunto sério, que machuca demais as pessoas. Mas, é a mídia que propaga também uma imagem de casamento e uma obrigação de monogamia muito difícil de ser sustentada na vida cotidiana. A dupla moral existe há tempos, é intrínseca ao casamento burguês e à família nuclear.
Penso que cada um tem seus motivos para trair, de forma que é imprudente generalizar ou fazer, apenas, uma conta baseada em princípios básicos de economia como a que você mesma explicitou em sua pergunta. Há tanta complexidade em cada ato humano!
A artista Sofie Calle fez uma exposição a partir de um e-mail recebido do namorado avisando sobre o fim do relacionamento. A exposição se chamou: Cuide-se. Palavras que ele usou no final do e-mail para transmitir carinho, mas, que se tornaram enigmáticas para a ela. A partir disso, Sofie mostrou o e-mail para 107 mulheres lhes perguntado o que achavam daquilo. As respostas se transformaram na exposição.
Sugiro que você pesquise o que é traição e como afeta a vida das pessoas. Cada um que tenha experimentado trair poderá lhe contar como foi o acontecimento, qual foi a experiência e, quem sabe, aplacar sua curiosidade a esse respeito. Depois, transforme esse material num livro, numa exposição, etc.
Canção
Mandaste a sombra de um beijo
Na brancura de um papel:
Tremi de susto e desejo,
Beijei chorando o papel.
No entanto, deste o teu beijo
A um homem que não amavas!
Esqueceste o meu desejo
Pelo de quem não amavas!
Da sombra daquele beijo
Que farei, se a tua boca
É dessas que sem desejo
Podem beijar outra boca?
Manuel Bandeira, In.: Lira dos Cinquent’anos (1940)
Poema escolhido por Ana Tanis, psicóloga, bacharel em letras e curadora de poesia desse blog.
Dica: O Paciente Inglês, filme de Anthony Minghella, baseado no romance homônimo de Michael Ondaatje. Trata-se de um grande envolvimento amoroso entre um homem e a esposa de seu melhor amigo. Nunca é fácil banalizar os grandes amores, mas é certo que os impossíveis duram eternamente.
Acho que a questão é outra. Estamos sempre pensando em nós, de forma egoísta, esquecendo que ações como traição afetam uma outra pessoa.
O leitor pergunta a alguém que traiu se vale a pena. Eu diria que a pergunta infinitamente mais importante é saber quanto sofrimento isso causou a quem foi traído.
Talvez assim as pessoas entendam o quanto é errado a traição. Não por questões morais falsas, mas pela simples análise da situação e da ética da reciprocidade (você acharia “justificável” alguém te trair?).
E concordo com a Luciana com o problema da visão “padronizada” do casamento monogâmico. Isso amarra as pessoas. Mas, de todo modo, isso NUNCA justificaria uma traição. O correto seria separar-se ou ir para um relacionamento aberto.
o problema, o problema mesmo… é que nós queremos controle !!! queremos certezas !!!
queremos combinar tudo e que todas as partes, boas e éticamente sigam o combinado !!! E a vida não é assim, internauta.
a gente combina que vamos brincar de casamento aberto, e temos ciúme, combina que o casamento é fechado, e temos a traição. Meu Deus que inferno nossa vida !!!