Tédio, casa, comida e roupa lavada.
17/05/12 10:46Internauta: Sou gay, tenho 33 anos e uma relação estável há oito anos. É uma relação bacana, com seus problemas e questões corriqueiras, coisas do dia a dia, mas tenho curiosidade de viver sexualmente outras relações. Acho que nos seguramos no conforto, na amizade e no carinho talvez até no amor ainda. Mas, sinto falta de sexo e percebo que mais para ele do que para mim a satisfação na masturbação substitui o sexo entre nós.
Minha terapeuta disse que tenho que me abrir à possibilidade de viver isso, mas entro em contradição por considerar essa atitude traiçoeira e indicativa de falta de caráter. O conflito entre viver a sexualidade e ser sujo e mau-caráter me apavora, mexe muito comigo. Fugi da terapia, mas queria saber sua opinião.
Luciana: Toda a decisão implica em perda e coloca em risco a estabilidade conquistada. Por isso escolher pode se tornar uma tarefa difícil – principalmente quando não estamos preparados para lidar com separações e arrependimentos. Não há escolhas seguras, nunca sabemos com certeza quais os frutos que colheremos. É a sua pele que está em jogo e é você que amargará, caso a escolha se mostre errada – por isso é imprudente dar conselhos.
Casamento não costuma rimar com paixão nem com adrenalina à flor da pele – a não ser que seja uma relação perigosa. Pode rimar com segurança e conforto. Eis a sua encruzilhada. Sempre há a possibilidade de vida dupla, muitos costumam optar por esse terceiro caminho – sem culpa. Outros são mais certinhos e não conseguem andar nessa trilha. Mesmo essa terceira via é uma escolha sem garantia. Quem sabe você sai desse impasse e encontre uma quarta maneira de fazer a vida andar – menos penosa.
Não devemos subestimar o clamor do sexo nem o conforto do: casa, comida e roupa lavada. Essa calmaria pode remeter a uma sensação de morte e de tédio e a vida selvagem parece mais estimulante. No entanto, isso pode se inverter, pois paixão conjuga com loucura e perdição, enquanto que calmaria pode funcionar como um refúgio para a preservação da vida. Um tanto de morte está sempre nos perturbando. E para preservar a vida renunciamos a certos prazeres. Muitas vezes somos insaciáveis e como a voracidade pode nos colocar em perigo, arrumamos estratégias para nos conter.
Canzone
…nel fero loco ove tem corte Amore
Guido Cavalcanti
de nada vale amor que mero
ocupa verso e rima: se vero
não poupa: se raro preocupa
amor que vale arde e machuca
se é chama volteia como quero
se dura se trai in natura: erro
sei que não sei: amor mor se matura
e da própria substância se satura
requer já outro amor que cumpra
prometa mais ventura: pois nunca
mesmo a cumprirá: falho em candura
de amor se cai de suma altura
Antonio Fernando de Franceschi, In.: Sete suítes, São Paulo: Companhia da Letras, 2010.
Poema escolhido por Ana Tanis, psicóloga, bacharel em letras e curadora de poesia desse blog.
Dica: De olhos bem fechados, filme de Kubrick que expõe o conflito entre o casamento e a busca pela sexualidade levando ao perigo. O proibido, o estranho, o transgressivo versus o familiar de um casamento bem comportado.
Falou, falou e nao ajudou o cara.
Meu casamento é igual a comer todo dia arroz com feijão e bife, enjooa.
Arrependimento é ilusão, a dependência da outra pessoa nao existe, estamos sozinhos sempre. Então nada mais justo que nos aventurar a paixonites fervorosas, avassaladoras, marcantes… o resto é tédio.
Eu acho o seguinte:em cima do muro,não dá!A minha máe,depois de 40 anos de casamento,o meu pai aprontou e arrumou outra.A minha mãe tinha duas escolhas-ou continuava a “farsa” de lar-doce-lar ou jogava o meu pai fora.Ela ficou com a segunda opção:ppôs ele no lixo!
Da para assistir a FOX Sports por esse site http://www.tvhd.com.br
O “casamento” as vezes nos dá a sensação de uma morte lenta e sofrida. Gostei do texto.