Corpo, pornografia e cirurgia plástica
30/07/12 11:05Nas últimas décadas observamos a hiperexposição de imagens de corpos na mídia. A lógica dessa exposição ocorre segundo o princípio da visibilidade máxima. O corpo parece não ter mais sombras nem esconderijo, sua imagem sofre superexposição. E, paradoxalmente, costuma receber um tratamento para eliminar qualquer imperfeição. Imagens de corpos perfeitos, modificadas pela tecnologia bombardeiam nosso cotidiano.
O aumento da procura por cirurgia plástica deve estar ligado a hiperexposição de imagens do corpo tecnologicamente tratadas a fim de simular corpos perfeitos. O homem foi expulso do próprio corpo, o contempla e o transforma como se estivesse do lado de fora. Confunde a imagem do corpo com o corpo em si. E procura nessas técnicas cirúrgicas um efeito semelhante ao do tratamento tecnológico das imagens. O corpo transformado em tela tornou-se nossa principal marca identitária.
O corpo parece viver com certa autonomia, como se nele ninguém habitasse. Por mais estranho que possa soar se torna desencarnado, um objeto, uma mercadoria a ser adquirida ou descartada. A confusão entre a imagem do corpo e o corpo nos transforma em sujeitos esvaziados.
Em certos casos, observamos que o corpo se iguala ao funcionamento da máquina com imputs e outputs, gasto e consumo energéticos. Medimos a força dos músculos e lhes damos alimento para seu crescimento, alimentos modificados pela tecnologia para obter ganhos específicos e para fazer a máquina/corpo funcionar em altos níveis. Fazemos o mesmo com o gado, por meio de rações especializadas. Partimos o corpo em pedaços, separamos suas funções e agregamos valor às partes mais valorizadas. As ciências naturais produzem conhecimento desse mesmo modo: separam o todo em partes e em funções.
As implicações na sexualidade são inegáveis e ligam-se ao aumento do consumo de pornografia na mídia. A pornografia opera como o corpo desencarnado sendo a contra parte do que estamos a descrever. Ela confirma essa nova posição que o corpo adquiriu na sociedade pós-moderna, que o transforma num espetáculo por si só. O corpo não precisa ser de alguém, é melhor que não seja para cumprir a função de excitação sexual.
O crescimento das cirurgias plásticas, as novas técnicas de tratamento do corpo por meio de treinamentos físicos e suplementos alimentares atestam essa nova forma de relacionamento entre o sujeito e o corpo. Os valores sociais se transformaram, há poucos séculos buscava-se alcançar o Paraíso por meio de ações e de um modo de vida que abolisse o desejo – procurava-se um corpo puro. Hoje se acredita que obter um corpo belo é sinônimo de felicidade.
Formas de sofrimento típicas dessa nova relação como: anorexia, bulimia, compulsões e adições às drogas se apresentam nos consultórios dos psicanalistas. Imagens fantásticas de corpos perfeitos causam mal estar e podem prejudicar a saúde física e mental.
A mídia é hiperrrealidade. Às vezes alguma pessoas que fazem parte da realidade, desejam essa hiperrealidade, se espelham nela e a imitam. A vida imita o filme. Midiaticamente, há uma superexposição do corpo, não naturalmente composto, mas na realidade, nossa relação com o corpo ainda comporta muitos tabus!
Disse bem e tudo. Como jornalista, parabéns pelo excelente artigo!