Trecho do conto “A aranha”

“Matei uma aranha. Era uma segunda-feira de dia nublado. Mês de Abril. Manhã confusa. Não saí de casa. Matei a aranha. Ela era pequena, suas patas, porém, eram grandes, tentaculares e assustadoras. Não entendo nada de aranhas. Podia ser venenosa, podia armar maldades contra mim, inserir seu veneno fatal em minhas veias, ou talvez sugar meu sangue quando eu estivesse num sono profundo. Acontece tanta coisa por aí. A aranha estava no lugar errado, na hora errada, na casa errada, no mundo errado.”

[…]

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Trecho do conto “A última porta do paraíso”

 

 
O café ainda estava no fogo. Era um bule pequeno e já amassado. Herança de família. A boca do fogo falhava, atrasava ainda mais o café da manhã. O relógio de parede marcava 9 horas. Era um dia frio e chuvoso de uma segunda-feira. A garoa lá fora deixava tudo escorregadio e brilhante. Um Sol tímido aparecia de quando em quando para iluminar as mansardas e os passantes da rua. O barulho dos automóveis era sufocado pelo estrondoso canto do galo, que anunciava um dia longo e confuso. O Menino Pequeno, ainda meio adormecido, despenteado e com o rosto deformado, perguntou com sua voz rouca e desritmada: “Já tá pronto, Mãe?”. Percebendo que não fora ouvido insistiu: “Mãe, tô com fome”. A Mãe, abatida e um tanto nervosa, limpava a mesa com um pano úmido. Ela não teve tempo de notar que não tinha pão. Estava tão concentrada com o café no fogo que simplesmente ignorou todo o universo ao seu redor.

[…]

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Trecho do conto “Aborto elétrico”

O plano está confirmado. Fique atento. Aguarde os sinais. Prepare os papéis. Converse com ele na sala de reuniões. Coloque o gravador no canto direito da mesa. Não beba nada durante a conversa. Nada de uísque ou vodca. Fique atento o tempo todo. De maneira alguma você deve olhar para o local do gravador. Desligue todas as câmeras da sala. A conversa deve ser somente entre vocês dois, se arme com aquele 38 cano longo, não se esqueça de colocar o silenciador. Use a arma só em último caso. Repita as mesmas perguntas. Eu quero o maior número possível de informações.
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Do livro, “9 contos de Abril”, de Eric Ferreira Dantas (ed. Patuá).