Dispersão e depressão
15/02/12 09:43
Internauta: Percebo que não alcanço o que almejo e não tomo uma atitude, me sinto travada. Sou tímida, carente, não gosto de chamar atenção, sigo regras. Quando não gosto de alguém, me fecho. Quando me interesso, fico tão empolgada que as pessoas se afastam.
Estou sempre pilhada, não consigo ficar comigo mesma. Tenho vontade de fugir, de arrancar do peito um sentimento horrível. Se vou para a balada, fico triste, encolhida. Não tenho motivo para me animar e me sinto fracassada. O desejo de vencer na vida e de superar esses obstáculos é muito grande, mas não sei lutar por mim mesma.
Namorei durante 10 anos, mas me parece que foi uma perda de identidade. Preciso ter alguém para despertar em mim a força para prosseguir. É mais fácil lutar pelo outro, fazer as coisas pelo outro, do que por mim mesma, é triste.
Luciana: Seu email é um tanto confuso – o que demonstra o estado de espírito que você se encontra. Depressão e dispersão me parecem ser o que está sentindo nesse momento.
Enquanto editava sua pergunta reparei na quantidade enorme de “me” que você usou. Isso pode indicar dificuldade em estruturar-se. Há uma enorme distância entre desejar e obter – a estruturação da personalidade pode facilitar ou dificultar as realizações. Não basta querer, é preciso uma série de ações para que algo saia do plano abstrato e se torne concreto. Muitas vezes há uma divisão interna, que impede um real investimento em alguma vontade. Outras vezes o medo de errar pode levar à paralisia. Também devemos considerar que há pessoas que não ultrapassam o pensamento mágico e, portanto, não compreendem a diferença entre fantasia e realidade. Acreditam que basta fantasiar para que algo aconteça.
A nossa força reside em quantidade de energia colocada num empreendimento, concatenada com a capacidade de organizar ações e estratégias para realizá-lo. Se você está se sentindo sem energia, fraca, medrosa e triste é necessário buscar tratamento. Quanto mais fortalecida estiver menos difícil será superar os obstáculos e enfrentar as frustrações.
Um instante
Aqui me tenho
como não me conheço
nem me quis
sem começo
nem fim
aqui me tenho
sem mim
nada lembro
nem sei
à luz presente
sou apenas um bicho
transparente
Ferreira Gullar, In.: Muitas Vozes, 1999.
Poema escolhido por Ana Tanis, psicóloga, bacharel em letras e curadora de poesia desse blog.
Dica: Os três porquinhos. Esse conto de fadas exemplifica a questão da força do ego. O porquinho mais frágil era o mais preguiçoso – levava a vida na flauta – construiu uma casa de palha, que foi destruída num instante. Mas, a preguiça não deve ser encarada moralmente, ela é fruto das dificuldades do amadurecimento.
A confusão nasce por falta de um ideal. Então, arrisco: porque não entrar para um convento para testar a personalidade? Às vezes o que o mundo não dá, a clausura pode aclarar a mente.
Onesio, a clausura pode confundir ainda mais uma mente já confusa. A fé que lhe serve de amparo, não é necessariamente um “remédio” para todos os casos.