Não existe análise por tabela
25/07/12 11:28Internauta: Meu marido aceitou fazer terapia de casal. Fomos atendidos juntos só a 1ª vez e depois separadamente. Eu desisti, mas ele continua até hoje. Parei, pois me incomodava não fazermos juntos. Nossa psicóloga me dizia que ainda não estávamos prontos para sermos atendidos como um casal, que eu sou mais fácil de me abrir e que forçar poderia ser pior.
Ela me ajudou muito com relação a minha autoestima, mas o meu relacionamento com ele continuava e continua difícil. É assim mesmo uma terapia de casal? Devo insistir?
Luciana: Muitas pessoas procuram terapia com o intuito, nem sempre consciente, de transformar o outro. Por isso, apenas como exemplo, não é incomum que a esposa de um dependente químico se aventure numa análise para que seu marido deixe de usar drogas. Esse tipo de demanda denota certa confusão, posto que um processo terapêutico só ocorre com quem se dispõe a dele participar. Não existe análise por tabela. Talvez essa esposa desesperada encontre uma saída para ela. Um jeito próprio de enfrentar seus problemas.
Você me parece decepcionada com o caminho que a terapeuta tomou. Gostaria que as coisas fossem da sua forma, mas a profissional lhe indicou outra maneira. Ou você confia ou procura outro profissional, pois não há um jeito certo de clinicar apenas. Há condutas fora da ética, sim, o Conselho Regional de Psicologia cuida bem disso, mas não há regras estritas, cada terapeuta desenvolve sua maneira de trabalhar.
Sua relação com ele continua difícil…sinto dizer que talvez continue, nada indica que ficará mais ou menos fácil, embora você tenha um imenso desejo que tudo volte a ser como antes. Isso nenhum terapeuta, pai de Santo e, ouso dizer, nem Deus poderá fazer o tempo voltar! A terapia dele serve para ele nem sempre serve para a família dele e nem sempre os resultados são como esperamos. Também é assim na clínica médica, o tratamento ocorre, mas algumas vezes a saúde não se reestabelece.
No entanto, quando falamos de análise temos um grau a mais de complexidade a enfrentar. Saúde todos sabem o que significa. Mas, uma análise não se propõe a colocar ninguém em nenhum padrão. Fazemos a análise e o paciente faz a síntese. Pode ser que a do seu marido não lhe agrade!
Man in a chair
(Lucian Freud)
Esperar sentado, mas sem
relaxar os músculos. Mãos
tensas nas coxas como quem
prestes a se levantar. Não
como quem, à espera, descansa.
E sim como se encurralado
na cadeira. Sem esperanças
nem expectativas. Sentado
na cadeira como quem não
espera exatamente nada.
Sem certezas, com exceção
da única, e indesejada.
Paulo Henriques Britto, in.: Formas do nada, São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
Poema escolhido por Ana Tanis, psicóloga, bacharel em letras e curadora de poesia desse blog.
Dicas: Sem-cerimônia: diário de uma psicoterapia, de Sonia Manski. Relato romanceado do processo de análise da escritora.