COLTRANE BALLADS
10/07/12 14:471.
Sax tenor : dois agudos negaceiam
suaves sequências 4 x 4 – o piano
de McCoy Tyner ao fundo.
Era assim
que começava (eu me lembro) Coltrane
Ballads : sei de cor.
Desde então sei
de cor. Nunca mais ouvi mas
sou capaz de cantarolar nota
por nota : Coltrane
Ballads.
2.
Um dia ele ouviu com um amigo
ao telefone a primeira faixa inteira :
“É do cacete cara! Coltrane! John
C-o-l-t-r-a-n-e! Meu pai que me deu”.
Antes que eu pudesse esconder
o orgulho, o menino me viu, sorriu
encabulado : “Emprestou né pai?”.
“Pode ficar : é seu.
Você
ouve melhor do que eu”.
3.
Tentei, tentei, continuo a tentar (
Say it, Over and over again)
mas já o primeiro dos dois agudos
estilhaça todas as vidraças enquanto
uma manada de rinocerontes pisoteia
meu peito vazio
o mundo inteiro range
e desaba
: só estrelas, um cardume
de estrelas a rolar em chamas
por minhas veias & não ouço
mais nada.
Outras vezes
a casa toda desmorona,
rodopia nos ares & no meio da noite
nula uma voz reboa e me diz :
You don’t know what love is.
4.
Dois silvos agudos, suaves sequências,
piano ao fundo (dorme, dorme, sonho
meu, cardume de estrelas) : um dia
vamos ouvir tudo de novo
lado a lado
& então
você me ensina cada lampejo que aí
se esconde, nota pornota :
Coltrane
Ballads.
Carlos Felipe Moisés, Noite Nula, Nankin Editorial, 2008.
Vivian Schlesinger postou no seu blog uma interessante crítica para esse poema.
http://vivianschlesinger.blogspot.com.br
Lembro que comprei-o por indicação do vendedor, quando perguntei se tinha o My Favorite Things. Não dispondo da obra que solicitei, recomendou-me o Ballads e deixou algumas faixas.
Até hoje é um dos meus álbuns preferidos. Embora eu goste mais do My Favorite Things, o Ballads é a melhor trilha sonora que existe para aquele copo de uísque bebido após o trabalho.
Belo poema, excelente disco. (Embora eu ainda prefira “A Love Supreme”.)