O sentimento de culpa e a responsabilidade
14/06/12 12:50Freud dizia que o sentimento de culpa era o maior problema do desenvolvimento da civilização, afirmava que o preço era caro: a perda da felicidade.
Vejamos: um dia você recebe a noticia de que um ente querido morreu e encasqueta que se lá estivesse poderia ter evitado esse desfecho. Sente-se péssimo e não se perdoa por não ter conseguido ser o salvador.
Quem nunca se sentiu culpado diante de uma situação frustrante ou fúnebre? E acreditou que seria possível evitá-la se tivesse feito tal ou tal coisa? Mas não o fez e foi tomado por esse sentimento atormentador, embora nem sempre totalmente consciente.
Quando essa sensação nos pega, não adianta argumentar que nada poderia ter sido feito, a não ser que tivesse bola de cristal, por que para o sentimento de culpa não há realidade possível, apenas o desejo onipotente de evitar o desfecho.
Onipotência é a contraparte desse sentimento. Ideias de grandeza geram a obrigação de ter que carregar uma permanente catástrofe dentro de si. Um super homem talvez pudesse evitar certas condições e salvar pessoas de desastres naturais.
A culpa quando vista dessa maneira não significa remorso, arrependimento nem pesar. Significa não aceitar as limitações inerentes da vida e da condição humana. O sentimento de culpa não leva a aceitação das perdas decorrentes de falhas e, principalmente, não gera aprendizagem a partir de erros. Gera punições graves, muitas vezes inconscientes – privando de bem estar e alegria, impedindo de usufruir os bons momentos da vida. Esse tipo de punição não muda a realidade, apenas perpetua um círculo vicioso que teve início na onipotência e na culpa.
Uma pessoa arrependida pode reparar uma situação e procura consertar erros, pois, se responsabiliza por seus atos e escolhas. Assume para si o direcionamento da própria vida. Deixa de ocupar uma posição de objeto e se torna sujeito de sua história.
Vivemos culpando os outros ou nos culpando quando frustrados, é raro observar quem chama para si a responsabilidade e se coloca como agente ativo da própria vida, arcando com acertos e erros. É preciso muita coragem para isso.
Será que, como leiga, posso discordar de uma psicanalista? Vou “ousar”…rs
O sentimneto de culpa não tem jeito, ele nos acompanhará para sempre porque há coisas que não tem como reparar. Arrependimento pode e deve existir, até porque evita a repetição de erros, mas não nos leva a sentirmos livre, leve e solto por estar arrependido. E o outro?
Passar a culpa para o outro é a forma mais fácil de nos livrarmos de alguma situação desastrosa. Reconhecer que errou não é questão de coragem, mas de desprendimento, de bom senso.
Será que Freud me entenderia? rs
Abraço
Sim, ele vai concordar com você! O arrependimento e a reparacao existem para quem se responsabiliza pelo que faz.
É preciso ser pontual e específico ao se analisar ou psicanalisar o sentimento de culpa… Na situação proposta pela Luciana, estamos diante de um fato do qual a pessoa teria poucas possibilidades de evitar a tragédia. Assim, nessa situação, a pessoa não cometeu um erro efetivamente. Por outro lado, é claro que, se eu errei, efetivamente, terei que me sentir culpado e tentarei de alguma forma reparar e aprender com o erro cometido.
MAS, ATUALMENTE, minha preocupação é MUITO diferente do que está proposto por você, Luciana, nesse tema de hoje.
Hoje em dia, a grande maioria das pessoas vive SEM QUALQUER sentimento de culpa. Cometem erros GRAVES e responsabilizam a terceiros ( o governo, a sociedade, o pai, a mãe, a falta de oportunidade). Matam, roubam, estupram, roubam, corrompem e não ficam nem um pouco arrependidos ou se sentem culpados. Esse comportamento COMUM nos dias de hoje, é que me preocupa.
será que nao é uma generalizacao? Eu vejo pessoas muito responsaveis ao lado de outras irresponsáveis e descomprometidas! mas nao sei dizer em termos numéricos…vivemos sob um regime de farsa, sim. Talvez seja isso, a farsa tem consequencias graves!