Compreender não significa se submeter
17/04/12 11:09
Internauta: Gostaria de entender certas atitudes minhas em relação a uma mulher por quem estou apaixonado. Às vezes ela faz ou diz coisas com as quais não concordo, me chateio, fico magoado, no entanto não consigo dizer o que sinto. Prefiro não falar. Em outras situações, me desculpo quando nem caberiam desculpas. Parece que procuro evitar atrito ou discussão. Receio não distinguir uma discussão construtiva de uma nociva. Se faço algo que ela não gosta, ela não reclama, mas age como se estivéssemos num embate. Gosto dela e por duas vezes conversamos sobre namorar, mas ela não deu continuidade. Meu agir pode revelar compreensão ou condescendência e até covardia. Aos olhos dela pareço que a temo e ela deve se pergunta – como gostar de alguém que tem medo de mim? Não a temo, tenho medo de perdê-la e como medo rima com excesso, já a perdi. Sei que a linha que separa a compreensão da submissão é tênue, por isso quero sua interpretação para que eu possa utilizá-la como chave pra encontrar a porta de saída desse lugar insólito.
Luciana: Você me lembra um menininho querendo agradar a mãe – sem saber como. A paixão infantiliza. O medo de perder o amor de sua amada controla suas reações. Diante da amada você se torna submisso e se sente castrado. Ela é poderosa. A fragilidade de sua posição é conhecida, chamamos de inibição, que em geral é uma defesa contra fantasias de violência e transgressão. A questão é: como se tornar um homem?
Parece que você espera que essa mulher ou que a psicanalista te transforme em homem. Infelizmente esse é o tipo de trabalho intransferível. O analista acompanha o paciente no processo, mas não faz o trabalho por ele. Saiba que dá muito medo virar um sujeito responsável por si.
Acho importante pensar nas seguintes perguntas: todos os amores te castraram? O intenso desejo por essa mulher te apavora? Ela é fálica? Lembra sua mãe? Quais são as suas fantasias após conquista?
Não tenho respostas prontas nem a chave para sua libertação, mas uma boa análise poderá te levar a ser um homem para uma mulher.
Maior Abandonado
Eu tô perdido
Sem pai nem mãe
Bem na porta da tua casa
Eu tô pedindo
A tua mão
E um pouquinho do braço
Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos me interessam
Pequenas porções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam…
Eu tô pedindo
Que a tua mão
Me leve para qualquer lado
Só um pouquinho de proteção
A um maior abandonado
Teu corpo, com amor ou não
Raspas e restos me interessam
Me ame como a um irmão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam…
Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos me interessam
Pequenas poções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam…
Eu tô pedindo
Que a tua mão
Me leve para qualquer lado
Só um pouquinho de proteção
A um maior abandonado
Cazuza
Poema escolhido por Ana Tanis, psicóloga, bacharel em letras e curadora de poesia desse blog.
Dica: A Vênus de Peles (1870) de Leopold Ritter von Sacher-Masoch. O termo masoquismo deriva do nome desse autor graças ao romance citado acima. Um dos personagem atinge o gozo após ser surrado pelo amante da esposa. Ao expor a complexidade e o mistério da excitação sexual, o autor coloca em questao: o que os homens desejam?
Caro, acho que não há alternativa, você se mostra: fale o que pensa das e nas situações. A primeira vez pode sair engasgado, mas depois melhora. Se ela quiser será algo verdadeiro, se não, de maneira nenhuma você a teria.
É a vida!