Autismo II - família e tratamento
28/03/12 10:17
Dia Mundial da Conscientização do Autismo – 2 de abril.
Para falarmos sobre o autismo, as famílias e o tratamento convidei a fonoaudióloga, Deborah Rolim, que trabalha há muitos anos com problemas de linguagem, com crianças autistas e com suas famílias.
Luciana: Como ficam as famílias ao receberem a confirmação do diagnóstico de autismo?
Deborah: O autismo intriga e angustia as famílias nas quais se impõe, pois a pessoa portadora de autismo, geralmente, tem uma aparência harmoniosa e ao mesmo tempo um perfil irregular de desenvolvimento, com bom funcionamento em algumas áreas enquanto outras se encontram bastante defasada.
Os pais tem uma sensação inicial ruim ao perceberem que algo não vai bem com o filho, mas não sabem dizer nem compreender o que é.Quando recebem a confirmação do diagnóstico passam a saber que aquele algo errado”que percebiam junto a tantas outras integridades em seu filho ou filha, é um sério comprometimento individual.
Algumas famílias se agarram na fé, outras na ciência, outras tentam fugir a qualquer custo, e a maioria passa por todas essas formas de enfrentamento da situação.
Luciana: Como tratar? E em qual idade devemos iniciar o tratamento?
Deborah: O tratamento deve ser iniciado o quanto antes, isto é, assim que os primeiros sinais forem percebidos. O ideal é que seja realizado um trabalho individualizado em função das características de cada criança e conduzido por uma equipe multiprofissional composta por psiquiatra infantil, psicólogo, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional.
Em bebês até os dezoito meses todo trabalho deve ser direcionado para maximizar a qualidade das respostas oferecidas pelo ambiente em que a criança está inserida. Os membros da família devem ser orientados para transformar as situações rotineiras da criança em atividades motivadoras que favoreçam experiências positivas e excitantes com a comunicação e a interação social. As interações que acontecem nas brincadeiras sociais (ex: cadê achou, serra serra serrador…) feitas comumente com as crianças, são oportunidades que favorecem a aprendizagem por serem prazerosas e divertidas.
As oportunidades naturais de aprendizagem oferecidas pelo ambiente devem ser o foco da intervenção. Nestas oportunidades, devemos estimular as iniciativas da criança, a exploração sensório motora dos brinquedos, o desenvolvimento da intenção comunicativa através do uso da comunicação não verbal (gestos como apontar, dar tchau, mandar beijo…) e a atenção conjunta.
Em crianças acima dos vinte quatro meses o trabalho deve procurar desenvolver o mais cedo possível a autonomia e independência, a comunicação intencional, a imitação, troca de turnos (minha vez a sua vez), flexibilização das tendências repetitivas, habilidades cognitivas e mais tarde as acadêmicas. Ao mesmo tempo é importante trabalhar para a redução dos problemas de comportamento (agressividade, impulsividade), utilizar tratamento farmacológico quando necessário e prestar assessoria à família e a escola.
Na área fonoaudiológica o trabalho inicial deve ser dirigido para os pais e cuidadores para que melhorem sua capacidade de observação e aprendam a reconhecer as sutilezas do jogo comunicativo estabelecido pela criança. Ao receberem informações contextualizadas os pais aumentam seu envolvimento com a criança e conseguem incorporar com naturalidade as estratégias aprendidas, melhorando a troca comunicativa e recuperando muito da espontaneidade perdida.
Luciana: O que as famílias que se deparam com a questão do autismo devem buscar?
Deborah: As famílias que estão nesta situação devem inicialmente conhecer a questão do autismo, informar-se ao máximo e entender o diagnóstico. O segundo passo é permitir o sofrimento, pois é natural que o momento do diagnóstico seja doloroso para os pais uma vez que estão perdendo parte dos sonhos e planos que fizeram para seu filho. Admitir a questão do autismo e buscar apoio é um outro aspecto fundamental para que as famílias consigam dar a volta por cima e seguir em frente. Saber exatamente quais são os objetivos de curto prazo para seu filho também é um ponto muito importante. Ë através deles que os pais poderão avaliar se intervenção escolhida é o que mais atende o que esperam. Por fim evitem todos que prometerem curas milagrosas e todos os profissionais desinformados e desatualizados.
Luciana: Como se comportam os autistas adultos?
Deborah: O comportamento dos autistas adultos está diretamente relacionado ao grau do comprometimento que apresentam. Autistas de alto funcionamento, bem trabalhados, desenvolvem a linguagem oral com algumas limitações relacionadas ao uso funcional da lmesma. Muitos frequentam escolas regulares que oferecem currículos adaptados. A grande maioria termina o ensino médio e uma minoria termina o superior. O fato de desenvolverem habilidades específicas favorece sua colocação no mercado de trabalho (alguns são excelentes para cálculos, outros são ótimos desenhistas).
Já os autistas de baixo funcionamento muitas vezes não desenvolvem a linguagem oral e passam a utilizar a comunicação alternativa (uso de figuras). Além disso, pelo fato da função receptiva estar muito comprometida e têm dificuldade para compreender ordens e executar comandos. Normalmente tem problemas de comportamento, ou são excessivamente passivos ou agressivos. As perspectivas para este casos são limitadas.