Autismo I - diagnóstico precoce
27/03/12 10:14
Dia Mundial da Conscientização do Autismo – 2 de abril.
Para falarmos sobre os sinais que levam a detecção precoce de problemas de desenvolvimento convidei a fonoaudióloga, Deborah Rolim, que trabalha há muitos anos com problemas de linguagem, com crianças autistas e com suas famílias.
Luciana: Há sinais claros para detectarmos o transtorno global de desenvolvimento?
Deborah: Sim. O transtorno do espectro autista é caracterizado por comprometimentos nas seguintes áreas:
1- Comunicação: dificuldade para utilizar com sentido todos os aspectos da comunicação verbal (fala, prosódia) e não verbal (gestos,expressões faciais, linguagem corporal). Dentro da grande variação possível na severidade do autismo podemos encontrar uma criança sem linguagem verbal e com dificuldade de comunicação por qualquer outra via, como podemos igualmente, encontrar crianças que apresentam linguagem verbal, porém esta é repetitiva e muitas vezes sem função comunicativa.
2- Sociabilização: dificuldade em relacionar-se com os outros, incapacidade de compartilhar sentimentos, gostos e emoções. Esta dificuldade faz com que o indivíduo com autismo tenha uma consciência pobre do outro, é responsável , em muitos casos, pela falta ou diminuição da capacidade de imitar, que é um dos pré requisitos cruciais para o aprendizado, e também pela dificuldade de se colocar no lugar do outro e compreender a partir da perspectiva do outro.
3- Dificuldade no uso da imaginação – se caracteriza por rigidez e inflexibilidade e se estende às áreas do pensamento, linguagem e comportamento.Isto pode ser exemplificado por comportamentos obsessivos e ritualísticos,compreensão literal da linguagem,falta de aceitação das mudanças e dificuldade em processos criativos. Esta dificuldade pode ser percebida por uma forma de brincar desprovida de criatividade e pela exploração peculiar de objetos e brinquedos. Exemplificando, a criança pode ficar horas observando o movimento das rodas dos carrinhos, ou explorando a textura de certos brinquedos. Além destas áreas que correspondem as de maior comprometimento nas crianças que estão dentro do espectro autista, também observamos que muitas destas crianças apresentam hipersensibilidade a estímulos auditivos (ficam extremamente irritadas com barulhos de aspiradores de pó, liquidificadores,…) e visuais e hiposensibilidade a estímulos sensitivos (precisam se movimentar muito para sentir prazer na atividade).
Luciana: Em qual idade esses sinais surgem?
Deborah: Estes sinais aparecem desde muito cedo, antes do primeiro ano de vida. Entretanto como são sinais ligados ao comportamento e comunicação muitas vezes passam despercebidos, pois nesta fase as atenções dos familiares estão direcionadas para o desenvolvimento motor da criança.
A excessiva calma e sonolência da criança ou então choro sem consolo durante prolongados períodos de tempo, falta de contato ocular, resistência ao toque, dificuldade em se moldar ao colo, pouca reação à fala dos pais, dificuldade em mostrar emoções através das expressões faciais, indiferença à estimulação de pessoas e exploração peculiar de objetos e brinquedos são alguns comportamentos observados por pais de crianças que tiveram posteriormente o diagnóstico de autismo. Desta forma, qualquer sinal que indique pouca disponibilidade da criança para interagir com os objetos e o outro e se comunicar, merece ser observado com atenção por pais e pediatras, pois quanto antes for feito o diagnóstico, mais fácil e eficiente é o tratamento e, conseqüentemente, também a melhora.
Em alguns países da Europa como França, Inglaterra e Itália os pediatras são preparados para observar os sinais que possam indicar algum comprometimento desde os primeiros meses de vida da criança. Nos Estados Unidos a Academia Americana de Pediatria recomenda que o “screening” para detecção do autismo seja feito a partir dos dezoito meses na rotina das consultas pediátricas.
Luciana: As causas desse transtorno grave são conhecidas?
Deborah: Desde que o autismo foi descrito, um sem-número de estudo já foi feito sobre a desordem, mas ela ainda é considerada uma das mais enigmáticas da ciência. Muitas hipóteses e teorias foram levantadas para explicá-la, e um número igual delas já foi derrubado. Atualmente acredita-se que a origem do autismo esteja em anormalidades em alguma parte do cérebro ainda não definida de forma conclusiva e, provavelmente, de origem genética. Além disso, admite-se que possa ser causado por problemas relacionados a fatos ocorridos durante a gestação.
Já que as causas não são totalmente conhecidas, o que pode ser recomendado em termos de prevenção do autismo são cuidados gerais a todas as gestantes, especialmente cuidados com a ingestão de produtos químicos, tais com remédios, álcool ou fumo.
Luciana: Podemos afirmar que hoje se conhece tipos diferentes de autismo?
Deborah: As desordens do espectro autista englobam uma grande variedade de comportamentos e problemas sob o ponto de vista clínico. Grosso modo e levando em conta as variações individuas podemos dividir em três tipos:
1- Síndrome de Asperger (autistas de alto funcionamento)- É considerada um forma mais branda de autismo. Apesar dos portadores apresentarem dificuldades de interação social, de comunicação, interesses limitados e comportamentos repetitivos, as capacidades cognitivas estão relativamente preservadas. Alguns até mesmo apresentam QI acima da média.
2- Autismo “clássico” – Os portadores deste tipo de autismo tem comprometimento das capacidades cognitivas além da dificuldade de interação social, interesses limitados, movimentos repetitivos e comunicação.
3- Autismo do tipo regressivo – corresponde aquelas crianças que se desenvolveram normalmente até aproximadamente um ano e meio, e em seguida, até os três anos, sofrem regressão da linguagem e do comportamento, tornando-se autistas.
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