Não-Lugares e Não-Sujeitos
19/03/12 18:37
Ruas, aeroportos, rodoviárias, terminais de transporte são considerados Não-lugares. São espaços de trânsito, de passagem, de pouco investimento afetivo, mesmo sendo os espaços mais habitados na sociedade pós-moderna. Neles a vida transcorre sem sentimento de pertinência, onde encontramos pessoas “escondidas” ou “blindadas” – pelo uso de fones de ouvido ou pelas supostas leituras de livros ou revistas. Elas parecem buscar proteção no uso desses artefatos.
Encontramos pessoas dormindo, olhando a paisagem, mesmo que essa seja inexistente. É como se estivessem em outro lugar e evitassem, ativamente, se sentir presentes onde estão. Evitam o contato com outras pessoas, afinal, sempre há o risco de violência: um simples desconhecido pode ser considerado ameaça. Essa sensação de ameaça e os mecanismos de proteção contra o medo justificam uma transformação temporária do sujeito em zumbi. Os Não-lugares geram Não-sujeitos.
Quando estamos nos não-lugares e nessa situação de “zumbi” prevalece a lógica das grandes cidades. Uma lógica que transcende as categorias de espaço e de tempo. É a lógica da virtualidade.
Numa cidade como São Paulo é comum ver pessoas passarem até 4 horas presas nos meios de transporte. Você já pensou como se sentiria se passasse 4 horas por dia preso num elevador lotado de desconhecidos?
Quando estamos num carro, nos sentimos menos vulneráveis do que nos meios de transporte público. É mais confortável ficar preso dentro do próprio veículo, mesmo que seja por muitas horas seguidas, no entanto, a lógica do não–sujeito permanece a mesma. Dentro de um carro estamos num não-lugar, pois simplesmente passamos pela cidade, como se essa fosse uma cidade fantasma.
Depois de tantas horas por dia vivendo como zumbi, o que mais você aguentaria fazer?
Falando sério: passear no cemitério.
Um local de não lugares e ao mesmo tempo repleto de espaços para onde todos iremos, mas não ficaremos. Meio louco, não?
Vc ja viu o filme sobre cemitérios do Mazagao? Aqui estamos por vós esperamos…o título é mais ou menos esse. Se nao me engano foi tirado de um portigo de cemitério de Ubatuba. Um belo passeio.
Luciana, esse assunto me toca de maneira particular. Nasci num microcosmo, o subúrbio operário em Santo André. O que chamo de meu lastro afetivo formou-se lá. Porém, toda a minha vida de estudante e vida profissional realizaram-se em São Paulo. Nunca dirigi um carro. De carro só andei com a minha mulher ou meu filho. Durante quase trinta anos (até meados dos anos noventa) fui um andarilho ou viajante de conduções públicas. Nunca foi confortável (nem de carro é). Conheci todos os espaços da grande cidade, vi e senti todo drama humano assim. O livro que escrevi é uma longa narrativa dessa viagem.Todo o meu imaginário formou-se disso e sei que se não fosse assim eu não seria a mesma pessoa.
Edgard
Vc ja viu um filme chamado De Passagem do jovem diretor Ricardo Elias? Gostei muito, influenciou minha maneira de pensar a cidade.
Luciana, não vi esse filme. Vou procurá-lo.
Edgard