Preconceito com o trabalho de psicanálise
18/06/12 12:53Ainda há quem acredite que psicanálise é coisa de louco, para pessoas desajustadas, fracas ou incapazes de resolver seus problemas por conta própria, mas a análise é um tratamento recomendável para quem esteja passando por alguma turbulência e para quem necessita se conhecer melhor.
A psicanálise nasceu no fim do século XIX. Naquele tempo havia um grande número de pessoas que sofria de uma doença chamada histeria, um verdadeiro mistério para a Medicina, que não encontrava nenhum tratamento eficaz para o transtorno.
Imagine muitas mulheres e alguns homens sofressem com uma doença incapacitante que não tinha base na neurologia. Estranhas paralisias – sem motivo aparente nem agressão por agente externo. Anestesia de partes do corpo que não combinavam com os conhecimentos sobre a rede nervosa humana. Ataques que imitavam convulsões, mas que não tinham base na fisiologia. Desmaios, perdas de voz e até perda da possibilidade de falar a própria língua de origem, que era substituída por outra.
Sintomas que se pareciam com doenças, mas não eram exatamente doenças com base na biologia, embora esses sintomas confirmassem a expectativa da época sobre a enorme fragilidade da mulher.
Os médicos descobriram que era possível influenciar esses doentes por meio da hipnose. O hipnotizador provocava um estado de rebaixamento da consciência e sugeria comportamentos sui generis ao hipnotizado, que aceitava prontamente as ordens. Depois, quando acordado, ele não se lembrava do que havia feito. Essa era a prova de existência de outro estado da mente, um estado que produzia comportamentos e pensamentos, mas que se encontrava fora da vigília.
O inconsciente então se tornou um termo usado na medicina, deixando de ocupar apenas as paginas dos livros de filosofia e literatura. No início foi entendido como um grande causador de distúrbios. Mais tarde foi compreendido como um aspecto do funcionamento mental de todos nós.
Sofrimentos originados na mente, em sua parte inconsciente, levaram a um tratamento novo, onde a palavra funcionaria como elemento de ligação entre dois tipos de funcionamento, o consciente e o inconsciente. A cura pelas palavras para as dores da alma, poeticamente falando.
Os primeiros “doutores da alma” perceberam que os pacientes sentiam alívio ao falarem de suas angústias, medos e desejos, num ambiente protegido pelo segredo profissional.
A psicanálise nasceu da necessidade de dar expressão aos sentimentos sufocados. A cura dos sintomas está ligada a possibilidade de dar sentido e colocar em palavras as experiências vividas ou imaginadas. Se conhecer melhor.
Já, naquela época, existia quem fosse contra e quem fosse a favor. Hoje mais de 100 anos depois, ainda há quem resista a pensar que as psicoterapias podem e devem ser usadas por pessoas que sofrem ou que se encontram confusas.
O autoconhecimento conduz à cura. A psicanálise é uma forma de autoconhecimento inserida nos padrões e esquemas da modernidade. A modernidade tardia, ou modernidade líquida, como a intitula Bauman, criou incertezas acerca de todos os padrões. Escrevi um artigo, que se encontra no blog “Sat-Chit”, relacionando a psicanálise com a forma de auto-investigação preconizada pela Vedanta, objeto de estudo de filósofos como Schopenhauer e Nietzsche.
Adorei esse post. O verdadeiro poder da hipnose.