Mudanças na configuração familiar
05/06/12 11:50A vida familiar desde a Idade Média até o início do Renascimento foi caracterizada pela não separação entre o espaço público e o espaço privado. Os reis, por exemplo, não usufruíam de privacidade nem tinham esse direito, pois a vida do reino e dos súditos estava extremamente ligada à vida do soberano.
E embora houvesse aposentos separados para Reis e Rainhas, esses dormiam com damas de companhia e súditos de confiança, que faziam parte da corte. Seus filhos, os sucessores, eram criados por aias e tutores e viviam distante da corte, até que pudessem frequentá-la.
Para as famílias, nobres ou plebéias, quase não havia diferentes espaços de intimidade no interior da casa e o trânsito entre a casa e a rua era bastante aberto. No interior da casa os mesmos espaços eram utilizados para comer, dormir, trabalhar e brincar, sendo também mais difusas as diferenças e limites entre a infância e a vida adulta.
A família tradicional ou família nuclear é um fenômeno histórico ligado à ascensão da burguesia, a partir do séc. XVI, na Europa. É formada pelo casal heterossexual com papéis e funções sociais definidos e diferentes entre si.
O homem – provedor econômico, autoridade central – é o representante da família junto à sociedade. Seu local de atividade é a esfera pública.
Já a mulher é a responsável pelos afazeres domésticos e pela educação dos filhos – seu espaço principal de atividade e circulação é a esfera doméstica e privada.
Com estas atividades definidas e bem demarcadas, o casal passa a ser o responsável pela criação dos filhos, vivendo todos juntos – a família – numa unidade doméstica independente e separada do convívio social. Foi a burguesia quem desenvolveu a privacidade e a intimidade. Esse modelo nuclear de família foi implantado com tal força em nossa cultura que é ainda considerado o modelo ideal e natural de organização familiar.
A partir da segunda metade do século XX, assistimos a mudanças importantes nas configurações familiares tradicionais. Essas mudanças questionam a hegemonia da família nuclear e se devem ao encolhimento da Sociedade Patriarcal.
As mulheres entraram no mercado de trabalho e os homens perderam o lugar de poder supremo na Sociedade. A homossexualidade deixou de ser tabu e passou a ser reconhecida na esfera pública, embora a luta por Direitos ainda esteja engatinhando. O casamento não dura tanto quanto costumava durar. Separações, novos casamentos e outros arranjos familiares baseados em afetos, mais do que em laços de sangue são cada vez mais frequentes.
Novas configurações familiares geradas pelas transformações sociais permitem o convívio respeitoso entre os diversos modelos, liberando, por exemplo, casais homossexuais para cuidarem de filhos – no passado essa condição era mantida em segredo. Aliás, as pesquisas não apontam nenhum prejuízo psicológico nos filhos criados por casais com a mesma orientação sexual.
Hoje não mais importa se a família se organiza de uma forma tradicional, o que importa é se ela funciona, cuida e agrega seus membros.
Vc poderia mencionar quais pesquisas garantem que nao há prejuízos psicológicos em filhos criados por pais do mesmo sexo? Agradeço a atenção.
vou enviar amanha, no seu email, uma resenha que cita vários estudos e o título de um livro argentino. Me desculpe pela demora…
“Homossexualidade e adoção”.
Autora: Anna Paula Uziel,
Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2007
224 páginas.
“Homoparentalidades: nuevas familias” – Rotenberg, E., e Agrest Wainer, B. (org.)
Buenos Aires: Lugar editorial, 2007.
Passos, M. C. (2005). Homoparentalidade: uma entre outras formas de ser família. Psicol. clin., vol.17, n.2, p.31-40.
Uziel, Anna Paula (2007). Conjugalidades, parentalidadese identidades gays, lésbicas e travestis. Rio de Janeiro: Garamond.