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por Luciana Saddi

Perfil Luciana Saddi é psicanalista e escritora

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Transgressão e erotismo

Por Luciana Saddi
25/09/12 12:38

Internauta: Por que “o proibido” atrai tanto as pessoas?

 

Luciana: A sexualidade pode ser vista como uma quinta estação a atravessar o verão, o outono, o inverno e a primavera em nossas vidas. Seu clima não está necessariamente atrelado à sequência: pênis, vagina, penetração e orgasmo. Seu maior atributo é o erotismo, que exige sofisticação das formas de prazer sexual e corações abertos para o desconhecido dos corpos, pele, mãos e línguas – e tudo mais que nossa criatividade permitir.  A imaginação, a encenação e as palavras são elementos importantíssimos dessa quinta estação, mas, a transgressão é seu elemento fundamental.

A transgressão condensa e contrapõe o permitido e o proibido. O efeito erótico advém da superação da interdição. A transgressão nos faz vislumbrar as duas interdições universais: morte e sexo – ambos representantes da intensidade. A primeira interdição é expressa pelos rituais que ocultam o cadáver, o cadáver é testemunha simbólica da violência e da desordem que destrói a carne. Por isso, é preciso evitar o contágio com a decomposição e com a putrefação: nosso destino inelutável. Quanto à segunda interdição, o sexo em sua dimensão erótica, carrega o mesmo excesso da putrefação em sua convulsão extasiada da carne e acarreta em dissolução do Eu – o descontrole violento que o erotismo conjura o entrelaça à morte. Portanto, morte e erotismo devem ser ritualizados, devem ser domesticados de sua selvageria, sofrendo a interdição em nome da manutenção da vida de trabalho humana. As transgressões se tornam permitidas quando conjuradas em nome do sagrado, transcendendo o repugnante, a náusea e a angústia – em geral, são ritualizadas como no carnaval. Ou, quando o prazer de superar a interdição se associa ao prazer do medo e da perseguição, associados à onipotência.

A tradição literária erótica joga com os elementos interdição/transgressão no campo da linguagem e da imaginação, o que nos protege de realizar crimes impensáveis, atos nauseabundos e detestáveis. A literatura nos permite experimentar certa dose de erotismo; transgredir, mas com menor risco de invasão de angústia.

 

 

toda saga de família é falsa

na família, só a tia masoquista

espreita

 

livro não pode

impressiona a gente

ler não é bem uma coisa de homem

 

dinheiro serve para o lanche

na hora do recreio

 

olha a trapaça

livro escondido no casaco

como se já fosse droga

 

come o livro

já te dei dinheiro

come o livro feito traça

 

Antonio Vicente Seraphim Pietroforte, In.: O retrato do artista enquanto foge, São Paulo: Annablume, 2007.

 

Poema escolhido por Ana Tanis, psicóloga, bacharel em letras e curadora de poesia desse blog.

 

Dica: Salò ou os 120 Dias de Sodoma, filme de Pier Paolo Pasolini, expõe as perversões humanas por meio do poder burguês num clima de pura transgressão.

 

 

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