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por Luciana Saddi

Perfil Luciana Saddi é psicanalista e escritora

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Uma breve Nota sobre o Artista I

Por Luciana Saddi
28/02/12 12:21

 

Edgard Rodrigues de Souza é um internauta querido (escritor e artista plástico) que sempre colabora com esse blog. Seus comentários são valiosos. Ele me enviou o seguinte texto:

 

Uma breve Nota sobre o Artista — para Luciana Saddi

 

Como o meu perfil psicológico indicou precocemente a inclinação para as artes, desde cedo passei a ouvir a palavra dom. Mais adiante chegou a palavra talento; por último, a palavra intuição tornou-se frequente, quando eu já vivia em plena atividade artística, atividade a que nunca deixei independente de reflexão. Não demorei para concluir que dom e talento não implicavam mérito, mas eram atributos recebidos, não distribuídos a todas as pessoas. Das três palavras a de maior força, extensão e mistério é o dom, que aparece tanto no âmbito da arte como da religião. Em arte, muitas vezes, dom é erroneamente associado à facilidade que algumas pessoas têm para desenhar, cantar, tocar algum instrumento, escrever, interpretar. Na verdade, ele é a condição a que estão submetidas algumas pessoas, abertas ao terror, à beleza, mistério e majestade  do Universo, possuindo elas uma visão que, do ponto de vista da psicologia, pode-se chamar de desreprimida. O único (às vezes devastador) mérito associado ao dom é a fidelidade: quem o recebe sabe que tem uma obrigação visceral de mantê-lo, cultivá-lo, suportá-lo e, se conseguir, expandí-lo. Na arte a maneira consagrada dessa expansão é a realização da obra. Na obra, o dom recebido é devolvido à sociedade, aos outros seres; em uma forma expressiva, compreensível a todos, de tal maneira, que mesmo o terror referido acima, torna-se suportável de ser contemplado. Essa é a forma individual, humana, de devolver o dom à fonte transcendente de onde ele foi enviado e por isso, o passado da arte confunde-se com o da religião.

 

O talento está em um plano inferior: é mera questão de sorte ter talento para qualquer atividade; no caso da arte pode provocar admiração, mas não leva necessariamente a grandes realizações; é virtuosismo que se aplaude e esquece e no  grande artista o talento está presente como um atributo óbvio.

 

Por último, a intuição, que norteia a atividade artística e que já foi definida como uma “faculdade misteriosa”; em arte, é o que leva o artista a tomar o rumo certo, usar a técnica certa, em suma, fazer o certo. Mas a intuição não nos responde infalivelmente: ilumina e apaga, chega e desaparece; vivemos em sua expectativa, mas ela é caprichosa, parece emanar de algum lugar a que a nossa consciência nunca chega inteiramente e é por isso, que adquirimos conhecimentos que depois dispensamos; e uma solução que serve num momento não serve em outro.

 

O âmbito em que a arte é analisada pela psicologia pode ser chamado, clinicamente, de âmbito da neurose; Ernest Becker disse que “a arte é a licença que a sociedade dá a alguns indivíduos, de serem obcecados” referindo-se à busca obsessiva, ao perfeccionismo, inerente ao artista; e classifica adiante o neurótico comum como o artista “manqué”, isto é, o indivíduo que tem a mesma percepção e apreensão da realidade, desreprimida; mas desprovido de capacidade, de estrutura psicológica e talento para reelaborar essa percepção.

 

Finalmente, para não deificar o artista, é bom lembrar o que disse alguém: “o caminho da criatividade artística passa pertinho do hospício, às vezes, dá uma volta e retorna ali”.

 

Edgard

 

 

 

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