Ter ou não ter coragem
12/07/12 10:00Internauta: Tenho 33 anos, sou formada em literatura. Atuei na área por três anos, mas parei por tédio e falta de perspectiva. Casei e atualmente sou sustentada pelo meu marido. Faço trabalhos manuais (artigos de pano e tricô) e gosto muito. Quando participei de uma oficina descobri que muitas pessoas têm como profissão fazer artigos manuais. Desde então sonho em trabalhar com isso, mas não acho que poderia ganhar dinheiro e não tenho apoio do meu marido e dos meus familiares. Sinto-me uma adolescente sem rumo. Volto a atuar na área de formação (um trabalho mais “sério” e estável) ou tento transformar algo que adoro em ganha-pão?
Luciana: O que você perderia tentando transformar o que gosta em atividade profissional rentável?
Poderia dar certo. Poderia dar errado. Poderia dar certo, mas se tornar algo meio chato, com mais cobrança e responsabilidade – como quase tudo que fazemos profissionalmente. Quando os sonhos se transformam em projetos reais há uma perda considerável. A realidade não costuma ser tão interessante quanto a fantasia. E, convenhamos, ficar em casa fazendo trabalho manual parece ser uma posição confortável, protegida e um pouco infantil.
Pode ser que o medo de fracassar ou o medo da responsabilidade própria ao trabalho adulto te impeça de arriscar. Talvez te falte energia e confiança para empreender em nome próprio, por isso espera apoio de familiares. Chamamos isso de inibição, um sintoma psíquico que merece atenção e tratamento quando impede realizações. Pode levar à depressão, pois cria um sistema de autodepreciação para justificar o medo de viver.
Quem tenta pode se arrepender, mas o que acontece com quem não tem coragem para tentar? Essa resposta só você poderá dar.
Meu Deus! Meu Deus! Quem sou, que desconheço
O que sinto que sou? Quem quero ser
Mora, distante, onde meu ser esqueço
Parte, remoto, para me não ter.
Fernando Pessoa (22-09-1933), In.: Poesia 1931-1935, São Paulo: Companhia das Letras, 2009
Poema escolhido por Ana Tanis, psicóloga, bacharel em letras e curadora de poesia desse blog.
Auto-de-fé, do Nobel de Litetratura, Elias Canetti, revela o desconhecimento da alteridade, o auto fechamento e a vinculação profunda com os próprios interesses gerando bizarros pontos de vista sobre o mundo. Um dos mais interessantes livros de todos os tempos.
É como dizem, cada pessoa é um universo. E eu sonhando em trabalhar com literatura.
Só em pensar na hipótese de não poder mais acessar o site “Fale Comigo”, com as orientações de Luciana Saddi – algo que jamais encontrei, no mesmo nível e padrão, no tema a que se propõe, em nenhuma outra coluna sobre Psicanálise, Psiquiatria,Psicologia, deixa-me sem chão.Algo parecido senti quando confiscaram minha poupança, cuja correção monetária até hoje está pendente de me ser devolvida. E já estou entrando nos meus 70anos. Por favor, isso não pode acontecer!
A Folha de São Paulo deve intervir para que isso não aconteça. Espero que as forças positivas impeçam essa lacuna irreparável que a coluna da Luciana Saddi poderia nos
causar. Rezo para que haja tempo.
antonio carlos pörner
nao sei do que vc está falando…me explica, por favor!
Os blogs da folha passaram a ser lacrados, só podendo ser acessados por assinantes do jornal. Um absurdo!
obrigada, entendi agora! nao tenho como interferir nessa opcao da direcao do Jornal. Sorry!
Perfeito. “Ter ou não ter coragem”. Fiquei com pena da colega internauta porque passo exatamente pelo mesmo problema, já estou quase bem e sei o que é isso. “Chamamos isso de inibição, um sintoma psíquico que merece atenção e tratamento quando impede realizações. Pode levar à depressão, pois cria um sistema de autodepreciação para justificar o medo de viver.” Agora, depois de um longo tempo de terapia ando todo desinibidinho…Estamos no caminho certo, vai. Parabéns pela coragem de escrever sobre os nosso problemas tanto para internauta como para a Psicanalista que explicou tudo. Foi a melhor consulta grátis que recebi na minha vida.
Obrigado por tudo!
