Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

Fale Comigo

por Luciana Saddi

Perfil Luciana Saddi é psicanalista e escritora

Perfil completo

Corpo, pornografia e cirurgia plástica

Por Luciana Saddi
30/07/12 11:05

Nas últimas décadas observamos a hiperexposição de imagens de corpos na mídia. A lógica dessa exposição ocorre segundo o princípio da visibilidade máxima. O corpo parece não ter mais sombras nem esconderijo, sua imagem sofre superexposição. E, paradoxalmente, costuma receber um tratamento para eliminar qualquer imperfeição. Imagens de corpos perfeitos, modificadas pela tecnologia bombardeiam nosso cotidiano.

O aumento da procura por cirurgia plástica deve estar ligado a hiperexposição de imagens do corpo tecnologicamente tratadas a fim de simular corpos perfeitos. O homem foi expulso do  próprio corpo, o contempla e o transforma como se estivesse do lado de fora. Confunde a imagem do corpo com o corpo em si. E procura nessas técnicas cirúrgicas um efeito semelhante ao do tratamento tecnológico das imagens. O corpo transformado em tela tornou-se nossa principal marca identitária.

O corpo parece viver com certa autonomia, como se nele ninguém habitasse. Por mais estranho que possa soar se torna desencarnado, um objeto, uma mercadoria a ser adquirida ou descartada. A confusão entre a imagem do corpo e o corpo nos transforma em sujeitos esvaziados. 

Em certos casos, observamos que o corpo se iguala ao funcionamento da máquina com imputs e outputs, gasto e consumo energéticos. Medimos a força dos músculos e lhes damos alimento para seu crescimento, alimentos modificados pela tecnologia para obter ganhos específicos e para fazer a máquina/corpo funcionar em altos níveis. Fazemos o mesmo com o gado, por meio de rações especializadas. Partimos o corpo em pedaços, separamos suas funções e agregamos valor às partes mais valorizadas. As ciências naturais produzem conhecimento desse mesmo modo: separam o todo em partes e em funções.

As implicações na sexualidade são inegáveis e ligam-se ao aumento do consumo de pornografia na mídia. A pornografia opera como o corpo desencarnado sendo a contra parte do que estamos a descrever.  Ela confirma essa nova posição que o corpo adquiriu na sociedade pós-moderna, que o transforma num espetáculo por si só. O corpo não precisa ser de alguém, é melhor que não seja para cumprir a função de excitação sexual.

O crescimento das cirurgias plásticas, as novas técnicas de tratamento do corpo por meio de treinamentos físicos e suplementos alimentares atestam essa nova forma de relacionamento entre o sujeito e o corpo. Os valores sociais se transformaram, há poucos séculos buscava-se alcançar o Paraíso por meio de ações e de um modo de vida que abolisse o desejo – procurava-se um corpo puro. Hoje se acredita que obter um corpo belo é sinônimo de felicidade.

Formas de sofrimento típicas dessa nova relação como: anorexia, bulimia, compulsões e adições às drogas se apresentam nos consultórios dos psicanalistas. Imagens fantásticas de corpos perfeitos causam mal estar e podem prejudicar a saúde física e mental.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
  • Comentários
  • Facebook

Comentários

  1. Danielle comentou em 30/07/12 at 12:37

    A mídia é hiperrrealidade. Às vezes alguma pessoas que fazem parte da realidade, desejam essa hiperrealidade, se espelham nela e a imitam. A vida imita o filme. Midiaticamente, há uma superexposição do corpo, não naturalmente composto, mas na realidade, nossa relação com o corpo ainda comporta muitos tabus!

  2. Sabrina comentou em 30/07/12 at 17:08

    Disse bem e tudo. Como jornalista, parabéns pelo excelente artigo!

Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emaillusaddi@uol.com.br

Buscar

Busca
  • Recent posts Fale Comigo
  1. 1

    Despedida

  2. 2

    CRÔNICA SENTIMENTAL EM UM TEMPO DE TODOS (4)

  3. 3

    CRÔNICA SENTIMENTAL EM UM TEMPO DE TODOS (3)

  4. 4

    CRÔNICA SENTIMENTAL EM UM TEMPO DE TODOS (2)

  5. 5

    CRÔNICA SENTIMENTAL EM UM TEMPO DE TODOS (1)

SEE PREVIOUS POSTS

Arquivo

  • ARQUIVO DE 26/05/2010 a 11/02/2012

Sites relacionados

  • UOL - O melhor conteúdo
  • BOL - E-mail grátis
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).