A crise da realidade
19/09/12 09:44Você acredita no que vê nas redes sociais? Nas fotos todos são jovens, lindos, ricos e vitoriosos, alegres e saudáveis. Amigos cheios de amigos. A vida “feliz” do Facebook – um lugar onde ninguém sofre – a utopia realizada ou a farsa instituída?
O mundo se tornou um lugar midiático e virtual. Antigamente o mundo era um lugar de fazer. Ao fazer construíamos conhecimento e sentido. Hoje a relação entre o homem e o mundo não ocorre diretamente. A realidade se dá pela informação e não mais pela experiência.
O mundo perdeu substância em função do enfraquecimento do contato do homem com a natureza e do desenvolvimento tecnológico e científico da modernidade. Não há mais distância entre as ideias e as coisas. A realidade entrou em crise.
O homem se sente impotente diante desse mundo em que a ordem tradicional foi substituída por outra ordem, sem raízes nos fatos, constituída por interesses que jamais poderemos provar, criando um sentimento de irrealidade e desconfiança das coisas: nada é o que parece ser, nem a palavra nem a experiência possuem valor.
Um mundo onde a única confiança, prova de realidade e de continuidade cotidiana se dá nos atos, atos em forma de ações autoritárias, porque os atos mesmos perderam eficácia. Diante da insustentável leveza da realidade resta ao homem atos quase que travestidos de atentados, por que esses é que passaram a condição de dar sentido ao homem.
O ato toma o lugar do pensamento quando a realidade é substituída pela virtualidade.
Por isso, nas redes sociais, somos inundados por fotos espetaculares, pelas lindas frases de efeito de sabedoria com gosto de plástico. E temos os melhores amigos de toda uma vida, que nunca se viram. É tudo tão intenso e forte! Paradoxalmente tão falso!
Cada foto um espetáculo, quase um tapa na cara para acreditarmos que a imagem é real e existe. Embutido em toda essa pseudo realidade há um processo autoritário que exclui a relação lógica entre o dito, o mostrado e o fato. Não apenas censura a história, mas a reescreve alterando dados ao seu bel prazer. Antigamente esse era um expediente dos tiranos e dos regimes totalitários.
Sociedade da informação, Sociedade do espetáculo e Sociedade do vazio, assim os estudiosos caracterizam a atualidade. Os psicanalistas alertam para o surgimento de novas formas de sofrimento psíquico sediado no corpo e na imagem corporal, como o aumento dos problemas alimentares, dos ataques ao corpo por meio de cortes, machucados, queimaduras e pelo aumento das compulsões de forma geral.
Está surgindo uma nova subjetividade. Dizem que os monstros surgem nos momentos de transição, quando o novo ainda não se consolidou e o velho não foi superado. Seja como for, as regras que sustentam a realidade das redes sociais operam sob o regime da farsa e sob o regime do ato, ato puro e autoritário.
Prezada Luciana,
O poema de Manuel Bandeira, e´ uma maravilha, seu texto, um Primor.Obrigado por nos presentear com duas pérolas.
Att,solano meireles.