Um grande beijo
Marcos
Trabalhos manuais em casa é infantil? Trabalhar fora é mais adulto? Preconceito! Cada ser humano traz um universo dentro de si e deve ser respeitado em suas escolhas. Corajoso é fazer suas escolhas e não ser maria-vai-com-as outras.
Concordo com vc. Talvez o caso da internauta seja de recolhimento por um traço da personalidade dela, mais retraída, o que não tem nada de anormal. Convenhamos que nao eh pra todo mundo aturar colegas de emprego e chefe. Se ela conseguir trabalhar com o que ama, fazer dinheiro com isso e manter-se no espaço em que se sente segura, poderá se considerar bem sucedida, em minha opinião.
E acrescento que muitas mulheres, através de seus trabalhos e talentos manuais, ajudam a complementar a renda familiar, inclusive pagando os estudos de seus filhos.
Não concordo com nada do que escreveu. Quer dizer que quem se forma, não se identifica com a profissão escolhida no passado, e busca outros caminhos, tais como fazer artesanato é ” ficar em casa fazendo trabalho manual parece ser uma posição confortável, protegida e um pouco infantil.” é uma visão no mínimo preconceituosa. Quer dizer que se uma pessoa escolher ficar em casa trabalhando, e ao mesmo tempo cuidando do seu lar terá depresão, e blablablá? Fico abismada com uma infeliz colocação. É melhor uma pessoa abandonar aquilo que não a faz feliz do que continuar uma carreira e falar besteiras como a Sra. fala.
A internauta de 33 anos formada em literatura, pode tentar trabalhar com marketing Multi nivel, que é uma otima profissão e ja esta se tornando realidade no Brasil e que oferece muitos desafios, eu sobrevivo de MMN.
Não existe um unico caminho e nem uma única verdade universal…vc tem fazer aquilo que gosta , que te dá prazer…correr atrás dos seus sonhos…somente VOCÊ pode dizer se vale a pena ou não! Vc tb pode voltar a trabalhar na sua área (por questões financeiras) e nas horas vagas fazer seu trabalho manual…aos poucos vc vai vendo e sentindo se vai te trazer o retorno que vc esperava ou não! Boa sorte!
Mas claro que existem verdades universais! O problema é que mentira universal é mais rápida. A verdade é que as leis da física de Newton são validas em qualquer lugar do universo em determinada escala (a escala digamos macroscópica em que vivemos), já a famosa lei de Einstein se verifica em uma escala mais astronômica. As leis tanto de uma como de outra não são provadas, são apenas comprovadas por todas as experiências vividas pelo ser humano até hoje. Darwin foi superado? Não! Existe o Neo-Darwinismo, mas o Charles vai permanecer insuperável porque foi ele que mostrou que o criacionismo é um absurdo é que era impossível que um ser que depende de outros para se reproduzir, se alimentar, fosse criado de uma vez só de modo isolado. Quanto ao Freud ele continua pai e mãe da psicanálise apesar das más línguas dizerem que não. O Bebê chora quando percebe que a “mãe” que o está segurando “não é a mamãe!” que vai dar de mamar, o Freud chamou isso de fase oral e ela continua válida nos bebês que você vê por aí. (PS: Garanto cientificamente através de evidências a primeira parte do meu texto porque corresponde a minha formação em ciências da natureza, que tem uma parte de filosofia natural como Newton intitulou seu tratado. Na parte do Freud, posso ter falado besteira, espero que me corrijam).
Aconselho a internauta a fazer mais oficinas de artes, para se entornar e conter pessoas que trabalham com artigos como o dela.
Uma amiga que se formou em direito comigo trabalhava em um dos maiores escritórios de sao Paulo e largou tudo para fazer bonecos de pano e artigosara bebes e crianças. Ela tem um filo e queria ter mais tempo ao lado dele. Para resumir a história, hoje em dia minha amiga tem a empresa dela (na casa dela) e vende seus artigos em diversas lojas do Brasil, além de sites. Espero que a leitora leia que escrevi e se inspire!
E para finalizar, pergunto: Cade a infantilidade aqui, doutora?
Trabalhar em casa eh coisa de gente grande, pois exige mais responsabilidade e disciplina do que em um escritório, onde, trabalhando ou não, vc recebe seu salário no final do mês.
concordo com vc. Uma coisa é trabalhar em casa. Outra coisa é ficar em casa fazendo trabalhos manuais, que pode ser muito prazeroso, sim, mas que nao é trabalho no sentido profissional, pois nao é transformado em negócio ou profissao – é apenas uma atividade.