Um lema dos nossos tempos: o poder, custe o que custar
09/10/12 10:12Fui assistir a peca, Macbeth, de Shakespeare, dirigida por Gabriel Villela. A história se passa no ano de 1047 quando, após vencer uma batalha e salvar a Escócia, o general Macbeth passa a cobiçar o trono escocês.
Ele é influenciado pela ambiciosa esposa, Lady Macbeth, e juntos tramam a morte do rei. Iniciam uma série de assassinatos em nome da manutenção do poder. Por meio de tramoias conseguem que nobres inocentes arquem com a culpa de seus inúmeros crimes. Mas, a conquista ilegítima da coroa, ameaça constantemente a legitimidade do poder dos Macbeths. Um sistema paranoico entremeado pela culpa e pelo medo de retaliação perpetua os crimes. No entanto, o casal se torna atormentado pelo arrependimento e aterrorizado pela possível revelação de autoria do crime. A intensidade desses sentimentos os leva a ruína. Ela se mata e ele aguarda com prazer a morte, vingada em batalha, pelos legítimos herdeiros da coroa.
Saí do teatro pensando como seria adaptar Macbeth para os nossos dias. Quem seria o Macbeth pós-moderno e como se daria a luta pelo poder?
Pensei em nossos políticos travando batalhas nas engrenagens da burocracia estatal, forjando editais e farejando brechas para o enriquecimento a custa de informações privilegiadas. Empresários, aliados de políticos poderosos construindo fortunas por meio de relações escusas com o poder. Esposas sequiosas de bolsas caríssimas, de joias e de imóveis grandiosos, loucas para frequentar jantares regados a champanhe francês, querendo marcar presença nas colunas sociais.
Infelizmente não consegui encontrar nenhum equivalente contemporâneo para a culpa e para o medo de que as falcatruas sejam descobertas. Nunca vi um sinal sequer de arrependimento em nenhum dos possíveis protagonistas do papel de Macbeth. Se a justiça não pune e se os valores sociais apontam para o “enriqueça e seja poderoso, custe o que custar”, o casal Macbeht dos nossos dias não terá nada a temer e jamais cairá em ruina. Sinal dos tempos!
Pois é, depois de tanto esforço para acabar ou minimizar a maléfica culpa, finalmente percebemos que ela serve para uma porção de coisas, entre elas, permitir o convívio humano.
sim, no livro Totem e Tabu, de Freud, a culpa é tomada como personagem central no processo de civilizacao. Gostei da sua arguta conclusao!