Autismo IV - tratamento
03/04/12 10:15Dia Mundial da Conscientização do Autismo – 2 de abril.
Para falarmos sobre o Autismo – tratamento e família – convidei a psicanalista Mariângela Mendes de Almeida que trabalha há muitos anos com crianças autistas e suas famílias.
Luciana: O que esperar do tratamento?
Mariângela: O tratamento requer abordagem multiprofissional para melhor acompanhar a complexidade das reverberações do transtorno nas várias áreas de desenvolvimento do indivíduo com autismo e de sua família. Sabemos que uma evolução mais efetiva dos quadros é mais favorecida quando se procura avaliação e tratamento desde as primeiras preocupações, para que os pais possam receber acolhimento às suas dúvidas e continuar investindo na criança com uma rêde de suporte profissional. Mesmo enquanto bebê, ás vezes se verificam os sinais acima, que podem ser temporários (ou não), ou reações provisórias de afastamento diante de tentativas de adaptação à momentos de stress na família, ou desenvolvimento de aspectos de autosuficiência na criança que vão ganhando preponderância no paralelo com outras vias de contato interpessoal. Neste momento, vale a pena conversar com o Pediatra e poder contar com profissionais que possam acompanhar a família, conversando sobre ansiedades e dúvidas sobre o desenvolvimento das relações iniciais.
O tratamento visa promover o desenvolvimento emocional e a capacidade de estabelecer vínculos emocionais significativos, de acordo com o potencial da criança, tendo em vista seu quadro específico dentro do continuum autístico, e o envolvimento da família na sustentação de um acompanhamento profissional intensivo. O fortalecimento do desenvolvimento psíquico e relacional, através de espaços de intervenção psicanalítica, que incluam a análise da criança e contatos periódicos com os pais, poderá, em simultaneidade com outros tratamentos (por exemplo, de acordo com a necessidade de cada criança, fonoaudiológico, terapêutico ocupacional, musicoterápico, terapêutico grupal, em acompanhamento terapêutico – AT, psiquiátrico, e é claro no contexto da inclusão escolar), favorecer a evolução da criança quanto à sua integração familiar e social. A especificidade da intervenção psicanalítica é a de que esta estas evoluções possam ocorrer fazendo sentido afetivo para a criança, no contexto de seus vínculos significativos com seu entorno relacional.
No Centro de Atendimento Psicanalítico da SBPSP, e no Núcleo de Atendimento a Pais e Bebês (Pediatria UNIFESP) muitas famílias nos procuram com dificuldades relativas à alimentação e sono de crianças e entre estas (felizmente não a maioria), algumas estão se deparando com angústias relacionadas à dificuldades do vínculo com uma criança em risco de transtornos autísticos. Uma intervenção inicial e posterior encaminhamento, preferencialmente, intensivo centrado na promoção do desenvolvimento emocional e da capacidade de estabelecer vínculos e comunicação com sentido afetivo é essencial e pode auxiliar e embasar a integração das outras habilidades da criança ao longo da infância (articulação verbal, habilidades psicopedagógicas, habilidades de vida diária, adequação dos comportamentos sociais).
Luciana: Como os pais recebem o diagnóstico?
Mariângela: O diagnóstico é melhor recebido quando nomeia inquietações que usualmente os pais já percebem de alguma forma como sensações de estranheza, falta de sintonia com o filho, ansiedade frente a não saber ou entender o que se passa com a criança, ansiedade ou constrangimento no convívio familiar ou social. Sabemos que isto já ocorre a nível doméstico ou no consultório do Pediatra, mas muitas vezes há uma preocupação em se estigmatizar a criança ou antecipar um destino que ainda não se anunciou claramente. Entretanto, na clínica do autismo, o tempo, a urgência, o aproveitamento da plasticidade cerebral, com padrões ainda menos cristalizados no início do desenvolvimento, e o apoio aos pais para investirem nas vias de desenvolvimento saudável, é essencial. Quanto mais os pais e profissionais se vejam reciprocamente como aliados no convívio com estados que muitas vezes evocam o desinvestimento emocional, melhor a condição de favorecimento do desenvolvimento da criança.
Luciana: Quais as causas desse transtorno?
Mariângela: Muito se pesquisa e ainda há muito a se discutir quanto às causas do autismo, em diversas áreas do conhecimento médico e psico-social. Sem se apontar uma causalidade prioritária única e específica, que muitos buscaram por exemplo nas pesquisas neuroanatômicas e investigações genéticas iniciais, o que se verifica atualmente é uma tendência à compreensão multifatorial dos transtornos autísticos envolvendo aspectos genéticos (porém considerando a idéia da manifestação ou não de tendências de acordo com fatores internos ou externos/ambientais), neuroquímicos, metabólicos, psicológicos, familiares e característicos das modalidades de vínculo, em complexa interface e contínua interação e retroalimentação, em que um fator influencia e modifica a via de manifestação de outros, ao mesmo tempo em que é por eles modificado.
Luciana: Como se comportam os autistas adultos
Mariângela: Novamente dependendo da situação do caso no espectro/continuum autístico( mais grave ou menos grave), os autistas, principalmente se tratados intensivamente desde cedo (idealmente desde os primeiros sinais enquanto bebês) podem evoluir para uma integração e desenvolvimento fora da classificação dos transtornos globais ou, ainda dentro do espectro, mas com características de personalidade que poderiam ser consideradas muito próximas do elenco de aspectos da diversidade humana, sem que isso interfira na possibilidade de levar uma vida com estudo, trabalho, autonomia, diversão, convívio familiar e social. Alguns casos, em geral os que apresentam alguma limitação de ordem orgânica, ou que foram submetidos a tratamento tardiamente, quando algumas possibilidades relacionadas à plasticidade cerebral não puderam ser aproveitadas, podem permanecer muito prejudicados, dependentes e apresentar condutas muito próximas da deficiência mental, com intensificação das estereotipias e restrição no contato social, mesmo que algumas peculiaridades se expressem como “ilhas de habilidades, que podem surpreender.
Na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo há profissionais com experiência no acompanhamento destes casos e no Centro de Atendimento Psicanalítico da SBPSP, as famílias podem ser recebidas desde as primeiras preocupações com o desenvolvimento do bebê/criança ou dos vínculos para avaliação, intervenção e tratamento.
Centro de Atendimento Psicanalítico: 3661 9822
Núcleo de Atendimento a Pais e Bebês: 5576 4984